quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mozarildo denuncia irregularidades na Funasa

"Roubar na área de saúde deveria ser um crime inafiançável", disse o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), ao discursar em Plenário e denunciar irregularidades e desvios de recursos na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ele comentou a matéria "Podridão no ar. Funasa: um atoleiro de irregularidades", publicada pelo jornal Monte Roraima.

Mozarildo Cavalcanti lembrou que a Funasa já foi alvo de duas operações da Polícia Federal (Operação Metástase e Operação Anopheles), que culminaram na prisão de diversas pessoas, entre elas dois coordenadores da entidade em Roraima, Marcelo Lopes e Ramiro Teixeira.

- Dois coordenadores da Funasa lá de Roraima foram presos e um deles, por incrível que pareça, voltou ao cargo. Preso, Marcelo Lopes voltou ao cargo - disse.

Mozarildo denunciou que ambos os coordenadores foram indicados ao cargo pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). Mozarildo disse ainda que até o controlador-geral da União, Jorge Hage, e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, já denunciaram a existência de corrupção na Funasa.

Em 2007, durante a Operação Mestástase da PF, acrescentou o senador, foi desarticulada quadrilha de 25 pessoas que teriam desviado cerca de R$ 34 milhões da instituição.

- Essa Funasa deveria ser fechada, e os seus funcionários bem aproveitados. É um órgão completamente anacrônico e corrupto. No meu estado, não posso conceber como pode continuar na direção uma pessoa que já foi até presa. É uma afronta aos funcionários sérios daquela instituição que, muitas vezes, são obrigados a ser coniventes, porque recebem ordens superiores para dar esse ou aquele parecer em projetos que são fraudulentos - afirmou.

Mozarildo pediu providências do Ministério Público Federal sobre a situação, caso contrário, disse, será necessária uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funasa. O senador pediu também que seu discurso seja enviado à Procuradoria Geral da República.

Em aparte, o senador Augusto Botelho (PT-RR) elogiou o pronunciamento do colega e disse que já foram detectados na Funasa sinais de superfaturamento e obras inacabadas.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ainda sobre o bendito diploma (deproma)

O texto a seguir foi escrito pela acadêmica do 5º semestre de Comunicação Social - habilitação em Jornalismo - UFRR, Sâmia Araújo. Comento a seguir:

"Carta ao meu queridíssimo Gilmar

"Há um ano atrás (sic) encontrei com uma amiga da minha mãe, daquelas que me viu crescer e tudo mais. Depois de frases do tipo "como você cresceu!" ela me olhou e disse:

"- O que você anda fazendo Sâmia? Lembro de você pequenininha chegando da escola e parando na frente da televisão pra assistir jornal. Eu achava tão engraçado. A única criança que eu conheci que não piscava os olhos diante do jornal.

"Minha mãe logo disparou:

"- Pergunta o que ela faz hoje.

"E eu cheia de orgulho disse: JORNALISMO.

"Desde criança sou apaixonada pelo Jornalismo. Sabe, eu ficava vidrada em como aquelas pessoas na televisão eram tão rápidas e criticas... A informação chegava em minutos na minha casa, na casa da minha vizinha, da minha avó e de tantas e tantas pessoas.

"Eu olhava e pensava que um dia eu iria estar ali exercendo o mesmo papel. Eu queria transmitir a população as informações mais importante, formando opinião, fazendo as pessoas discutirem sobre o que acontecia ao seu redor, fazendo com que elas questionassem o porque daquilo.

"A curiosidade em saber da notícia, a empolgação de conseguir um furo, a tristeza quando a pauta cai, a tolerância em algumas situações, a alegria e o reconhecimento de ser vista como alguém que preza e transmite a verdade... Nossa! hoje eu sei que foi isso que me impulsionou.

"Quando estava acabando o Ensino Médio resolvi que queria testar outras coisas e fiz vários vestibulares : Serviço Social, Direito, Letras e fui aprovada em todos, mas não era nada do que eu queria. Eu tentei fugir mas o amor falou mais alto. No entanto, hoje o que fala mais alto em mim é a indignação.

"O Supremo Tribunal votou e pela lei, já é valido. Caiu a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo e junto com ela caiu toda a esperança de uma imprensa mais profissional, mais ética e mais justa.

"Se eu pudesse pediria desculpas pessoalmente a mãe do queridíssimo presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, pois só Deus sabe o quanto a xinguei nessas últimas horas.

"Como posso admitir que o presidente do STF diga que um jornalista não pode trazer riscos à coletividade, nem a terceiros? Pois bem Presidente isso quer dizer que qualquer um pode sair falando o que quiser por ai e se intitular "jornalista". E eu que ainda estou cursando meu quinto semestre, agora sou jornalista e escrevo ao povo pra mostrar a minha indignação para com o senhor e tantos outros que julgam a quem mostra o povo a verdade, julgam quem se esforça pra levar a verdadeira informação, informação essa precisa e imparcial; julga quem leva a informação ao povo.

"Quero lhe dizer que um cozinheiro pode matar alguém se misturar alguns ingredientes errados, sabia? Um jornalista tem o "poder" de degradar a imagem de alguém ou de um órgão. No entanto, não estou dizendo que caiba ao jornalista fazer isso, ao contrário, cabe ao jornalista ser imparcial... Porém isso nós aprendemos na academia e como a formação não é mais obrigatória quem sabe o que pode vir por ai, não é?

"Nesse momento a certeza que tenho é que, mais do que nunca, quero ter meu diploma em mãos e com ele fazer a diferença. Talvez eu faça o curso de Direito, mas... pra que, né? Se pra julgar só é necessário ter discernimento não é? Pensando bem se eu conhecer as leis e frequentar a academia eu terei embasamento pra falar sobre o conteúdo. É, fiquei meio pedida agora, mas quem sabe agora eu abra um restaurante, não é?"


Comento:

O texto da minha querida acadêmica, que ainda não se considera mas já é jornalista sim, mostra o quanto a academia não ensina coisa nenhuma quando o assunto é prática da profissão.

Alguns solecismos são gritantes em seu texto. Argumentações não muito claras também.

Ela diz:

"... cabe ao jornalista ser imparcial... Porém (CADÊ A VÍRGULA, CARA ACADÊMICA?)isso nós aprendemos na academia e como a formação não é mais obrigatória quem sabe o que pode vir por ai (CADÊ O ACENTO AGUDO NO I DE AÍ, CARA ACADÊMICA?), não é?"

Desde quando se aprende na academia a ser imparcial ou ético? Isso tudo é questão de caráter. Ou você aprende de berço, ou jamais será provido de tais atributos.

"... Qualquer um pode sair falando o que quiser por aí e se intitular 'jornalista'".

Não, minha cara! Jornalista não sai por aí dizendo o que quer. Acima dele estão as leis, às quais qualquer cidadão deve se submeter. Quem fizer ou disser o que quiser responde na medida da lei (ou deveria responder).

Histórias de Redação repercute em Brasília

O livro Histórias de Redação repercute de forma positiva em Brasília. O escritor e genealogista Tarcísio Medeiros, membro da Academia Brasiliense de Letras, leu a matéria do amigo Aroldo Pinheiro, no Fontebrasil, e encomendou-lhe um exemplar, que lhe será enviado.

Dos 150 exemplares impressos inicialmente, já me restam apenas 12. Mandei imprimir mais 100 exemplares, infelizmente com as mesmas impropriedades alertadas pelo Aroldo, o que não lhe tira o brilhantismo (modéstia passou longe, né? Tem nada não. O blog é meu e tasco o que quiser). A gráfica ficou de me entregar a nova leva já na tarde desta sexta-feira.

A urgência se dá em razão da exposição que está sendo preparada (noite de autógrafo) pela drogaria e livraria Megafarma, em comemoração dos 15 anos daquele estabelecimento, localizado na avenida Capitão Júlio Bezerra, São Francisco.

Comigo, estarão expondo também suas obras os escritores Guilherme Vieira e Jáder Cabral Costa, além de fotografias de Alfredo de Paula Maia. O evento será realizado na noite deste sábado, 27, nos altos da Megafarma.

E-mail recebido

O leitor José Nery Netto escreveu e-mail abaixo, concordando com a desnecessariedade do registro de jornalista para o exercício da profissão:

"E o que dizer de escritores e autores de novelas, pra citar dois segmentos de profissionais que formam opinião pública, inclusive exercendo forte impacto sobre jornais e jornalistas? Deveriam exigir deles registro de Escritor Profissional e Noveleiro Profissional? Esses profissionais seriam capazes de escrever uma reportagem, mesmo sem portar diploma de jornalista. Mas raros jornalistas poderiam fazer o que eles fazem..."

Concordo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Calma, Bete!

O fim da exigência do diploma de nível superior em Jornalismo para o exercício da profissão segue uma tendência mundial. A decisão não deve ser vista como um bicho papão, e sim com naturalidade.

O jornalista José Marques de Mello, fundador da Escola de Comunicação e Artes da USP e um dos mais festejados teóricos em comunicação do País, não vê na medida qualquer indício que possa afetar os Cursos de Comunicação. Muito pelo contrário. “As faculdades de Jornalismo crescem em todo o mundo”.

O professor Carlos Costa, coordenador da Faculdade Cásper Líbero (SP), diz que “é preciso entender que não foi o diploma que caiu, e sim a exigência dele”. E cita o caso da profissão de publicitário. Para seu exercício, não se exige diploma de nível superior, mas os cursos em todo o País continuam bastante procurados.

O Ministério do Trabalho e Emprego mantém um cadastro atualizado de 79.923 jornalistas profissionais em todo o País. Desses, 8.486 não têm diploma. No Brasil existem 450 Cursos de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo reconhecidos pelo Ministério da Educação.

De maçã e liberdade de expressão

Antes de continuar lendo aqui, leia o post abaixo. Já?

Bom, alguém me disse que sou incoerente por ter uma postura contrária ao diploma, enquanto que me submeti aos quatro anos (que para mim foram seis) de faculdade, só para poder exibir o tal canudo.

Explico: não acho mesmo necessário um diploma de jornalista para ser um de fato.

Se alguém quiser batalhar para exibi-lo, tudo certo. Não há o que argumentar. O que não pode é obrigar quem não o quer a querer.

Ao se determinar que só pode escrever matérias jornalísticas quem tem o diploma é, sem dúvida, estuprar o texto constitucional da liberdade de expressão.

Vou descer mais para os que precisam que se desenhe para que possam entender: eu gosto muito de maçã. Mas tem quem não goste. Obrigar todo mundo a comer maçã no almoço só porque eu gosto, aí eu estaria tolhindo a liberdade de quem não gosta.

Quem gosta de comer maçã no almoço, que coma maçã. Quem não gosta, não coma, e nem por isso deve ser impedido de participar do almoço.

Entenderam?

Talento, eis a questão!

(*) FRANCISCO ESPIRIDIÃO

O Supremo decidiu. Para ser jornalista, trabalhar em redações produzindo matérias, apurando informações, checando fontes, opinando sobre alhos e bugalhos e demais ações próprias do bom Jornalismo, ninguém precisa mais exibir diploma de curso específico. Concordo.

Advogo a não-exigibilidade do diploma antes mesmo de começar a frequentar as primeiras aulas do Curso de Comunicação Social da UFRR, mais de 17 anos atrás, no início de 1992. Ainda não tinha em mãos qualquer diploma e já me considerava jornalista de fato e de direito.

Acredito que escrever é talento. Não se aprende em Escola de Comunicação. Ou você tem, ou pula do barco. Procura outra profissão. Escrever é como jogar futebol. O sujeito já nasce com o jeitinho para a arte. Ou será um eterno perna-de-pau.

A academia, então, é de todo inócua? Decerto que não. Ajuda a aperfeiçoar o talento. Funciona como um atalho para o indivíduo alcançar mais cedo o que a experiência pode revelar com o tempo. Buscar a Universidade, nesse sentido, só enaltece o profissional.

Acredito que o fato de ter frequentado o Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo só me engrandeceu. Lá eu aprendi muitas outras coisas interessantes e que me servem hoje como conhecimentos periféricos, porém importantes, no desempenho da profissão.

Dizer que agora, com a queda do diploma, qualquer um pode ser jornalista é um grande engano. Ao longo de minha caminhada de quase 25 anos nas redações, já vi muita gente boa tentar fazer parte dessa “confraria”, sem êxito.

Não porque a confraria se mostrasse inacessível, e sim porque o candidato não apresentava as qualidades natas de um membro dela. Não tinha aquilo que se chama verve.

Quando se lê um artigo, parece fácil escrevê-lo. Só parece. Fazer as argumentações dentro dos parâmetros aceitáveis, trafegar com desenvoltura pelo labirinto de ideias e fechar o pensamento com elegância não é para qualquer um. É coisa para quem tem talento.

Com a queda da reserva de mercado, firmar-se como jornalista será tarefa mais difícil ainda. Isso, porque o pomposo “Eu Concedo” proferido pelo magnífico reitor na solenidade de colação de grau não foi – como nunca será – passaporte seguro para o desempenho do bom Jornalismo.

O talento fala – e sempre falou – mais alto. Definitivamente, ao contrário do que dizia Ivan Lins em uma de suas músicas, não somos todos iguais nessa noite!

(*) Jornalista com diploma, e-mail: fe.chagas@uol.com.br.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Um pedido de clemência

Por FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)

Um ano e meio de namoro com a ideia e igual período de gestação. Depois disso, mais um ano de hibernação (vá lá entender um negócio desses!). Enfim, o parto. Digam-se tudo, menos que o nascituro tenha-se utilizado de subterfúgios para vir ao mundo. Parto prematuro, então, nem pensar.

Mesmo assim, parece que todo esse tempo não significou razão suficiente para moldar-lhe à perfeição. Aliás, está longe de ser um som de Tim Maia. Definitivamente, faltou-lhe algo. Na melhor das hipóteses, um dos dez dedos dos pés. Quem sabe, o mindinho do pé direito. Não, do esquerdo, é melhor.

Não sejamos, no entanto, tão perfeccionistas assim. Um detalhe tão pequeno é lá para se considerar um grande defeito? Lula não tem o mindinho da mão esquerda (ou seria da direita?) e é presidente da República. Picou a mula em meio à labuta diária num torno qualquer do ABC paulista.

O importante, porém, é que nasceu o nascituro. Verdadeiro ser nabukowiskizado, como diria Aldous Huxley. Fecundado, o ovo original gerou 150 indivíduos. Todos iguaizinhos. Apesar de pretensiosamente se considerarem alfas, têm também lá seus defeitos. Cada pequena aberração genética, cada erro de construção, vem repetido no mesmo lugar em cada um dos 150 espécimes. É mole?!

Já descobriram do que essa enfadonha crônica trata, não? É. É mesmo de Histórias de Redação – Vinte anos de jornalismo na Terra de Makunaima, um relato – o mais fiel possível, na minha visão, que, se classificada de vesga, eu não terei como rebater a crítica – dos fatos por mim vividos entre os anos de 1985 e 2005 nas redações de impressos por onde passei.

Quantas reminiscências! Quantos colegas de batalha irão se identificar ao ler o texto. Mas um mea culpa faço aqui. De coração aberto. Um dos dedos mindinhos citados acima por se fazerem ausentes, toma corpo na indesculpável grosseria que a falha memória me pregara.

Sempre que encontrava minha amiga pelos corredores da Assembleia Legislativa, dizia-lhe, despretensiosamente, mas com muito carinho, que ela era parte ativa nos escritos. Afinal, ela não poderia ficar de fora do relato. Foi aguerrida companheira de tantas lutas. Umas até inglórias, nos idos de 1991, no Jornal de Roraima.

Quantas recordações importantes! Mesmo assim, ela passou batida nos escritos. Falha imperdoável, repito. Ela era personagem chave para o fechamento dos relatos sobre aquele periódico. Sem ela, a história do JR fica faltando um pedaço. Um grande pedaço. Não só o dedo mindinho, mas todos os membros superiores e inferiores.

É, amiga, a falha ocorreu. Involuntariamente, mas ocorreu. E por mais que eu queira te fazer justiça agora, infelizmente, não tem como. Dizer que na minha cabeça você estava no importante capítulo sobre o JR, é pouco. Não vai mudar a dura realidade.
Mesmo assim, quero mais uma vez te pedir perdão. Se não aceitares, joga-me na parede, me pisa todo, que é o que eu mereço. Só não topo ficarmos de relações cortadas. Isso seria, para mim, insuportável. Clemência!

(*) Jornalista, autor de “Histórias de Redação...”, Maxter, recém saído do forno, pequena tiragem, venda pessoal pelo e-mail fe.chagas@uol.com.br ou fones (95) 9113-7367 e 3623-6520.

Histórias que só acontecem nas redações de jornais


Matéria escrita pela jornalista Eliane Rocha, publicada no jornal Roraima Hoje, edição de hoje,

O cotidiano vivido nas redações de jornais impressos deste canto do Norte deixa de ser parte apenas da memória dos que viveram à época. O jornalista Francisco Espiridião acaba de publicar o livro Histórias de Redação – vinte anos de jornalismo na terra de Makunaima, um importante registro da imprensa em Roraima, que traz à tona não só fatos pitorescos, mas inúmeros relatos ocorridos na política roraimense.

O que a princípio seria uma autobiografia do trabalho como repórter nas principais redações dos jornais impressos de Boa Vista logo se tornou um documento histórico dada a riqueza de informações contidas na obra.

A narrativa se dá nos anos 1985 a 2005: duas décadas de notícias que exigiram do autor não somente boa memória, mas a perícia de condensar fatos relevantes da história de Roraima e do Brasil.

A obra de seis capítulos divide o trabalho do autor nas oito redações de jornais por onde passou. Conta a trajetória desses periódicos, alguns tiveram vida curta, nascidos numa época em que a notícia não corria à mesma velocidade que os tempos atuais.

Bastidores da apuração dos fatos e “causos” que mais parecem contos de fábulas não fugiram à lembrança do jornalista. “Sebo nas canelas” é uma dessas histórias. Conta um fato inusitado, ocorrido em um jornal que atacava, por meio de artigos, o então prefeito de Boa Vista, Sílvio Leite. Contrariado com as sucessivas provocações à deficiência física que tinha em uma das pernas, ordenou a demolição do jornal. “Ouvimos as máquinas trabalhando, mas pensávamos que era no terreno ao lado.
Quando vimos estavam derrubando a parede do jornal”, disse Espiridião, que hoje relembra do caso com bom humor. Esse trecho do livro é apenas uma das tantas histórias que constroem a narrativa de 148 páginas.

A obra começou a tomar corpo em 2007, mas o desejo já havia nascido dois anos antes. “A ideia de reunir casos relativos às minhas andanças pelas redações de impressos de Boa Vista e contá-los em um livro é um sonho que vem de longe. Fervilha-me a mente desde o dia 7 de outubro de 2005, quando recebi o último ‘bilhete azul’ [carta de demissão] do jornal BrasilNorte...”revela no primeiro capítulo do livro. As últimas linhas só foram escritas em março do ano passado.

Depois do trabalho pronto, um novo desafio pela frente: conseguir apoio para publicação do livro. Segundo o jornalista, essa foi a parte mais difícil, tendo em vista a falta de apoio. O custo alto o obrigou a lançar nesta primeira edição apenas 150 exemplares. “A venda está sendo feita ‘boca a boca’, disse Espiridião. Os interessados em adquirir o livro, que custa R$ 30, podem ligar para os números de telefones 3623-6520 ou 9113-7367.

Autor

“Espidi” como Fracisco Espiridião é chamado pelos amigos contemporâneos é do quadro de reserva da Polícia Militar de Roraima. Em 1985 começou a dividir os trabalhos de “farda” com uma nova profissão: revisor de textos em um jornal impresso. O novo trabalho o fez descobrir-se talentoso repórter e, mais tarde, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Depois, não parou mais. Hojer são 54 anos de idade, 24 deles dedicados à arte de narrar fatos. A farda da Polícia Militar há muito deixou de ser usada, não pelos quilos a mais que adquiriu com o tempo, mas a caneta e o papel continuam sendo instrumentos inseparáveis do escriba.

Imprensa livre

(Editoral do Fontebrasil, de16/6)

Registros feitos nesses últimos dias acenderam a luz vermelha no que se refere à liberdade de imprensa em Roraima. O fato de jornalistas serem chamados a depor em inquéritos policiais como testemunhas é algo que remete de imediato a uma etapa da vida brasileira nada alvissareira, que se quer morta e sepultada.

Quem viveu os “dias de ira”, representados pelo AI-5 e outros instrumentos de cerceamento, quando por qualquer mal-entendido jornalistas eram detidos e obrigados a passar dias e noites sob o domínio do medo nos porões dos DOI-Codi, sabe o quanto é perigoso qualquer resquício de autoritarismo de Estado, especialmente de um Estado policial.

Tentativas de amordaçar a imprensa vicejam ciclicamente. Isso, não só no Brasil, em particular, mas na América Latina como um todo. Mais acirradas, então, quando sob a égide de governos que se querem populistas.

Exemplo mais recente é o da Venezuela, onde pelo menos uma estação de TV – a mais importante do país, a RCTV – foi fechada sob a justificativa de estar agindo contra a “revolução bolivariana”, uma estrovenga sem pé nem cabeça criada pelo “companheiro” Hugo Chávez.

Este Fontebrasil entende que qualquer pensamento que venha em prol do cerceamento da liberdade de imprensa representa um retrocesso diante de tudo o que o Brasil já avançou nessas décadas pós-regime de exceção. A ordem é avançar. Para isso, faz-se necessária uma imprensa séria, ética e vigilante. Mas, acima de tudo, livre.

A imprensa livre de quaisquer amarras tem seu papel relevante na sociedade. Sem ela não haverá democracia, vez que os atos e fatos importantes ficarão sempre restritos à penumbra, sobressaindo-se apenas aqueles que interessam aos governantes de plantão.

Portanto, as denúncias feitas por um órgão de imprensa local na semana passada não devem passar em brancas nuvens. Precisam ser investigadas sob os holofotes da sobriedade – nem tanto à terra, nem tanto ao mar. A sociedade merece uma resposta à altura da preocupação que o fato gerou e gera, sempre que resolve pôr o cocuruto de fora.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A caravana passa...

(Editorial do Fontebrasil de 5/6/2009)

... E o estado de Roraima, como sempre, permanece estacionado no tempo e no espaço. Mudam-se as figuras do poder, mas o status quo não sofre alteração para melhor nem a poder de pau.

Aliás, por estas bandas mudam-se tudo para tudo continuar igual, como sempre. Do mesmo modo, o contracheque oficial continua hoje, como há 30, 40 anos, o principal motor da economia.

O governo local – tanto na esfera estadual como na municipal –, a exemplo do federal, está mais mão-aberta, mais perdulário, não resta dúvida. Mas continua trabalhando sem um norte, sem um objetivo final a ser alcançado. Apesar dos altos aportes de recursos, não se pode dizer que o estado viva um momento de estabilidade financeira.

Um exemplo da bandalha com o Erário é o Perdidão, um arremedo de viaduto que parte do nada para lugar algum. Sem qualquer objetividade, milhões e milhões de recursos do Erário foram para ali canalizados. E não aparece uma autoridade local para questionar a falta de trato para com o bem público – os recursos.

"Está dominado, está tudo dominado!”. Ninguém mais se indigna com coisa alguma, muito menos quem deveria – vereadores e deputados estaduais, lídimos fiscais do Executivo no estado e no município, respectivamente.

O IDH, o índice que mede o nível de bem-estar da população, continua de dedo em riste para essas autoridades refratárias, intimando-lhes as consciências – se é que ainda as tenham – para a necessidade de acordar do torpor em que estão mergulhados, não conseguindo enxergar o que se passa a um palmo de seus narizes – ou de seus bolsos.

A imprensa, a nossa impoluta imprensa roraimense, também tem seu mea-culpa a fazer. Tem sido tão conivente com tudo isso quanto às reclamadas autoridades aqui expostas. Poucas vozes se levantam como arautos da verdade em busca de uma saída para o mal-caratismo institucionalizado.

Voltando ao IDH, vê-se que o do Brasil é de 0,800 (média – números do PNUD de 2007), enquanto o de Roraima não passa de 0,750 (média entre os municípios). Isso tudo é fruto de uma visão estrábica de nossos representantes.

Deputado quando espera na antessala (será que é assim que se escreve?) do governador não é para buscar benefícios para a comunidade que diz representar, mas para liberar fatura da própria empresa ou para pedir emprego para um integrante de seu “curral”.

O que fazer diante de quadro tão dantesco? Queixar-se ao bispo? E se ele for paraguaio? Calma. Tem, sim, uma saída. E ela não deve vir por via da força da baioneta, como alguns pregam. Pode estar ali na esquina de 2010, a força do voto. Mas... será que nós queremos mesmo essa saída?