quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Malandramente estamos perdendo nossos jovens

Por Anderson Fernandes

Ontem fui apresentando ao sucesso 'Malandramente', da dupla de MCs Nandinho e Nego Bam. Com menos de dois meses de lançamento do clipe oficial, a música já possui mais de 32 milhões de visualizações na internet. Conheci o hit ao passar em uma escola estadual de São Paulo. Os estudantes estavam dançando freneticamente, agitados, enquanto comemoravam a suspensão das aulas, já que a unidade de ensino estava sem atividades porque alguns professores realizaram uma paralisação no trabalho para reivindicar melhorias.

O que me chama atenção nesta situação, observando um contexto geral, não é o fato de músicas como 'Malandramente' fazerem sucesso, ou a falta de aulas em escolas estaduais, ou os estudantes comemorarem a suspensão das atividades nas unidades de ensino (coisas banais desde a minha infância), mas sim a geração de “jovens superficiais” que está se “levantando”.
  
É uma geração que não sabe falar “por favor”, “obrigado”, “com licença”, sem respeito por regras, que ama e odeia com muita intensidade, que reverencia a imoralidade, e principalmente, e mais grave, que não se preocupa com o futuro. São poucos os nossos jovens “antenados” em formação cultural, educacional e profissional. A grande maioria se empenha mais à veneração dos objetos de marca (tênis, roupa, carro), às personalidades de rede social e as novidades tecnológicas.

Como define bem o psicólogo e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Raymundo de Lima, “o mundo real e a cultura impressa deixam de ter valor para a geração sem-compromisso porque o mundo virtual ou das imagens é visto como total e suficiente”. E ele completa com extrema sabedoria que “o ato de imaginar uma estória escrita, escrever, ou analisar um texto é visto com um árduo trabalho, daí a recorrência das imagens prontas nas telas onde é possível acompanhá-las e manipulá-las sem esforço algum”.

Ou seja, a geração de “jovens superficiais” precisa levar um “choque de realidade”.  E esse deve ser um compromisso de todos. O sistema de educar – não é papel apenas da escola -, não pode ser neutro, deve ser direcionado. Precisamos mostrar a estas crianças e adolescentes o que realmente é importante, inspirar elas com ações positivas. Se alguns conseguem, malandramente, realizar atividades que prendem a atenção deles, nós também podemos, porém, os direcionando para o caminho correto. Eu vou fazer a minha parte. Até mais, “nós se vê por aí. Nós se vê por aí”.

*Jornalista, autor dos livros Entre Quatro Poderes e Nocaute e criador do projeto Vida Literária.

sábado, 27 de agosto de 2016

Torço para que Dilma examine as causas de sua queda

demétrio magnoli


Presidenta Dilma Rousseff, lembro-me, como todos, de sua promessa de abril: "Se eu perder, estou fora do baralho". A derrota, sabemos, já aconteceu; o Senado apenas a oficializará. Torço para que, "fora do baralho", examine as causas de sua queda.

Não culpe os outros ("golpe das elites") ou as circunstâncias ("crise internacional"). Investigue seus erros, sobretudo um, que interessa ao futuro da convivência democrática no Brasil. Refiro-me ao sectarismo. Mais que às "pedaladas fiscais" ou ao escândalo na Petrobras, sua derrota final deve-se ao sectarismo.

O sectário, no sentido que aqui interessa, é o militante convicto, intolerante, de uma doutrina faccional. No fracasso de sua política econômica encontram-se as raízes do impeachment. Não lhe faltaram alertas: diversos economistas sérios avisaram que o voluntarismo estatal conduziria à inflação, ao déficit, à dívida, à erosão da produtividade e, finalmente, à depressão.

Sua resposta sistemática, e a dos seus, foi rotulá-los como agentes de interesses antipopulares: serviçais das altas finanças ou do imperialismo. Não teria sido apropriado enxergar aqueles economistas "liberais" como brasileiros tão bem-intencionados quanto os economistas "desenvolvimentistas" que a cercavam? Mas o sectário concentra-se nos motivos supostos, não nas ideias, dos que o criticam.

O sectário acalenta certezas fulgurantes, que acabam por cegá-lo: a divergência aparece a seus olhos como traição. Daí, num passo imperceptível, ele cruza o limite que separa o debate legítimo da difamação. Campanhas eleitorais são embates amargos, mas devem curvar-se a certas regras implícitas.

Recordo-lhe a peça publicitária de sua campanha que fazia de Marina Silva uma conspiradora associada aos "banqueiros" numa trama destinada a roubar a comida da mesa dos pobres. O castigo veio a galope, em sua peregrinação até o Bradesco para convidar Joaquim Levy a ocupar o cargo de czar econômico do governo. Sem o estelionato eleitoral, um espetáculo lancinante de desonestidade, não haveria impeachment.

"Meu partido, certo ou errado!". O sectário presta lealdade à sua seita, mesmo à custa da deslealdade com as leis e com o conjunto dos cidadãos. Sua tentativa de transferir para o STF as investigações judiciais sobre Lula, por meio da nomeação do investigado à Casa Civil, definiu seu destino. O mandato terminou ali, quando os brasileiros concluíram que, transformando o Palácio em santuário de um poderoso político às voltas com um juiz, a chefe de Estado rebaixava-se à condição de chefe de facção.

Na saga da resistência ao impeachment, difundiu-se a célebre fotografia da jovem Dilma, em novembro de 1970, perante os juízes de um tribunal militar. A estratégia de marketing, que empolgou seus fiéis, investe numa reiteração (o impeachment como reprodução da perseguição política da ditadura) e numa permanência (a Dilma do presente como extensão da Dilma do passado).

A reiteração é farsesca, pois borra a cisão entre ditadura e democracia. A permanência é verdadeira, num duplo sentido: se a coragem de antes não desapareceu, perenizou-se também a chama sectária inerente aos militantes da luta armada. No fim, a tal fotografia ilumina retrospectivamente sua presidência por um ângulo imprevisto, invisível aos olhos dos marqueteiros.

O sectário atribui significados transcendentais a seus caprichos – e, se puder, impõe obediência geral a eles. A circular que obrigava seus subordinados a usar a palavra "presidenta" jamais serviu à causa dos direitos das mulheres, mas criou uma fronteira de linguagem entre a militância petista e os demais cidadãos.

Nunca a tratei assim, enquanto sua assinatura tinha o peso do poder. Hoje, faço a concessão. Presidenta Dilma, "fora do baralho", esqueça Getúlio Vargas e Jango: pense nos seus erros.

(Transcrito da Folha de S.Paulo)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Eles querem continuar a roubar



Parlamentares querem desfigurar o projeto das 10 medidas anticorrupção de autoria do MPF, segundo o Estadão.

Eles não querem criminalizar o caixa dois, um dos aspectos mais defendidos por Sérgio Moro na sua fala no Congresso; não querem o aumento da pena para crimes de corrupção; não querem que provas consideradas ilícitas sejam consideradas válidas desde que colhidas de boa-fé e não querem a prisão preventiva para recuperar dinheiro desviado.

Basicamente, deputados e senadores querem continuar a roubar sem correr maiores riscos.

(O Antagonista)

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Conselho de Ética instaura processo contra Jean Wyllys

Jean Wyllys: na representação, o PSC alega que Wyllys associou os nomes dos deputados Jair Bolsonaro e Marco Feliciano ao atentando em uma boate gay em Orlando


O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados instaurou nesta quarta-feira (10) processo de quebra de decoro contra o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ).

Na representação, o PSC alega que Wyllys associou os nomes dos deputados Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP) ao atentando em uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos, em junho.

No post publicado no Facebook em 12 de junho, Wyllys afirma que discursos de ódio de pessoas com projeção podem levar cidadãos comuns a praticar atos de violência.

"Quando criticamos os discursos de ódio dos 'bolsomitos' e 'malafaias' e 'felicianos' e 'euricos' e das 'marisas lobos' e 'ana paulas valadões' da vida e dos legislativo contra gays, lésbicas e transexuais, estamos pensando justamente no quanto o discurso de ódio proferido por essas pessoas - agora em alta porque aliados dos golpistas que tomaram a presidência da República - pode levar pessoas 'de bem' a praticar atos de violência física - assassinatos e agressões físicas - contra membros da comunidade LGBT."

De acordo com o PSC, "o desequilíbrio manifestado" pelas opiniões do deputado do PSOL "incentiva que seus simpatizantes também o façam" e vai contra a responsabilidade de "construir uma sociedade com respeito às divergências".

O presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), sorteou na tarde desta terça-feira a lista tríplice de relatores e vai escolher um nome nos próximos dias. Foram sorteados os deputados Júlio Delgado (PSB-MG), Silas Câmara (PRB-AM) e Capitão Augusto (PR-SP).

Conforme as normas da Câmara, foram excluídos da lista deputados do mesmo partido ou estado que o representado.

A partir da instauração, o colegiado tem 90 dias úteis para concluir a análise do caso.

Procon quer proibir “Pokémon GO” por representar perigo aos consumidores

“O Procon se preocupa com a segurança, saúde e proteção do consumidor. O jogo é um perigo aos consumidores”, disse Tárcio Nóbrega, secretário adjunto do Procon da cidade de Cabedelo, na Grande João Pessoa, Paraíba. Por isso mesmo, o Procon desta cidade paraibana quer proibir o jogo.

A fundação estatal está preparando um banco de dados de notícias onde o jogo foi nocivo aos consumidores e pretende encaminhar uma denúncia ao Ministério Público contra o jogo. 

“O que estamos fazendo é levantando informações dos portais sobre o jogo. Estamos preocupados com os efeitos negativos do jogo. Vêm acontecendo mortes, assaltos, acidentes, então queremos estudar isso para conscientizar as pessoas. Estamos trabalhando e faremos estudos e tentaremos parceria junto ao MP, para ver se podemos intervir nesses casos com uma medida concreta”, afirmou o secretário adjunto.

O diretor do Procon ligado ao Ministério Público, Glauberto Bezerra, informou que a preocupação “merece um estudo mais apropriado, merece análise de dados dos acidentes, do número de pessoas assaltadas” e que o órgão aguardará a preparação de estudos sobre o jogo para se manifestar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Contraste cultural: a imagem que está rodando o mundo

Enquanto a alemã Kira Walkenhorst veste um biquíni, do outro lado da rede está Doaa Elghobashy, atleta de 19 anos que usa hijab e calça em respeito à sua religião (Lucy Nicholson/Reuters)

A imagem de uma egípcia e uma alemã disputando uma bola no vôlei de praia está rodando o mundo pelas redes sociais – graças ao contraste cultural. Enquanto a alemã Kira Walkenhorst, de 26 anos, veste um biquíni, do outro lado da rede está Doaa Elghobashy, atleta de 19 anos que usa hijab (espécie de véu sob a cabeça) e calça leg em respeito à sua religião. Capturada por Lucy Nicholson, da agência de notícias Reuters, a fotografia também registra um feito inédito: essa foi a primeira vez que uma dupla do Egito disputou uma Olimpíada na modalidade.

Militares vão ficar fora da reforma da Previdência

Eliseu Padilha, da Casa Civil, lembrou que as Forças Armadas não têm sistema de Previdência e, portanto, eles não serão incluídos na reforma

Depois da ofensiva feita pelos comandantes da Aeronáutica, da Marinha e do Exército, destacando as peculiaridades da carreira, o Palácio do Planalto anunciou que não vai incluir os militares na proposta de unificação da Previdência, que deve ser encaminhada ao Congresso até o final do ano. Em compensação, estuda ampliar de 30 para 35 anos o tempo de serviço militar para a reserva.

Para justificar a decisão de excluí-los da reforma previdenciária, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que “a Constituição da República garante aos membros das Forças Armadas um benefício, sem contribuição, pois eles estão permanentemente à disposição do Estado, em serviço e após a reserva”.

Padilha lembrou ainda que as Forças Armadas não têm sistema de Previdência e, portanto, eles não serão incluídos na reforma. E explicou que os benefícios que existiam, por exemplo, a pensão para as filhas de militares, “já foram extintos” e os que permaneceram “têm regime de contribuição próprios”.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que não incluir os militares na reforma “é uma questão de reconhecimento do governo, que está vendo o compromisso das Forças Armadas”.

Para ele, “aos militares, cabe uma compensação pelas funções que são obrigados, constitucionalmente, a exercer”. E emendou: “Se unificasse e não continuasse existindo diferenças entre civis e militares, obviamente, você estaria cometendo, de fato, uma injustiça.”

O ministro Jungmann disse que “o assunto foi discutido no governo, que entendeu que, de fato, não cabia esta unificação”. Segundo ele, “se existirem ajustes a serem feitos aqui e ali, a nossa disposição é fazê-los, mas continuando a respeitar as singularidades da carreira”.

Peculiaridades

Os comandantes das três Forças, ao defenderem a manutenção das atuais regras de aposentadoria aos 30 anos de serviço, listam as peculiaridades da carreira, como destacou o ex-chefe do Estado Maior de Defesa, general Rômulo Bini.

Ele lembra que o militar é submetido à dedicação exclusiva e não dispõe de outra fonte de renda. Não tem poupança compulsória como o FGTS, nem remuneração adicional por horas trabalhadas além do seu expediente normal. Também peregrina constantemente pelo território nacional – aí inseridas áreas inóspitas -, o que dificulta a formação de patrimônio que lhe garanta um futuro para si e sua família.

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Segundo Bini, o militar ainda recolhe um “desconto vitalício” do início de sua carreira até sua morte, correspondendo à pensão militar (9% dos vencimentos), e reembolsa os gastos que o Estado concede, como plano de saúde, e moradia.

Além disso, os militares citam as diferenças salariais em relação às demais carreiras do Estado. Alegam que, embora eles estejam sempre prontos para atuação, a qualquer hora, em qualquer lugar, ganham menos, como agora, na Olimpíada, onde um soldado da Força Nacional recebe diária de 550 reais e o do Exército, 30 reais.

O anúncio do ministro Padilha, trouxe alívio às Forças Armadas.

Eleitorado difícil

Poder sem pudor - Diário do Poder:

O ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) andava descrente no eleitorado. Em visita a Anapu (PA), falou da incerteza daquele ano de 2006, sobretudo do seu público-alvo, digamos assim:
- Está difícil: as prostitutas, que votam em mim, traem por profissão. Os maconheiros nem sempre acordam a tempo de votar e, quando fazem isso, esquecem meu número. E os gays só querem saber de Lindbergh Faria, o “lindinho”.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Ministro quer manter aposentadorias de civis e militares separadas

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, saiu em defesa da manutenção do atual sistema de aposentadoria diferenciado para os militares. Pela atual legislação, os militares podem passar para a reserva remunerada após 30 anos de serviço, repetindo uma regra que existe na maior parte das Forças Armadas no mundo.
O governo do presidente em exercício, Michel Temer, quer mudar isso e discute a possibilidade de unificar as aposentadorias de civis e militares. Segundo Jungmann, o tema está em discussão e a conversa “caminha muito bem”. Para ele, é preciso que “continue a haver esta segregação e, não, necessariamente, a unificação”.
Jungmann tem reiterado que os militares são “funcionários de Estado” e que, pela especificidade das funções que executam, não podem ser submetidos às mesmas regras que os servidores civis.
“Acho justo, do meu ponto de vista, que continue a haver essa segregação”, emendou. O ministro reconheceu que “esta é uma questão a ser discutida”, mas assegurou que as conversas estão sendo bem sucedidas. “Eu acho que é uma questão em discussão. Mas eu entendo que nós temos duas carreiras: a civil e a militar e que o militar se obriga a uma série de renúncias em termos de direitos que, exatamente, o servidor civil tem”, declarou o ministro da Defesa.
As declarações de Jungmann foram dadas após a cerimônia de apresentação dos oficiais generais promovidos por Temer.
O comandante da Marinha, almirante Eduardo Barcellar Leal Ferreira, também defendeu a necessidade de os militares terem aposentadoria integral, diferenciada, com 30 anos de serviço. “Nós não temos horário ou dia de trabalho, não temos FGTS, não temos direito a sindicalização, a hora extra, a fazer greve”, disse o almirante, repetindo o discurso do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossatto, que é contrário ao regime único de Previdência Social.
“Já tivemos uma grande reforma em 2001, em que vários direitos foram tirados como auxílio moradia, gratificação por tempo de serviço, vantagem de ir para a reserva ganhando um posto acima ou licença a prêmio de seis meses”, disse o almirante, incluindo aí o fim da concessão de pensão para as filhas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

SE DILMA RENUNCIAR, RESOLVE TUDO

Por CARLOS CHAGAS 
Michel Temer espera poder comparecer à China, a 4 e 5 de setembro, como presidente definitivo, para a reunião do G-20. Estará com os chefes de governo dos países mais desenvolvidos do planeta. Caso não tenha sido votado o afastamento definitivo de Dilma Rousseff até o momento de embarcar, dois dias antes, permanecerá no Brasil, enviando José Serra em seu lugar. No caso também interino, sem a legitimidade necessária para anunciar disposições e participar de acordos.
Não será propriamente um vexame, mas quase isso. No Senado, é grande a reação. Afinal, está mais do que confirmada e sacramentada a degola de Madame. Pelo jeito já são 61 os senadores dispostos à cassação de seu mandato, quando 54 seriam necessários, mas por enquanto não há certeza da data da votação. Nossa performance na China poderia servir de início de uma nova fase, marcando a recuperação da imagem nacional no concerto das nações. Porque se Temer puder comparecer, seu pronunciamento seria penhor de novos tempos, depois de tanta lambança verificada nos anos Lula e Dilma. Mas se ficar moralmente impedido de deixar o país, por falta de legitimidade, estaremos ocupando lugar de segunda categoria.
Está nas mãos do presidente do Supremo Tribunal Federal decidir a questão. Ricardo Lewandowski poderia, sem atropelar a Constituição, apressar o rito e os prazos do processo de impeachment, em seu capítulo derradeiro. Depende também do presidente do Senado, Renan Calheiros, encurtar o período. Até mesmo de Dilma Rousseff, pois se renunciasse agora, encerraria a questão e Temer viajaria para a China.
Como estamos no Brasil, onde se complica as questões mais simples, tudo pode acontecer. É bom atentar para o exemplo de Fernando Collor, que ao invés de ter sido cassado, como se difunde até hoje, renunciou. Não se livrou do processo, por intransigência do Senado, mas agora poderia ser diferente. Em especial por conta de nos livrarmos do vexame internacional.

ALYSSON PAULINELI

Por HILDEBERTO ALELUIA

Ele es
tá fazendo 80 anos. Poucos brasileiros sabem quem é ele. Mas este senhor é respeitado no mundo inteiro. Foi capa da revista 
Time com 35 anos de idade e até hoje viaja pelo mundo, da China à Patagônia, de Tóquio a Nova York, convidado que é para palestras nas mais respeitadas universidades do globo e nos mais competitivos centros de negócios. Anda por aí falando sobre seu invento, repassando conhecimentos e satisfazendo a curiosidade cientifica sobre a alta produtividade da agricultura brasileira, principalmente no cerrado. Visionário, desenvolveu técnicas numa época em que o conhecimento não desfrutava dos imensos recursos tecnológicos de hoje. Por onde passa é saudado com reverencia e respeito. O mundo tecnológico lhe credita uma façanha que no Brasil só é conhecida pelo setor agrícola: o aproveitamento do cerrado brasileiro para a produção agropecuária. 

Paulinelli descobriu os caminhos para fertiliza-las através de calagem e fosfatagem. Hoje, o cerrado brasileiro distingue-se por uma produção de riqueza extraordinária, aplicação de alta tecnologia e produtividade sem comparação no mundo moderno quando se trata de produção de grãos irrigados. Nem mesmo os grandes produtores mundiais, detentores das tecnologias inovadoras para o campo, como Estados Unidos, Austrália e Canadá conseguem se igualar à produtividade do cerrado brasileiro, especialmente no oeste da Bahia. Para lá acorrem americanos, ingleses, neozelandeses, canadenses, japoneses e brasileiros audaciosos e trabalhadores. Juntos, são responsáveis por cerca de 50% cento do PIB agrícola (grãos) do Brasil. E todos, uníssonos, agradecem a um homem: o mineiro que um dia foi ministro da agricultura e vislumbrou que esta epopeia seria possível.
Alysson Paulinelli é nascido em Bambuí (10/06/1936) e foi ministro da Agricultura (1974-1979). Oriundo da Faculdade de Agronomia de Lavras, atual Universidade Federal de Lavras, interior de Minas Gerais, Foi um menino pobre, estudou com dificuldade e para terminar seus estudos dava aula na própria faculdade com 22 anos de idade. Seu pai era agrônomo e pequeno sitiante, portanto era de classe média baixa, como se classificava na época. Destacou-se e virou Secretário de Agricultura do Governo de Minas Gerais no comecinho dos anos 70 do Século passado. Ele está para o agronegócio brasileiro como esteve  os americanos o Gran Bell (inventor do telefone), Thomaz Edison (inventor da eletricidade) Ford (inventor do automóvel) e o italiano Marconi (inventor do Rádio) para seus países. Estes senhores passaram para a história não só porque contribuíram com seus inventos para o desenvolvimento da humanidade, mais também porque viveram o suficiente para impulsionarem suas criações e explorarem comercialmente o que foi inventado. É certo que viraram grandes capitães de indústria. No caso do Paulinelli pode-se considerar uma história maior, mais brilhante e mais gloriosa. Seu invento foi distribuído gratuitamente e hoje serve a milhões de brasileiros, no campo. O produto gerado é exportado para o mundo inteiro gerando divisas para o país, receita e tecnologia para o agronegócio.
A esse mineiro baixinho, de olhos atentos e brilhantes, devemos essa infinita realidade de desenvolvimento e produtividade agropecuária do país. Do ponto de vista cientifico ele é o brasileiro mais importante de sua época. Em 1971, do século passado, foi escolhido Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais. Lá criou o Projeto Jaíba, hoje um centro de produção e exportação de produtos agrícolas onde antes não havia nada além da fome, da inanição, da ociosidade e terras inaproveitáveis. Ali Paulineli descobriu o cerrado. Descobriu, estudou, se encantou e desenvolveu. Nas palavras de seu braço direito em todos esses anos, o admirável economista mineiro Nuno Casassanta, “ a calagem, aplicação de calcário, já era conhecida, mas era olhada com desconfiança pelos produtores para recuperar os solos de cerrado. O Paulinelli com ideias arrojadas e uma invejável disposição de trabalho e capacidade de convencimento conseguiu articular programas que mostraram sua viabilidade. Começou com os projetos integrados em que o Estado de Minas Gerais entrava com assistência técnica, financiamento via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, o BDMG, mecanização agrícola, armazéns e estímulos à montagem de usinas fabricantes de calcário. Diante do sucesso buscou-se escala através da participação de cooperativas que fizeram uma colonização moderna em amplas áreas do cerrado mineiro. Essa iniciativa levou à criação do PoloCentro, o programa de desenvolvimento que estabeleceu as bases da revolução agrícola.
Casassanta recorda-se também da revolução no setor cafeeiro: "no meio de uma enorme crise e num ambiente de erradicação trabalhou o Paulineli pela renovação dos cafezais em novas bases tecnológicas. O Estado de Minas Gerais desde então produz cinquenta por cento do café brasileiro. E o reflorestamento? A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) criada por ele já no governo federal, no seu nascedouro recebeu uma formidável dose de apoio que significou o maior programa de treinamento já executado no país. Aplicava-se um bilhão de dólares por ano nisso. Para muitos uma loucura. Mas deu certo e a EMBRAPA hoje é orgulho brasileiro, continental, científico. A instituição é uma academia de alto nível sem padrão de comparação. O Brasil é sucesso na agropecuária graças ao conhecimento e a crença dos produtores na ciência que juntos se criou “, finaliza.
Formou uma equipe de excelência composta, entre outros por economistas, agrônomos, administradores e professores que o acompanharam em toda a sua brilhante carreira. Entre estes estava Paulo Afonso Romano, seu Vice-Ministro que negociou, implantou e dirigiu a CAMPO, uma binacional agrícola Brasil-Japão, empresa pioneira com capital internacional destinado exclusivamente à exploração do cerrado, Antônio Lício que por sua excepcional formação integrou outros governos e ainda hoje é um grande consultor internacional, Francisco Reynaldo Amorin de Barros, oriundo da Fundação Getúlio Vargas, Alceu Sanches, Eduardo Campelo, Raul Vale, Eliseu Alves, Lourenço Vieira da Silva, José Carlos Pedreira de Freitas, Eustáquio Costa, Paulo Cota, Silvestre Gorgulho, Joaquim Campelo , Sá Martins e muitos outros. Paulinelli foi também Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Secretário de Agricultura de Minas Gerais por duas vezes e Deputado Federal, inclusive constituinte.