sábado, 29 de setembro de 2012

A Nina e a Carminha de Brasília

Por Nelson Motta

Se o mensalão não tivesse existido, ou se não fosse descoberto, ou se Roberto Jefferson não o denunciasse, muito provavelmente não seria Dilma, mas Zé Dirceu o ocupante do Palácio da Alvorada, de onde certamente nunca mais sairia.

Roberto Jefferson tem todos os motivos para exigir seu crédito e nossa eterna gratidão por seu feito heroico:
"Eu salvei o Brasil do Zé Dirceu."

Em 2005,Dirceu dominava o governo e o PT,tinha Lula na mão, era o candidato natural à sua sucessão.E passaria como um trator sobre quem ousasse se opor à sua missão histórica.

Sua companheira de armas Dilma Rousseff poderia ser,no máximo,sua Chefe da Casa Civil,ou presidente da Petrobras.

Com uma campanha milionária comandada por João Santana,bancada por montanhas de recursos não contabilizados arrecadados pelo nosso Delúbio, e Lula com 85% de popularidade animando os palanques, massacraria Serra no primeiro turno e subiria a rampa do Planalto nos braços do povo, com o grito de guerra ecoando na Esplanada:

"Dirceu guerreiro/ do povo brasileiro."

Ufa! A Jefferson também devemos a criação do termo "mensalão". Ele sabia que os pagamentos não eram mensais, mas a periodicidade era irrelevante.O importante era o dinheirão.

Foi o seu instinto marqueteiro que o levou a cunhar o histórico apelido que popularizou a Ação Penal 470 e gerou a aviltante condição de "mensaleiro", que perseguirá para sempre até os eventuais absolvidos.

O que poderia expressar melhor a ideia de uma conspiração para controlar o Estado com uma base parlamentar comprada com  dinheiro público e sujo?

Nem Nizan Guanaes, Duda Mendonça e Washington Olivetto juntos criariam uma marca mais forte e eficiente.

Mas antes de qualquer motivação política,aexplosão do maior escândalo do Brasil moderno é fruto de um confronto pessoal, movido pelos instintos mais primitivos, entre Jefferson e Dirceu.

Como Nina e Carminha da política, é a história de uma vingança suicida, uma metáfora da luta do mal contra o mal, num choque de titãs em que se confundem o épico e o patético, o trágico e o cômico, a coragem e a vilania. Feitos um para o outro.

O "chefe" sempre foi José Dirceu. Combativo, inteligente, universitário - não sei se completou o curso-fala vários idiomas, treinado em Cuba e na Antiga União Soviética, entre outras coisas.

E com uma fé cega em implantar a Ditadura do Proletariado a " La Cuba ". Para isso usou e abusou de várias pessoas e, a mais importante-pelos resultados alcançados-era Lula.

Ignorante, iletrado, desonesto, sem ideais, mas um grande manipulador de pessoas, era o joguete ideal para o inspirado José Dirceu.

Lula não tinha caráter nem ética, e até contava, entre risos, que sua família só comia carne quando seu irmão "roubava" mortadela no mercado onde trabalhava. Ou seja, o padrão ético era frágil .
E ele, o Dirceu,fizera tudo direitinho,estava na hora de colher os frutos e implantar seu sonho no país.

Aí surgiu Roberto Jefferson... e deu no que deu.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eu vi nascer o Mensalão

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
 
Por Sebastião Nery

Tarde de sábado do começo de 2003 no restaurante Piantella, o melhor de Brasília. Lula havia ganho as eleições presidenciais de 2002 contra José Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT gaúcho a formação do novo governo.

Como fazíamos quase todas as tardes de sextas e sábados, um grupo de jornalistas almoçávamos a um canto, conversando sobre política e o pais. De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira Franco, Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, e começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes, chega o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem almoçaram. Beberam pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido.

Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Deviam voltar logo.

Só um voltou e contou a bomba política do fim de semana. Antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu, coordenador da equipe de transição e já convidado para Chefe da Casa Civil, de negociar com o PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e Energia, Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados indicados pelo partido.

Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a lição da derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do PMDB de Rondonia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma “quartelada parlamentar”. No Brasil, para governar era preciso ter sempre maioria no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões necessárias.


O primeiro a ser chamado foi o PMDB, o maior partido da Câmara e do Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB. Combinaram os três ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite, Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de Minas e Energia, da Justiça e da Previdência. Lula cedeu. Chamou Dirceu e deu ordem para desmanchar o acordo com o PMDB.

Dirceu perguntou como iriam conseguir maioria no Congresso.

- Compra os pequenos partidos, disse Lula a Dirceu. – Fica mais barato.

Dilma virou ministra de Minas e Energia, Tarso Genro da Justiça e Olivio Dutra das Cidades. E assim nasceu o Mensalão.


O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, o brilhante Luiz Francisco Correa Barboza, disse ao Globo:

-“Não só Lula sabia do Mensalão como ordenou toda essa lambança. Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.

No dia 12 de agosto de 2005, em um pronunciamento, pela TV, a todo o povo brasileiro, Lula pediu “desculpas pelo escândalo”.

Lula é um “cappo”. Os companheiros do partido e governo no banco dos réus e ele, só ele, de fora. Logo ele que é o grande réu, “o réu”.

Dirceu, Roberto Jeferson, Genoino, Delúbio, Silvinho, Marcos Valério, Gushiken, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto, Professor Luizinho, a malta toda, como disse o Procurador Geral da República, era uma “organização criminosa”, uma “quadrilha” chefiada pelo Dirceu. Mas sob o comando do chefão, Lula.

Quem tinha de estar no banco da frente era ele, “o réu”.

Desde 2003, todo ano relembro essa historia. Lula começou dizendo que “não sabia de nada”. Depois, passou para : “Fui traído pelas costas”. E, finalmente, a tese oficial dele e do PT : – “O Mensalão foi uma farsa”.

E Lula arranja ajudantes na desfaçatez para agredir o Supremo. Um gaúcho baixotinho, que ninguém sabe quem era e de onde veio e virou presidente da Câmara dos Deputados, esta semana cuspiu no Supremo:

- “O Mensalão é uma falácia”.

Ele não sabe o que é falácia. Mas cadeia ele sabe. Quando for visitar Dirceu, Genoino, Valério, seus companheiros, na cadeia, vai aprender.

Sebastião Nery é Jornalista - sebastiaonery@ig.com.br. Originalmente publicado no site da Tribuna da Imprensa em 25 de setembro de 2012.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O FLAGRA

“Ele tava sentadinho do meu lado com seus brinquedinhos. Levantei para pegar o celular que tava tocando, atendi, quando olhei ele já tava assim… Fui pegar o computador e ele tinha fechado tudo, aberto coisas… eu hein, o piá tem 5 meses. Pode?” – Palavras da mamãe do Ernesto, a fotógrafa Anaterra Viana (Blog do Zé Beto)

Espoliação desmedida


Por Francisco Espiridião

Leio hoje na Folha de Boa Vista que a Prefeitura suspendeu o trabalho de coleta de galhadas e entulhos produzidos pela população em todos os bairros da Capital.

A notícia me causou muita estranheza, em razão de este ser um dos serviços pagos a preço de ouro pelos contribuintes boa-vistenses, e que já se tornou rotina.

Antigamente, a taxa de recolhimento de lixo era cobrada na própria conta do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e seu valor era algo bem mais acessível a todos.

Atualmente, quando ela ganhou vida própria, e concorre cabeça a cabeça com o valor do IPTU, parece-me ideia totalmente descabida restringi-la à coleta do lixo domiciliar.

Desmembrar a taxa de coleta de lixo do IPTU foi uma jogada com o fim único de onerar ainda mais o contribuinte. Suspender o trabalho, igualmente, será, sem dúvida, abuso desmedido.

Onde estão as instituições de defesa do consumidor que não veem isso? Será que tudo vai passar em brancas nuvens? Está na hora de toda a população se levantar contra essa espoliação.

Tiririca reclama de 'interesses' no Congresso e admite abandonar a política


VALTER LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ARACAJU

O deputado federal Tiririca (PR-SP) afirmou que existem "outros interesses" no Congresso e que, por conta disso, admite que talvez não tente a reeleição nas eleições de 2014. Ele se disse "desacreditado da política"
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"Eu não sei se pretendo continuar, por ser muito difícil lá dentro [da Câmara dos Deputados]", disse Tiririca, nesta quarta-feira (26), em entrevista à Rádio Liberdade FM, de Aracaju (SE)
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Beto Oliveira/Divulgação/Câmara dos Deputados
O deputado Tiririca (PR-SP) durante audiência na Câmara
O deputado Tiririca (PR-SP) durante audiência na Câmara

Palhaço eleito com 1,3 milhão de votos, ele demonstra decepção com a burocracia do Congresso. "Eu pensei que chegando à condição que eu cheguei, ia lá e ia aprovar projetos que iam beneficiar a população e essas coisas todas, mas não é assim. Há outros interesses", afirmou.

Na entrevista à rádio, Tiririca também disse que, "para boa parte da população, o político é visto como ladrão", mas ressaltou que se sente "muito feliz" quando as pessoas o elogiam por seu trabalho na Câmara.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A FORÇA DOS FRACOS

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral da Igreja Batista Central de Macapá, 30.9.12

No livro Das profundezas – preces, de Kierkegaard, há uma oração intitulada “A fraqueza verdadeira”. Assim se expressa o filósofo dinamarquês: “Pai celeste! No mundo cá de fora, um é forte, outro é fraco. O forte – quem sabe – envaidece-se com a sua força; o débil suspira e, ai de mim, torna-se invejoso. Mas aqui, bem no interior da tua Igreja, todos somos fracos: aqui, perante tua presença – tu és o poderoso, só tu és o forte”.

Gosto de Kierkegaard. Crítico severo da cultura européia, ele via a Europa indo à bancarrota. Foi duro com o cristianismo de sua época, principalmente sua Igreja, a Luterana. Ele a chamava de “igreja de domingo”. Muita forma e pouca vida. Para ele, a questão fundamental não era se o cristianismo era verdadeiro, mas se era verdadeiro para a pessoa. Se a pessoa o vivia. Hoje se procura uma igreja pelo que ela oferece, pelo entretenimento, e status que dá. Não se ela chama à vida santa. Um cristianismo social, de compromissos mundanos e conveniências: “O que é bom para mim?”.

No mundo, as pessoas são avaliadas pela força social, econômica ou cultural. A roupa e o carro dizem quem somos e quanto temos. Lutamos por status. Queremos ser grandes aos olhos alheios. Quem não pode ser apraz-se em fofocar sobre os “famosos”, na Internet. Mas dentro da igreja, diz Kierkegaard, todos são pequenos. Há só um Grande, o Senhor. Nós não fazemos a grandeza da igreja. Deus faz.

Alguém me falou que admirava os pastores por que têm uma vida espiritualmente superior. Eu não. Passo por vales e por vezes me desanimo. Não sou um super-homem espiritual. Alguns são. Eu não. Nunca fui.
No princípio, isto me arrasava. Via-me indigno do ministério. Se eu fosse Deus (a frase é retórica), não me chamaria para o ministério pastoral. Mas aprendi que não preciso ser um super-homem. Preciso apenas ser dependente da graça de Deus. Esperar e viver da sua misericórdia. Deus não espera que sejamos infalíveis e invencíveis, mas que sejamos suscetíveis à sua graça. Ele disse a Paulo: “A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco” (2Co 12.9).

Não somos pote de ouro, mas de barro. São estes que Deus usa: “Porém nós que temos esse tesouro espiritual somos como potes de barro para que fique claro que o poder supremo pertence a Deus e não a nós” (2Co 4.7). Somos fracos e carentes da graça de Deus. Nosso Salvador nos anima, perdoa, capacita e nos ajuda a viver.

A igreja de Jesus é a confraria de fracos e pecadores que ele, gracioso, salvou e capacita para a vida. Fracos e pecadores com um Deus de poder e graça. Isto basta. Assim o fraco se torna forte.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

SHOPPING DE IGREJAS

Por Isaltino Gomes Coelho Filho

No início de meu ministério na Cambuí, em Campinas, uma pessoa me disse ter mudado há pouco para a cidade e estava frequentando as igrejas, analisando-as e vendo o que cada uma tinha para lhe oferecer. Como pastor rodado, conhecedor dos vários tipos de membros de igreja, desejei que Cambuí não fosse a “agraciada”. Felizmente não foi. As pessoas que se supervalorizam e desejam que o mundo se encaixe em sua visão não são boas companhias. Geralmente azedam o ambiente por onde passam, e logo precisam mudar de ambiente. Não se pode contar com elas para projetos sérios que não tenham sua grife pessoal. Estão sempre indo ao shopping de igrejas escolher uma que lhe seja mais agradável.

Nesta mentalidade, “igreja” deixou de ser a comunhão dos salvos, onde os remidos se reúnem para adorar a Deus e testemunhar de Jesus, e passou a ser uma prestadora de serviços. A ideia de muitos cristãos é esta: sua fé em Cristo lhes deu um cartão de crédito sem limites e elas cultivam a cultura do consumismo espiritual. Não foram salvas para servir a Deus e à igreja de Cristo, mas para serem agraciadas e servidas. Impressiona-me como as pessoas se queixam de igrejas! Na realidade, é o culto à vontade própria e a incapacidade de se relacionar com os outros que gera a maior parte dos queixumes. Sou reticente quando alguém briga em sua comunidade e quer vir para a comunidade a que sirvo. Em vindo, será que não haverá o transplante de um problema? Porque pé de espinho é pé de espinho em qualquer canteiro… Não é a terra que produz espinho, mas a natureza da planta.

O número de servos nas igrejas diminuiu e surgiram coisas como “adoradores extravagantes” (!). Aliás, muitos querem ser adoradores. Poucos querem ser servos. Por que, em vez de “adorador extravagante” a pessoa não almeja ser “servo incondicional”? Poucos querem servir, mas muitos querem ser servidos. Muitos têm expectativas sobre como a igreja deve servi-los. Deveriam pensar: “Qual é a expectativa de Deus para minha vida?”. Ou: “O que Deus quer de mim?”. Mas sempre dizem o querem de Deus. Com isto há um número elevado de evangélicos no Brasil, mas poucos estão servindo mesmo a Deus. Muitos servem aos seus interesses. Há massa, mas sem qualidade espiritual.

Para muitos membros, freqüência é opcional e a igreja não tem autoridade sobre eles. A igreja presta serviços, e elas, possuidoras de um cartão de crédito espiritual, escolhem qual lhes é mais adequada. Assim temos poucos engajados e muitos clientes. Gente assim se frustra, porque vida cristã não é isto. Gente assim não descobre a beleza de uma vida comprometida com Jesus. Prejudica a igreja local porque deixa de ser militante e passa a ser consumidor desengajado. E prejudica a obra de Deus porque é inútil. Não ajuda o reino.

A obra de Deus necessita de servos, não de clientes. De gente engajada e não de freqüentadores episódicos e sem vínculos. A igreja precisa de quem a ame e não de quem a use. Ela é o corpo de Cristo na terra, e já foi bastante maltratada pelo mundo. Não deve ser pelos que dizem ser de Cristo.

Não vá ao shopping de igrejas. Vá à arena, lutar pelo evangelho e pelo nome de Jesus. Seja servo e não dono da igreja. Seja mais um e não “O Cara”. Sua vida será grandemente beneficiada. Quem encontra seu lugar e serve a Deus ali é uma pessoa realizada. Não tem tempo nem vontade de se queixar. O reino de Deus também será beneficiado.

PROCURANDO OU EVITANDO SARNA PARA SE COÇAR?

Por Isaltino Gomes Coelho Filho 

Preparado originalmente para a revista “Você”, e publicado com autorização da revista.
 
“Procurando sarna pra se coçar”. Este é um ditado que se aplica a pessoas que procuram problemas. Por algum motivo, elas têm necessidade de se envolverem em encrencas. A Bíblia nos fala de duas pessoas que passaram pelo mesmo problema, a tentação sexual. Uma a abraçou e se deu mal. A outra fugiu do problema e se deu bem. Uma procurou sarna para se coçar, e a outra evitou coceira.

Uma das histórias está em Gênesis 39.7-9 (“E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pôs os seus olhos em José, e disse: Deita-te comigo. Porém ele recusou, e disse à mulher do seu SENHOR: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e entregou em minha mão tudo o que tem; Ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?”). A outra, em 2Samuel 11.2-4 (“E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.”). O ideal seria você ler as duas histórias por completo, na sua Bíblia, para entender bem o assunto, porque elas continuam. Mas vamos examinar como estas duas pessoas agiram e observar que quem procura sarna para se coçar acaba encontrando e depois se coça muito. José evitou a sarna, Davi procurou. Quem evita se dá bem. Quem procura, acha.

José entendeu bem a questão: “Há coisas que não posso”. Davi raciocinou assim: “Posso tudo”. José entendeu que como administrador dos bens do patrão tudo estava em suas mãos. Menos a mulher dele. Davi seguiu o caminho errado. Cobiçou a mulher de outro homem. Mais tarde José foi recompensado por Deus, por sua atitude. Davi precisou tramar a morte de um homem, uma criança morreu e ele foi exposto à vergonha.

Os bens eram de José; mas a dona da casa, do patrão. Ele a recusou. Davi fez o oposto: cobiçou a mulher de um subordinado. Ele era o rei, e as pessoas que exercem autoridade e têm poder algumas vezes se acham acima da lei. Perdem o bom senso. Acham que podem tudo, que não há limites para elas. José se impôs limites. Muita gente hoje age como Davi. Acha que pode tudo e não aceita limites. Está procurando sarna para se coçar. Vai encontrar. Nós precisamos de limites. Não se pode fazer o que se quer. 

Necessitamos de autocontrole, que é fruto do Espírito Santo (Gl 5.23). José foi humilde e Davi foi soberbo. Sobre soberba, a Bíblia diz: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”. “Concupiscência” significa “desejo muito forte” (1Jo 2.16). Davi mostrou um desejo carnal muito forte e foi soberbo, ou seja, arrogante.
É bom lembrarmos que não podemos fazer todas as coisas. Há limites. Quem acha que pode tudo está procurando sarna para se coçar.

Os dois correram. José, literalmente, correu do pecado: “E ela lhe pegou pela sua roupa, dizendo: Deita-te comigo. E ele deixou a sua roupa na mão dela, e fugiu, e saiu para fora” (Gn 39.12). Davi correu para o pecado, foi atrás: “E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa” (2Sm 11.3). O erro começou quando viu a mulher se banhando. Um homem com um mínimo de educação desviaria o olhar. Ele fixou o olhar. Procurou sarna para se coçar. A Bíblia faz uma advertência bem séria: “Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés? Assim ficará o que entrar à mulher do seu próximo; não será inocente todo aquele que a tocar” (Pv 6.27-29). Não brinque com o pecado. Não procure sarna para se coçar. Corra do erro!

Os resultados foram óbvios: José padeceu pela sua fidelidade e foi exaltado. Davi desfrutou do pecado e foi humilhado. José sentiu a ira de uma mulher rejeitada (Gn 39.13-20). Penou um bocado, mas Deus lhe fez justiça. Deus sempre faz justiça a quem obedece a seus ensinos. Davi abusou da lealdade de um servo e quis se livrar dele (2Rs 11.6-15). Com esta atitude, ele desceu ao fundo do poço moral. Que tristeza! A mesma mão de Deus que socorreu José puniu Davi. José foi honrado perante os homens. Davi foi humilhado. Por isso, não procure sarna para se coçar. Nunca perca sua honra!

Dizia uma música antiga: “Não existe pecado do lado de baixo do equador”. Existe pecado, sim, nos dois hemisférios. E tem consequências drásticas. Ele atrai, mas cobra um preço alto. Tome bastante cuidado com o perigo. Fuja dele. Seja íntegro. Seja fiel a Deus. Seja fiel aos seus valores espirituais. Não procure sarna para se coçar. Porque quem procura acha. Imite a conduta de José e nunca aja como Davi.

Outubro amargo?

Por Percival Puggina

Lula tinha três projetos importantes para 2012. O primeiro era alcançar um crescimento robusto da Economia. Quando o ano começou, no melhor estilo lulista Dilma desfilava arrogância dando conselhos a chefes de Estado sobre como superar a crise. Mas eis que quando se aproxima o outubro amargo, depois de uma dúzia de pacotes para soprar as brasas da economia através do endividamento do povo, o PIB dá sinais de esgotamento e impotência. Parece não haver pílula azul que faça a economia adotar uma postura ascendente.



O segundo projeto lulista era eleger Haddad. Entendamos nosso ex-presidente. Ele estava nem aí para uma vitória do PT em São Paulo. Ele queria eleger o Haddad. Aliás, não era bem isso. Corrijo-me. Lula estava nem aí para o Haddad. Ele queria ser o cara que conseguiu fazer prefeito de São Paulo um desconhecido incompetente como o Haddad. Acontece que Marta Suplicy não apenas era candidata. Ela ponteava as primeiras pesquisas de opinião!

Em setembro de 2011, Marta tinha 29% das intenções de voto contra 18% de José Serra. Num segundo cenário, trocando Marta por Haddad, este aparecia com 2% das intenções de voto. Voilá! Lula tinha em Haddad uma versão masculina para reproduzir o prodígio que fizera com Dilma. Certo de sua onipotência, exercendo aquela autoridade absoluta, mista de cacique e pajé (que só não funcionou na época do Mensalão), exigiu que a senadora renunciasse à candidatura em favor do seu pupilo.

À medida que se aproximava o amargo outubro, Lula entrou em desespero: foi beijar a mão de Maluf nos jardins da casa dele e mandou a doublé de presidente desbancar do ministério a irmã do Chico Buarque. Ato contínuo, ofereceu a poltrona da Cultura para Marta que aceitou, subiu no palanque e tirou retrato com Haddad. No momento em que escrevo este artigo parece não haver mais tempo para que o quadro político proporcione alguma alegria a Lula.

O terceiro projeto lulista para 2012 era acabar com o processo do Mensalão. Tal missão foi enfaticamente assumida ao deixar a presidência. “Xacomigo!”, terá dito Lula. Com efeito, mesmo no mais diluído senso moral, os fatos do Mensalão enodoavam sua biografia. Ora, Lula se vê como Deon, o semideus da mitologia grega que tinha o poder de submeter os demais aos seus comandos de voz.

Portanto, era só falar com um, falar com outro, dar algumas entrevistas e a maior parte dos ministros do STF, obedientes aos desígnios de quem os indicou, não se recusariam a lhe entregar a própria honra. Mas eis que quando o outubro amargo se aproxima, se evanesce a ilusão. Não há compadres em número suficiente no plenário do Supremo. Lula cruza as mãos sobre as próprias vergonhas e pede que o ano termine logo.

População de Recife diz “não” às ordens de Lula e submete Humberto Costa a uma humilhação

Por Reinaldo Azevedo

É um vexame verdadeiramente histórico! Os petistas de Recife, com o apoio de Lula, deram um chega pra lá na candidatura à reeleição do prefeito João da Costa. O petista foi humilhado pelos seus pares. Venceu a convenção, mas não levou. O governador Eduardo Campos (PSB) aproveitou a confusão petista, rompeu a aliança e lançou seu próprio candidato, Geraldo Júlio, que largou com apenas 4% das intenções de voto. O PT desistiu da pretensão inicial, Maurício Rands, e apostou no senador Humberto Costa, um medalhão do partido e um dos homens que ajudaram a desestabilizar o atual prefeito — que faz uma gestão reprovada pela maioria dos recifenses. Lula assumiu a candidatura de Humberto: “Deixa comigo! Vou lá, faço e aconteço”.

Para demonstrar que a luta era para valer, João Paulo, ex-prefeito da cidade, entrou como vice na chapa do PT. Lula, com a bazófia habitual, chegou a afirmar para seus interlocutores que iria fazer um braço de ferro na cidade com o governador para ver quem levava a melhor. É claro que ele achava que seria ele.
Pois bem:  A 13 dias da eleição, Júlio, o candidato do governador, está, segundo o Ibope divulgado ontem, com 39% das intenções de voto. O tucano Daniel Coelho ultrapassou Humberto Costa e aparece com 24%. Humberto, o petista de Lula e Dilma, que tinha 29% na largada, está  agora com 16%.

Entendam o que aconteceu: Lula mandou a população de Recife votar no candidato que ele tinha no bolso, e, por enquanto, 39% escolheram Júlio, e 24% ficaram com Coelho. Mendonça Filho, do DEM, está com 4%. A derrota, além de histórica, será também vexaminosa. A campanha do senador abusa das imagens de Lula e Dilma e insiste naquela cascata de que tudo o que há de bom no Brasil é obra do PT. Não está dando certo.

No momento mais comovente de uma das muitas falas estúpidas de Lula, ouvimos: “Democracia é a gente comer de manhã, de tarde e de noite”. É? Conclui-se, assim, que nenhum ambiente é mais democrático do que as granjas de engorda de galinhas e porcos, não é mesmo? Com orgulho, a campanha petista informa que, só em Recife, 130 mil famílias estão no Bolsa Família, como se isso fosse coisa da qual uma cidade deva se orgulhar.

A população de Recife está dizendo “não” às ordens de Lula. Tudo indica que o candidato de Campos vai disputar o segundo turno com o Coelho, do PSDB. A única saída de Humberto será apoiar Geraldo Júlio, depois de ter tentado anular a sua candidatura na Justiça. É uma humilhação.
 
(Transcrito do Blog do autor)

Adeus, Lula

Por Marco Antonio Villa, O Globo

A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente.

Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.

Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor.

No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.

As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência.

E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.

Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa.

A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo.

Foram arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.

O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir:

1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério;

2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal;

3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?

O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico.

Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.

Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente.

E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?

Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez.Lembra?

O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo.

Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início.

E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.


Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade de São Carlos, em São Paulo

(Transcrito do Blog de Ricardo Noblat)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

“Um divórcio sempre deixa marcas e fragiliza a pessoa”

Entrevista: Isaltino Gomes Coelho Filho

Casal Feliz entrevista nesta edição o pastor Isaltino Gomes Coelho Filho. Ele é casado há 40 anos com Meacir Carolina. Nessas quatro décadas de casamento, Deus deu-lhes três filhos: Beny, Nelya e Camila. Todos casados. Desses casamentos, três netinhos (todos nascidos na região amazônica) alegram os avós Isaltino e Meacir. De Macapá, onde é pastor, Isaltino concedeu a presente entrevista, que toca num assunto muito importante: o divórcio.


CF:Recentemente a imprensa noticiou  que o número de divórcio no país subiu assustadoramente.   Já estamos vivendo no Brasil uma “epidemia de divórcios”? Por que chegamos a este estágio?


IGCF: Não classificaria como uma “epidemia”.  Creio, porém,  que o aumento no número de divórcios se deve a vários fatores: o esgarçamento da moralidade, que faz com que votos de fidelidade conjugal sejam vistos como “caretas”,  a falta de preparo de muitos  nubentes, sem qualquer noção do passo dado e, ainda, uma grande  dificuldade das pessoas, perceptível em várias áreas da sociedade, em querer insistir, em lutar para obter algo. As pessoas querem resolver as coisas com rapidez. Um obeso levou vinte anos engordando, sem disciplina alguma, mas quer emagrecer com uma cirurgia ou com pílulas. Não quer fazer esforço algum. Por vezes, penso que estamos formando uma geração desfibrada, incapaz de se determinar, mas que deseja as coisas prontas e que se rende se não as obtém facilmente. Quando não consegue, logo desiste. Investir num relacionamento para ter um casamento feliz exige disciplina, correção, mudança de rota, novas atitudes. As pessoas não querem abrir mão de nada. A fartura da sociedade tem produzido frouxidão de vida.

CF: Nas pesquisas do IBGE, Rondônia e Distrito Federal foram os estados que tiveram o maior número de divórcios.  Em que sentido um estado ou uma cidade podem influenciar as pessoas a procurarem o divórcio?

IGCF:Quando morei em Brasília da primeira vez (1984-1993), a cidade era apontada como a campeã do divórcio no Brasil. Deram-me duas razões. Uma de ordem econômica: o casal se divorciava de fachada, e assim cada um tinha direito a um imóvel funcional. Continuavam juntos e alugavam um dos apartamentos. Não levei a sério. Outra razão, para mim mais sensata: onde há grande mobilidade humana, constante  chegada e saída de pessoas, há mudanças sociais e de hábitos. Numa cidade pequena, o casal é mais orientado pelos familiares, tem muita gente a quem deve mostrar uma imagem. Mudando-se, o casal fica vulnerável, nem sempre se adaptando à mudança e  não tendo mais a rede de parentes e amigos que os ajudava ou “mantinha na linha”. É um fenômeno observado em centros que se urbanizam rapidamente. Não disponho de observações que me permitam asseverar com absoluta segurança, mas avento a possibilidade. No passado, a Estação Júlio de Mesquita, em São Paulo, onde chegavam trens vindos do interior trazendo migrantes para a cidade, era chamada de “O lugar onde a fé fica”. Os migrantes, saídos de cidades pequenas, de domínio católico, chegavam à capital paulista   e se envolviam com as igrejas evangélicas. Uma razão dada foi esta: a falta de controle social dos parentes e amigos anteriores, e a perda de raízes. Isto acontece na área conjugal.

CF:O que as igrejas podem fazer para que os casais não procurem o divórcio?

IGCF:Orientá-los sobre o casamento. Eu me casei sem qualquer curso, sem qualquer orientação, até mesmo de casa.  Deu certo pela graça de Deus e pela consciência que Meacir e eu nutrimos de que casamos para dar certo. Todavia,  receio que nós evangélicos tenhamos uma visão muito secularizada do casamento. Não o vemos como um sacramento, mas não podemos esquecer sua espiritualidade e sua relevância aos olhos de Deus. Apontaria também uma incrível falta de reflexão nas igrejas, mais dadas ao emocionalismo e ao experiencialismo. Outro fato que me incomoda é a extinção das antigas organizações de treinamento e de crescimento cristãos, que abordavam esses temas. A queda de frequência à EBD também me parece somar, pois os espaços na igreja para estudo e reflexão têm diminuído. Há muita celebração e pouco estudo e reflexão. Para alguns, refletir soa como ofensa.

CF:Um dado revelado por instituições americanas apontou que o número de casais que pedem o divórcio entre não crentes é o mesmo entre os crentes. Como o senhor  analisa este dado americano?

IGCF:Como uma declaração de que as igrejas estão falhando nesta área. Sou pastor há mais de 40 anos e sempre dei muito valor ao aconselhamento. O que escuto morre comigo. Mas tenho observado que os problemas do mundo estão presentes na igreja. Digo isso com tristeza: o modo de vida privada da maioria dos membros de nossas igrejas em nada difere do modo de vida das pessoas sem Cristo. Temos muita festa e pouco Cristo. Usando com outra conotação o termo de Teilhard de Chardin, e adaptando-o a Gálatas 2.20, há pouca cristificação dos crentes. Há pessoas nas igrejas que nada sabem sobre a proposta de vida do evangelho de Jesus.

CF: Voltando aos dados do IBGE, entre os pedidos de divórcio não consensuais, a iniciativa foi da mulher em 70,5%. Qual sua avaliação deste dado?

IGCF:Não reparara nisto.  Receio que qualquer avaliação seja precipitada. À primeira vista talvez seja porque hoje a mulher não está dependendo de um marido para sobreviver.

CF: Como pastor, como o senhor  tem tratado este tema em seus ministério?

IGCF:Tenho feito palestras sobre o assunto. Tenho pregado sobre família. Tenho promovido a literatura sadia sobre vida conjugal (há muita pieguice sem base na área) e tenho me mostrado acessível aos casais. Como Meacir e eu vivemos muito bem, sinalizamos aos casais que é possível viver bem, e nos mostramos acessíveis a eles. Ensinamos o valor da família e buscamos criar na igreja um ambiente espiritual que leve as pessoas ao crescimento e à maturidade cristãos. Muitos problemas nos casamentos não são de ordem relacional, mas apenas demonstrações de imaturidade espiritual.  Tenho me impressionado com a fragilidade espiritual dos cristãos, com a sua dificuldade de aplicar às suas vidas os princípios da Palavra de Deus, e também com a fraqueza de púlpitos que não encharcam as pessoas de Bíblia. Há muita frase feita, chavões, inflexão de voz bem feita, mas uma escassez de ensino bíblico que choca. As pessoas sequer sabem manusear a Bíblia. Preguei uma vez em Naum 1.7, e depois de ter anunciado onde estava o texto observei a dificuldade da maioria dos crentes em localizar o versículo. Inclusive do dirigente do culto. Sem embasamento bíblico não se tem uma igreja forte.


CF: E em relação as pessoas já divorciadas, como a igreja tem agido?

IGCF :P essoalmente não vejo o divorciado como um leproso espiritual, mas como alguém ferido.  Um divórcio sempre deixa marcas e fragiliza a pessoa, a não ser que esta seja absolutamente insensível. Fui pastor de uma igreja que era ironizada por alguns colegas como “a igreja dos riquinhos e dos divorciados”. Parece que estes eram, para eles, dois pecados imperdoáveis: ter bens e ter enfrentado um revés no casamento. Muitos divorciados procuravam nossa igreja porque sabiam que seriam respeitados e tratados. Mas em regra geral, vejo que a maior parte das igrejas não tem refletido sobre isso. Há divorciados que devem mesmo ser ajudados e há alguns que precisam de repreensão espiritual. Porque há gente que age erradamente. Enfrentar um divórcio não é o ideal, mas entende-se.  Quando, porém,  uma pessoa entra em três casamentos e se divorcia nos três, há alguma coisa a se ponderar em sua vida. Ou ela escolhe muito mal ou não sabe conviver com as pessoas e precisa de ajuda e até de correção.

CF:Qual é o seu sentimento, como pastor, quando um casal de sua igreja pede o divórcio?

IGCF:Frustra-me muito. Houve um casal com que trabalhei uns quatro anos, ajudando no que podia. Quando saí de férias, ele se divorciou. Durante muito tempo culpei-me e às minhas férias. Custei a entender que eu não podia ser o ponto de sustentação de um relacionamento.

CF: Quais seriam os  “10 conselhos de um pastor para o casal viver feliz no casamento sem pensar em divórcio”?

IGCF: Vamos lá:

1. Façam um casamento a três, com o Senhor Jesus como participante.

2. Como consequência, ponham-se ambos  sob a orientação do Senhor.

3. Orem juntos. O hábito de um casal em cultivar vida espiritual no quarto ou fora do templo cria um vínculo entre os dois. Como disse alguém: “É difícil brigar com uma pessoa com quem você ora todos os dias”.

4. Ponha o outro em primeiro lugar. Não espere receber amor. Ame. Quem ama recebe amor.

5. Aprenda a aceitar o outro. Namoramos a pessoa ideal, mas casamos com a real. O processo de aceitação e adaptação ao outro é fundamental.

6. Não cobrem. Isto mata qualquer relacionamento.

7. Lembre-se: amor não é melosidade, mas ação doadora: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu…”. Apesar de um livro sobre casamento se intitular “Amor, um sentimento a ser aprendido”, amor não é sentimento. É ação.

8. Queira que o casamento dê certo. É maligna e obtusa aquela frase: “Se não der certo,  a gente se separa”. No tempo dos planos econômicos mirabolantes surgiu uma frase para subsidiar um deles: “Tem que dar certo”. O uso deste lema foi infeliz, mas seu conteúdo deve ser aplicado a cada casamento: é para dar certo.

9. Muita coisa não depende de Deus (e longe de mim o negar sua soberania – que os calvinistas não me malhem). Depende de nós. Deus deseja que vivamos bem. Nós é que estragamos. Que o casal se vigie neste aspecto.

10. Muita coisa não depende do outro, mas depende de  mim. É outra lembrança a guardar. Eu precisei mudar muito para merecer a esposa que tenho. Ela me civilizou. Mas eu tive pelo menos um mérito: aceitei que ela me civilizasse. Ela nunca foi problema. O problema era eu. Muita gente quer mudar seu cônjuge, mas não se vê como é, e não quer se mudar. Aliás, creio que foi Mark Twain quem disse: “Muita gente fala em mudar o mundo, mas ninguém quer mudar-se a si mesmo”. As mudanças começam em quem deseja mudança.