quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sem “jeitinho brasileiro”

Francisco Espiridião

O chamado “golpe” ocorrido em Tegucigalpa, capital de Honduras, é emblemático. A exemplo do que acontecia com frequência nos anos 60-70 do século passado, em diversos países da América Latina, na madrugada do dia 28 de junho passado um grupo de militares invadiu o Palácio Presidencial e arrancou de lá o presidente Manuel Zelaya, despachando-o para Costa Rica, num avião militar. Em seu lugar, foi plantado Roberto Micheletti.

O pecado de Zelaya, expurgado com tamanha violência, foi coisa à toa aos olhos de petistas & Cia. Quis – apenas quis – enfiar goela abaixo dos cidadãos de um dos países mais pobres das Américas um segundo mandato. No Brasil, esse expediente foi comprado (e pago a peso de dólares) pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pretensamente (só para mostrar que os hondurenhos são intransigentes por demais da conta), alguns grupos encastelados no petismo desmedido, com assento em Brasília, fizeram rapapé para expandir para um terceiro, quarto... mandato, Lula à frente.

Zelaya pleiteava isonomia com “los hermanos”, caudilhos latinos como o semiditador venezuelano Hugo Chávez, Rafael Correa, do Equador, e o índio cocaleiro trotskista boliviano Evo Moralles. Todos conseguiram mudar a Constituição de seus países para uns se perenizar no poder, outros, esticar o quanto possível a permanência como mandatário-mor de seus povos.

A treta não colou em Honduras. Lá, a Constituição é documento sagrado. Para ser respeitado. Escreveu não leu, o pau comeu. Seja o Manezinho das Couves ou o presidente da República. Zelaya escorregou e sentiu o peso nos lombos. Perdeu o cargo, ainda que meio mundo esperneie. A suprema corte de Justiça e o Parlamento internos decidiram pela legalidade e não pelo “jeitinho”, tão difundido em nosso meio.

Se no Brasil fosse assim, Luis Inácio Lula da Silva há muito já estaria cantando em outra freguesia. Foi leniente no caso das refinarias da Petrobrás, na Bolívia; lasso, como no caso da construção de hidrelétrica no Equador de Rafael Correa; e condescendente com o bispo Lugo Papa-Tudo, do Paraguai, no caso de Itaipu etc.

Nesse último, Lula arvorou-se imperador do Brasil e agiu por conta própria, atropelando lei existente. Torrou nada menos que 200 milhões de dólares de recursos brasileiros ao triplicar o preço pago pela energia de Itaipu que o Paraguai não utiliza, quebrando, assim, um acordo que já havia se inserido nos anais legislativos do país. Nada menos que crime de lesa-pátria.

Fôssemos nós hondurenhos, Lula já teria sido deportado para uma das republiquetas africanas, de preferência canibal, uma daquelas que ele adora visitar às custas do nosso tão pobre dinheirinho. Os hondurenhos é que estão certos. A Constituição do país em primeiro lugar.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O ocaso

De todas as trapalhadas do presidente do Congresso, o senador José Sarney, a de menor gravidade foi a última descoberta - as gravações de conversas intrafamiliares.

Apesar de inocentes - na superfície -, as gravações mostram o quanto o clã perdeu as estribeiras. Extrapolou no quesito mistura do público com o privado.

Talvez por isso, tenham a força de um tornado. Sejam a gota d'água capaz de entornar o balde. O mosquito que entala o elefante. O tiro de misericórdia.

Dono do Maranhão, Sarney pensou que era também dono do Congresso e do Brasil. Sem dúvida, o começo da derrocada do último caudilho.

Mesmo envolto em tão terrível tsunâmi, há quem diga, invocando Elvis, que ele não morreu. Ledo engano.

Apesar de insistir em continuar em pé, o homem do bigode, enfim, está morto.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Selva de doido

Continua escandaloso o número de pessoas que perdem a vida, são mutiladas ou, quando muito barato, tomam sustos diariamente no trânsito de Boa Vista.

Não adianta nem mesmo a indústria da multa cultivada pelos agentes de trânsito da SMTran - Superintendência Municipal de Trânsito.

Os motoqueiros são as maiores vítimas.

Convenhamos, muitos deles, ao invés de procurarem o que comer, lançam-se no trânsito como desesperados, dando mole pro azar. Parece que só para testar a agilidade do Resgate e do Samu, para saber quem chega primeiro.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

De trambiqueiro e anistia

─ Como cidadão brasileiro, que tanto lutou para fazer a ética prevalecer na política, estou frustrado, possivelmente como milhões de brasileiros. Só espero que não apareça um trambiqueiro querendo anistiar Collor da condenação imposta pelo Senado. (palavras do sindicalista Luis Inácio Lula da Silva, em 13 de dezembro de 1994, dois meses depois de perder a cadeira de presidente da República para Fernando Henrique Cardoso).

Ao abraçar efusivamente o presidente impeachado nesta segunda-feira (13), Lula, sem perceber, tornou-se o trambiqueiro que anistiou Collor.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre pizza e pizzaiolo

É emblemático o fato de a última consideração postada por mim aqui neste blog questionar exatamente o desrespeito que Sua Excelência o Apedêuta nutre pelo Congresso. Ele dava todas as garantias do mundo de que manteria Sarney Presidente do Senado e do Congresso. Sobre pau e pedra.

Ou seja, um poder se imiscuindo na seara do outro, coisa vedada pela Constituição Cidadã. O Executivo sobreponde-se ao Legislativo. Mas ninguém chiou. Nenhum pio de nenhum senador. Agora, vem essa de chamar todos os senadores de pizzaiolos, referindo-se ao resultado da CPI da Petrobrás. Segundo o Apedeuta, vai acabar em pizza, porque todos os senadores são "bons pizzaiolos". E agora?

Veja abaixo o que eu gostaria de escrever sobre o assunto, mas já está escrito. Íntegra do jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog, edição de hoje:

Pizzaiolo espertalhão
quinta-feira, 16 de julho de 2009 | 7:21

Nos jornais de quarta-feira, vimos Schopenhauer Lula da Silva abraçado ao senador Fernando Collor (PTB-AL) num palanque em Alagoas. No discurso, ele atacou as relações de compadrio entre os políticos, censurou antecessores (para ele, na verdade, só existe um: FHC) e exaltou as virtudes de Collor e, claro, de Renan Calheiros (PMDB-AL), que nem estava presente, mas mereceu mesmo assim os mimos. Quem, em companhia tão ilustre e com aliados desse talante, ataca a “política do compadrio” está destinado a fazer história. Se Lula não existisse, já escrevi aqui, não deveria ser inventado. Se este senhor disputasse um campeonato do rebaixamento institucional do Brasil, bateria sempre o próprio recorde. Ontem, ele estabeleceu uma nova marca: atacou a CPI da Petrobras, dizendo ser coisa de “quem quer fazer Carnaval”, chamou os senadores de “espertos” — e, no contexto, queria dizer claramente “espertalhões” — e coroou a cadeia de grosserias acusando-os a todos de “bons pizzaiolos”.

O lead da reportagem da Folha, nesta quinta, traz, parece-me, um erro. Está lá: “Ao chamar os senadores da oposição de ‘bons pizzaiolos’…” Vi a entrevista na TV e a seqüência de perguntas e respostas. Errado! Schopenhauer Lula da Silva referia-se a TODOS OS SENADORES. No contexto, aliás, a pecha cabe mais aos da situação, aos seus aliados, do que aos adversários. Uma repórter perguntou-lhe se a CPI terminaria “em pizza temperada com pré-sal”. E ele respondeu: “Todos eles [os senadores] são bons pizzaiolos”.

Sendo assim, quem é o chefão da pizzaria? Ora, é aquele que escolheu o senador João Pedro (PT-AM) — já falo sobre ele — para presidir a comissão e Romero Jucá (PMDB-RR) para a relatoria. E, todos sabem, Lula comandou esse processo pessoalmente. O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), ainda soltou uma nota classificando a frase de “infeliz”. A líder do governo, Ideli Salvatti (PT-SC), nos brindou com o silêncio daqueles seus “esses” e “erres” muito peculiares. Mas João Pedro, o presidente da CPI, preferiu a galhofa: “Eu nem sei fazer pizza…” Demonstra, assim, que, do ponto de vista de Lula, é o pizzaiolo certo no lugar certo. João Pedro está naquela categoria de homens que nunca ficam corados.

Schopenhauer ontem estava impossível. Deve ter sido um daqueles dias em que exagera na água. Irritado com a CPI, observou que a Petrobras “é uma das maiores empresas do país”, o que, então, nos faz supor que empresas, a partir de determinado patamar de faturamento, tornam-se imunes a investigações.

Desrespeito antigo
Não é de hoje que Lula despreza o Congresso. Quem não se lembra de sua frase sobre os 300 picaretas? Como ele cooptou, de fato, uma esmagadora maioria no Parlamento, deve dizer para si mesmo: “Eu estava certo! Tanto é assim, que os picaretas, agora, estão todos comigo”. Lula elegeu-se deputado uma única vez e teve um desempenho abaixo do medíocre. Não dava a menor pelota para a atividade. Estava acostumado ao cesarismo sindical. Voltou a ficar à vontade num cargo público na Presidência da República, quando pode, de novo, brincar de César.

Leiam esta fala: “O Senado só tem gente experiente. Você acha que tem algum bobo no Senado? O bobo é quem não foi eleito. Os espertos estão todos eleitos. Eu aprendi com o Ulysses Guimarães: uma vez falei pra ele que tinha muita gente que não sabe de nada. E ele me disse: ‘Os que não sabem de nada são suplentes. Ninguém é eleito à toa’” Pois é… Se merece a designação de “esperto” — neste viés obviamente negativo — quem se elege senador, o que se pode dizer de quem se elege presidente? Ignorância, sabemos, não é óbice. A “esperteza” compensa.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sarney quem?

Deu na Coluna Cláudio Humberto, de hoje:

Dilma liga para tranquilizar Sarney

O governo comemorou ontem o esfriamento da crise do Senado Federal, com a diminuição progressiva das denúncias envolvendo principalmente o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP). Ontem, já mais seguro, ele recebeu um longo telefonema tranquilizador da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) transmitindo-lhe a reafirmação do compromisso do presidente Lula com a sua permanência no cargo.

Peraí,

Quem é Sarney, afinal? Um ministro do Governo Lula?

Parece. Só parece.

Para os desavisados, ele é o presidente do Congresso, presidente do Senado Federal.

Diante disso tudo, eu pergunto: onde fica a independência entre os Poderes, tão enfatizada na Constituição de 1988?

Tudo Balela! Quem manda mesmo no Executivo, no Judiciário e no Legislativo é mesmo o presidente do Executivo. E pronto.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mundo ameaçado

Mais de 800 espécies de animais e plantas foram extintas nos últimos cinco séculos e outras 17 mil estão ameaçadas hoje. Os dados são da IUCN (União Internacional para a Conservação na Natureza).

A análise divulgada ontem da chamada Lista Vermelha de espécies ameaçadas da IUCN indica que o mundo não vai cumprir sua meta de reduzir "de maneira significativa" a perda de biodiversidade até o ano 2010.

Eita Brasil doidão

O senador Romero Jucá (PMDB/RR) anuncia na Folha de Boa Vista de hoje que o Governo brasileiro pretende construir uma grande usina hidrelétrica em território guianense.

A nova usina terá capacidade de suprir as necessidades não só do vizinho país, mas também de Roraima e Amazonas.

Aí eu pergunto: por que construir algo tão caro em território estrangeiro? Por que não construir em território roraimense, que tem uma bacia hábil para tanto? Ainda mais quando se vê a que ponto os vizinhos são encrequeiros (leia-se o imbróglio da ponte que não serve para nada).

Das duas uma: ou o Governo não consegue driblar os impedimentos impostos pelo capital financeiro transnacional, liderado pela Casa de Windsor, encarnada nos organismos de defesa ambiental, ou se curva diante da rigidez obtusa das lideranças indígenas nacionais, que agora aprenderam a se queixar não mais ao bispo ou ao papa, mas às nações de Primeiro-Mundo (Europa e Estados Unidos).

Tá na Folha de S.Paulo Online

Uma população de carneiros de uma ilha da Escócia está encolhendo. E o provável culpado, segundo cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos, é o aquecimento global.

A teoria evolutiva indica que, ao longo do tempo, naquela região fria, o tamanho médio dos carneiros deveria aumentar -os maiores teriam maior probabilidade de sobreviver e de se reproduzir do que os menores.

Porém, os invernos na região da ilha Hirta (no arquipélago St. Kilda), onde vivem os carneiros-de-soay, ficaram menos rigorosos. Consequentemente, são mais fáceis de serem enfrentados e, por isso, hoje os animais menores são mais capazes de sobreviver à estação.

Isso, afinal, quer dizer o quê? Nada. Smplesmente nada.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Aprovada mudança no currículo do ensino médio

Carga horária vai aumentar, serão criados eixos interdisciplinares, e alunos poderão escolher 20% das matérias

De Demétrio Weber:

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou ontem, por unanimidade, proposta do Ministério da Educação que promove uma reviravolta no currículo das escolas de ensino médio. Disciplinas tradicionais, como português, matemática e histórica, darão dar lugar a eixos interdisciplinares. Os alunos terão liberdade para escolher 20% das matérias, e a carga horária vai aumentar das atuais 2.400 horas em três anos (800 por ano) para 3.000 (1.000 por ano).

O objetivo é tornar as escolas mais atraentes para os jovens. O MEC considera que o ensino médio vive uma crise de identidade, e que o problema vai além da falta de qualidade. Prova disso seria o desinteresse de parte da juventude pelo modelo de ensino predominante na rede pública. Nas escolas técnicas federais, porém, as vagas são tão disputadas que é preciso fazer vestibulares.

- A escola tem que corresponder à expectativa dos estudantes - disse ontem o ministro Fernando Haddad.
Num primeiro momento, o MEC vai financiar projetos inovadores apresentados por governos estaduais. Os repasses começam no ano que vem e serão limitados a cem escolas públicas. O investimento federal oscilará, ao todo, entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões, segundo Haddad. O dinheiro será divido pelas cem escolas, o que sugere um teto médio de R$ 1 milhão por colégio.

O ministro evita dizer que o projeto Ensino Médio Inovador é a grande aposta do MEC para tornar as escolas atraentes. Ele não quer melindrar os governos estaduais, que são responsáveis por 85% das matrículas.

Por lei, o ministério não tem poder para interferir nas redes dos estados, e depende da adesão voluntária. Assim, a ideia é somar esforços para mudar o atual modelo, abrindo espaço para que cada rede proponha soluções distintas, desde que sintonizadas com o espírito da reforma.

Enquanto Haddad se esforçava para passar a ideia de que o Ensino Médio Inovador é apenas uma entre as muitas iniciativas de diversificação do ensino, a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, foi mais direta: "Esperamos que essa proposta seja acompanhada e avaliada e possa se tornar uma política universal", escreveu ela, em texto divulgado pelo MEC.

De acordo com Haddad, o Conselho Nacional de Educação fez alterações na proposta original. Uma delas, segundo ele, foi dar liberdade aos estados para apresentar propostas inovadoras, desde que adequadas a regras definidas pelo ministério, como o aumento da carga horária e a possibilidade de que os alunos escolham parte das disciplinas. (Transcrito do Blog do Noblat)