domingo, 30 de agosto de 2009

A gente não quer cota

Por FRANCISCO ESPIRIDIÃO

Fico triste quando vejo debates na TV em que alguns afrodescendentes (esse é o termo politicamente correto para negros, hoje) reivindicam migalhas do Governo como resgate daquilo que a vida deixou de lhes dar em razão da cor da pele.

Sou filho de família muito pobre. Lembro que, muitas vezes, por não termos o dinheiro para comprar o pão para o café da manhã do dia seguinte, na tarde anterior meu pai levava os filhos mais velhos – eu no meio – para juntarem tucumã, numa mata próxima à nossa casa, no bairro Nossa Senhora das Graças, em Porto Velho.

Pela manhã, antes das seis horas, estávamos todos sentados à mesa, comendo tucumã com farinha e café puro, sem leite. Mas uma coisa ele fazia questão de nos ensinar: não se deve pedir nada a ninguém. “Estude para ser gente”, dizia.

– Se você não tem o que precisa, procure uma maneira honesta de conseguir, porém, pedir jamais!

Já escrevi algumas vezes sobre a questão das cotas para negros nas universidades. Heresia iniciada por Fernando Henrique Cardoso, quando presidente, e abraçada pelo atual Governo. Heresia, sim, porque não pode haver nada mais humilhante para um ser humano (negro, branco ou amarelo) que a discriminação exacerbada, ainda que com motivos aparentemente altruístas.

Ninguém me tira da cabeça que aceitar passivamente tornar-se universitário em razão de cotas, seja algo desonroso. Para mim, aceitar a cota é tornar-se o pobrezinho da turma, indivíduo digno de pena, que sobrevive em função da misericórdia de outros seres que se julgam superiores.

A instituição de cotas para determinada categoria de pessoas arranha o texto constitucional. A Carta Magna de 1988 estabelece, em seu artigo 5º, Caput, que todos são iguais perante a lei, não se admitindo distinção de qualquer natureza. Buscar tratamento diferenciado é querer aplicar a Lei de Gerson. Atitude condenável sob qualquer aspecto.

No Brasil, o negro está crescendo, sim, como ser humano. Independentemente de cotas. Esse crescimento, segundo a revista VEJA desta semana, teve seu “start” quatorze anos atrás, em 1995, com a universalização da educação fundamental e a melhoria da qualidade do ensino médio oficial.

Cita a revista que até 1995, sete negros em cada 100 eram analfabetos. Hoje, esse número caiu para 1,8, uma melhoria irrefutável da ordem de 74%. É certo que a educação ainda está longe do que se pode considerar ideal. Precisa melhorar muito.
Mas é inegável também que experimentamos sensíveis avanços.

Sou negro e não precisei de cota nenhuma para entrar na faculdade, em 1992. Minhas filhas, a mesma coisa. Assim, acredito que a revolução iniciada lá em 1995 não pode arrefecer. A queda de braço que vemos hoje em Roraima no setor da educação é um retrocesso. Fornece elementos tortos aos que almejam por migalhas.

Nós negros, portanto, não devemos nos conformar com a condição de mendigos, que aceitam esmolas em forma de cotas. A gente não quer cota, a gente quer ensino de qualidade.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Palocci livre, Francenildo réu

O julgamento do ex-ministro e atual deputado Antônio Palocci, no Supremo Tribunal Federal, ontem, foi digno do Brasil atual.

O caseiro Francenildo teve o desplante de comparecer ao Tribunal.

Vestido a caráter, de terno emprestado e, nos pés, meia de cano curto branca, deixando-lhe à mostra os tornozelos, era a mais lídima expressão da desolação diante de tantas contundentes "verdades" proferidas por suas excelências o advogado de defesa de Palocci e os próprios ministros julgadores.

O resultado não poderia ser outro: Pallocci é inocente. Francenildo culpado de ter em sua conta poupança a quantia absurda de R$ 25 mil.

Onde já se viu, um representante do andar debaixo com tanto dinheiro no banco? É claro que ele é culpado. Obrigou o ministro a cometer o disparate que, diante das circunstâncias, mostra-se ato mais que justificado.

Portanto, Palocci não é culpado de nada. Está livre para prosseguir em sua brilhante trajetória de homem público. O Brasil precisa dele.

Já de Francenildo... bem, esse que vá procurar a sua turma! E tenho dito!

Câmara aprova Lei Geral das Religiões

De Evandro Éboli (O Globo)

Logo após votar o texto do acordo entre o governo brasileiro e a Santa Sé, de interesse dos católicos, os deputados aprovaram, na noite de anteontem, o projeto batizado de Lei Geral das Religiões, de agrado dos evangélicos.

É uma cópia do acordo entre Brasil e Vaticano, apenas com substituição da expressão Igreja Católica por instituições religiosas. Ambos têm os mesmos 19 artigos. A lei geral proposta vale para todas as religiões, inclusive a católica.

O acordo com o Vaticano cria o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil e foi motivo de polêmica com os evangélicos desde o envio ao Congresso, no fim de 2008. Seus opositores acusaram o governo de privilegiar os católicos e ferir a condição do Brasil de país laico.

Os dois textos asseguram benefícios tanto para a Igreja Católica como para qualquer outra religião, como a proteção ao patrimônio e aos locais de culto, aos símbolos, imagens e objetos culturais; assegura assistência espiritual aos fiéis internados em estabelecimentos de saúde, assistência social e educação; imunidade tributária; e garante o ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental.

Único partido a votar contra os dois textos, o PSOL anunciou que irá à Justiça para anular a aprovação da Lei Geral.

De gripe A e apedeuta

Até o dia 22 deste mês de agosto, segundo o Ministério da Saúde, 557 pessoas já haviam morrido no Brasil por conta da gripe A (H1n1). Esse número arremessa o País para a dianteira mundial em termos de sofrimento com a nova doença. Em segundo lugar, aparecem os Estados Unidos, com 522 óbitos.

Quando a pandemia começou, pelo México, o nosso brilhante presidente Lula foi às cadeias de rádio e televisão para tranqüilizar o País: “O Brasil está preparado para enfrentar essa epidemia”, disse o apedeuta, garantindo que passaríamos por ela ilesos, sem qualquer arranhão.

Conhecendo o presidente, farofeiro de marca maior, dava para desconfiar. Lembram que ele disse que a crise financeira dos Estados Unidos “não atravessaria o Atlântico” para nos atingir? Fomos nocauteados. As prefeituras Brasil a dentro estão aí para confirmar o engodo. O FPM míngua a cada mês.

Como diria Bóris Casoy, ISTO É UMA VERGONHA!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ainda há juízes em Berlim

Por Francisco Espiridião

Se hoje fosse levado a termo um plebiscito para estabelecer se Luis Inácio Lula da Silva merece continuar presidente da República indefinidamente, qual seria o resultado? Pelos níveis de popularidade que tem, não é difícil prever. Afinal, a pessoa do presidente está acima de tudo e de todos. Superior até mesmo ao seu partido, o PT, que acaba de ser reduzido a uma estrela sem brilho, sem importância alguma.

O episódio protagonizado pelo líder no Senado, Aloízio Mercadante, na semana passada, dá o tom da batida. Mercadante mostrou-se desolado pelo autoritarismo do Palácio do Planalto, quando da insidiosa engenharia para salvar da guilhotina o pescoço do defectível presidente do Senado, José Sarney.

Para levar a cabo essa missão, o PT desceu aos porões, misturando-se com a lama, imiscuindo-se com o que há de mais fétido na política, tal como já ocorrera em outras ocasiões. Só que, agora, a capitulação diante da pocilga ético-moral foi mais enfática.

Rebelado contra a idéia, Mercadante vestiu a camisa da insubmissão. Não aderiu ao modus faciendi diga-se, nada republicano, e foi enfático na negativa. Porém, viu sua luta tornar-se inglória. Os fatos deixaram-no desatordoado, completamente perdido.

Para ele, havia alternativa a abandonar o posto? Anunciou, então, que essa era a sua decisão. Em caráter irrevogável. Porém, como dizem por aí, tudo é relativo. E não deu outra. Bastou Lula aplicar-lhe uma descompostura e, como era de se esperar, o irrevogável tornou-se revogável.

O líder se viu obrigado a continuar no cargo, ainda que feito zumbi. Sem qualquer autoridade, escondido atrás do bigode, o senador petista vaga pelos corredores do Senado na desconfortável condição de líder que não lidera coisa nenhuma.

Mercadante subjugou-se às determinações de seu superior. O deus da política brasileira falou tá falado! Afinal, Lula é "o cara!". Aí, lembrei-me de outro deus da política - da Alemanha das décadas de 30 e 40 do século passado.

Antes do grande desfecho nazista, Adolf Hitler contava com popularidade interna batendo nas alturas e respeito e admiração no cenário internacional, mesmo entre lídimos defensores da democracia.

O professor de psicologia social do Instituto de Ciências Culturais da Universidade de Essen, Alemanha, Celso Miranda, chega a chamar de amor o que algumas pessoas sentiam por ele.

Outra característica marcante de Hitler foi o estabelecimento de partido único. Lula ainda não chegou lá, mas está perto. Aliciou partidos dos mais variados matizes. Hoje, esses partidos agem praticamente como se não houvesse qualquer fronteira entre eles. Qual a diferença ideológica, por exemplo, de um membro do PMDB para um do PT (resguardadas, é claro, as raras exceções)?

As agremiações partidárias que decidiram manter-se na trincheira dos opositores agem atabalhoadamente. Muitos de seus membros capitularam diante da sanha da corrupção. Por isso, fazem de conta que são oposição, mas, acuados, mostram-se leões rugindo como gatinhos.

À primeira vista, parece que o País caminha para a conflagração. Mas, não se enganem: ainda há juízes em Berlim. A imprensa, a espezinhada imprensa está atenta.

O Olho da Rua


Li e recomendo: O Olho da Rua, da jornalista Eliane Brum, da revista Época (Editora Globo, 2008). Um apanhado das melhores reportagens feitas por ela em vários pontos do País. Não é porque este blogueiro é citado (modéstia à parte), mas porque encerra uma leitura agradável, com jornalismo de verdade, genuína aula para os do meio. Numa linguagem sem rebuscamentos, característica própria da jornalista, Eliane consegue fazer literatura com fatos da vida real, como, aliás, enfatiza o subtítulo. Muito bom, mesmo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tá tudo dominado!

Por Francisco Espiridião

É inegável que o Brasil vive dias de preocupação extrema. Maracutaias as mais vis há muito rasgaram todos os invólucros possíveis e, exuberantes, surfam altaneiras nas ondas da permissividade, da tolerância. De desobediência civil – caso da greve dos professores em Roraima, declarada ilegal enquanto os líderes e demais seguidores não estão nem aí para a decisão – à falta de compostura – escândalos do Senado, por exemplo –, tudo é válido.

Se houvesse uma ampla, geral e irrestrita abertura das cadeias, pondo ladrões, assassinos, estupradores, contrabandistas, pedófilos e afins em liberdade, ninguém ia nem reparar. Muitos desses, por pura questão de sorte, estão aí, livres, leves, soltos, sem que ninguém os incomode. Posam nos gabinetes, de paletó e gravata, em atitude própria de autoridade constituída.

Na minha adolescência, nos anos 70 do século passado, a gente aprendia que devia se espelhar nos vultos históricos do passado e nos homens em evidência naquele momento. Tal ensinamento hoje não tem qualquer sentido. Está totalmente “démodé”.

Espelhar-se, afinal, em quem, hoje? No presidente com 80% de aprovação popular, que fala abertamente na TV a máxima chula “sifú”, referindo-se ao fato de os cidadãos se darem mal em determinado momento? No presidente do Congresso, que ditou ou pelo menos concordou com uma longa rede de atos espúrios, chamados de “secretos”? Ou, em um impoluto desembargador que vende sentenças?

Como espelhar-se em parlamentares – não importa a esfera – que mudam de ideologia com a mesma desenvoltura que trocam de camisa, não tendo qualquer firmeza doutrinária quando o assunto é ética? Aliás, a ética que esses lídimos cidadãos conhecem não é outra que não a do “farinha pouca, o meu pirão primeiro”.

Tudo passa em brancas nuvens. Ninguém se manifesta. Até ensaiaram algum tempo atrás um movimento denominado “Cansei”, que buscava envolver a sociedade num brado de “basta!” às atrocidades a corroer como câncer a moral e os bons costumes dos brasileiros. Mas, tudo em vão. Não se chegou a lugar algum.

De efetivo, aos moldes dos “caras-pintadas” da era Collor, nada. O brasileiro perdeu a capacidade de indignação. Entramos “numas” de que “não tem jeito”, “é tudo assim mesmo”. Enquanto isso, os que detêm o poder – salvo raríssimas exceções – agem abertamente, não mais na calada da noite, metendo a mão no Erário, confundindo o público com o privado, transformando tudo numa grande “casa de tolerância”.

A continuar assim, não demora muito e terão razão aqueles que pregam aos quatro ventos que “Tá dominado, tá tudo dominado!”.

Fifa estuda proibir orações na Copa de 2010

De acordo com jornal espanhol AS, a Fifa pretende proibir as orações e qualquer manifestação religiosa dentro de campo para a Copa do Mundo de 2010, que será realizada na África do Sul. O Vaticano teria entrado em contato com o presidente da maior entidade do futebol, Joseph Blatter, para pedir que reconsidere a proibição.

Na final da Copa das Confederações, os jogadores da Seleção Brasileira se reuniram após conquistarem o título para uma oração dentro de campo e isso provocou a reclamação do presidente da Federação Dinamarquesa, Jim Stjerne Hansen, que afirmou que a "religião não tem lugar no futebol". A Fifa quer regular as manifestações religiosas dos astros do futebol para evitar problemas, mas o Vaticano é contra a medida.

"Blatter e a federação dinamarquesa erraram. É um erro esvaziar o futebol dos valores éticos que a fé cristã e a Igreja Católica defendem há séculos. Espero que eles reconsiderem", afirmou Eddio Constantini.

Comento

Taí uma decisão eivada de interrogações. Algo que, enfim, não se consegue entende mesmo. Se o futebol é infestado de manifetações negativas, como a briga de torcida, por exemplo, a razão maior reside aí: Deus não é bem-vindo nos estádios. Depois, ninguém tem de que reclamar. Né não?

Liberou!

Como previsto, José Sarney, presidente do Senado, foi absolvido das 11 acusações que apresentaram ao Conselho de Ética. Ao saber disso, Benê Ranheta, sobrevivente do massacre do Carandiru, tascou: “Agora é só abrir as portas de todas as prisões do Brasil. Tá liberado!”

(Trancrito do blog de Ze Beto/Jonale)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

EVANGÉLICOS, AS IGREJAS E A MÍDIA

Por FERNANDO RIZZOLO (*)

Chovia muito e a estrada de terra escorregadia fazia o carro deslizar como que se estivesse sobre uma fina manta de gelo. De longe avistei Reinaldo, um rapaz pobre, agricultor, alcoólatra, que com a camisa ensopada pela água da chuva, tentava esquivar-se dos pingos segurando com firmeza sua Bíblia. Ao me aproximar parei e lhe ofereci uma carona. Meio sem jeito, agradeceu com um olhar desarmado e me disse que voltava do culto evangélico. Tinha, enfim, tornado-se "crente" e afirmou isso com certo orgulho, patente no seu gesto determinado e temente a Deus.

Ao chegar em sua casa agradeceu-me e convidou-me para um dia conhecer sua igreja, mesmo sabendo que não sou cristão. Aquele simples trajeto em meio a uma chuva fina, me fez refletir sobre as transformações espirituais que toda religião induz nas pessoas, pois de forma nobre afloram da alma as melhores intenções do ser humano.
Reinaldo é um dos 26 milhões de evangélicos do Brasil, segundo censo de 2000, número que com certeza, nos dias de hoje, deve ter-se elevado consideravelmente.

Não poderíamos deixar de reconhecer que as igrejas evangélicas, independentemente de seus segmentos, contribuem de forma decisiva para a formação da ética, da moral, dos bons costumes, preenchendo uma lacuna e um espaço fértil onde a desesperança, a miséria e a desventura prosperam face à fragilidade sócio-econômica e à falta de oportunidade que ainda persistem no nosso meio, conduzindo os jovens à criminalidade, ao vício e à desintegração familiar.

As várias denúncias elencadas nos últimos anos em relação aos líderes de igrejas evangélicas nos assustam e certamente, cabe ao Judiciário, como já o fez inúmeras vezes, apurar os fatos baseando-se no princípio de isenção religiosa, como é sua marca no Brasil. Contudo, nos parece pertinente uma reflexão sobre o papel da imprensa em relação a essa questão que envolve, de certa forma, essa grande parcela da sociedade brasileira, pois desta feita, quem está sendo julgado são seus líderes religiosos.

Com efeito - e me abstendo da questão criminal em si ajuizada - cabe ao provimento jurisdicional julgar. Mas o que se observa é que existe nos meios de comunicação uma insinuação velada de que ser evangélico no Brasil é sinônimo de estar sendo enganado, ao mesmo tempo que, pouco se demonstra ou valoriza, os atos dos fiéis, a mudança em suas vidas, a fé despertada, a vida reconstruída. Tudo mais é enaltecido: os maus atos dos líderes e a improbidade religiosa, o que por consequência, desqualifica o espírito evangélico renovador, coisa que não deveria acontecer. Nos EUA os evangélicos são responsáveis pelas maiores doações a Israel e no Brasil, observa-se que a simpatia dos evangélicos pelo povo judeu faz com que as diferenças religiosas sejam superadas através do entendimento pela paz e da busca quanto à harmonia das idéias.

Não seria justo que o lado bom de qualquer religião fosse ofuscado pela postura dos líderes, mas assim como é necessário denunciar as improbidades, também é dever da imprensa reconhecer e dar espaço às boas coisas, prestigiando aqueles que como Reinaldo, através da religião, tiveram o firme propósito de renascer com a sua fé, de superarem-se através do amor que nutrem por Deus e com orgulho, dirigem um olhar sereno segurando uma Bíblia, quando dizem: “ - Eu mudei, sou evangélico, estou renascendo. Deus te abençoe.”

(*) Advogado, Pós-Graduado em Direito Processual, Professor do Curso de Pós- Graduação em Direito da Universidade Paulista (UNIP), Coordenador da CDP-OAB/SP, membro CDH-OAB/SP e Editor do Blog do Rizzolo (www.blogdorizzolo.com.br)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Trem da alegria

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) confia na aprovação do projeto que fará o governo federal absorver 12 mil servidores, cuja tutela deveria ter assumido por dez anos após a transformação do Território em Estado de Rondônia. Atualmente custam R$ 30 milhões por mês.

No mesmo trem da alegria poderiam embarcar os ex-servidores de Roraima, também demitidos em razão da implantação do Estado. Apenas uma questão de desenvoltura e competência da classe política roraimense na esfera federal.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aviso aos navegantes

Queremos pôr o trem nos trilhos. Entendemos que ainda há tempo.

Nossa candidatura à diretoria da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do Ex-Território Federal de Roraima está prestes a se tornar realidade.

O Capitão Leomário (reserva remunerada) de presidente, e eu (Subtenente PM Espiridião, também da reserva remunerada) de vice. Alguém precisa pôr ordem nessa bagunça.

Já perdemos muito tempo vendo outras categorias amealharem o que lhes é de direito e nós, só chupando o dedo. Basta!

Os bons que nos sigam!

Devagar com o andor...

Lendo um comentário em determinado blog sobre matéria ali publicada, senti-me ofendido e vou retrucar. Sou jornalista, sim, por convicção (apesar de o ser também por formação acadêmica). Trabalho na Secretaria de Comunicação do Governo de Roraima (cargo comissionado) e não aceito a pecha de ser incompetente. Garanto que não estou ali por conta de qualquer aconchavo político, muito menos pelos meus belos "zoinhos azuis".

Para comprovar minha competência para exercer a função, vale ressaltar que me submeti ao único concurso público realizado pelo Governo do Estado para Jornalista (Analista de Comunicação), e fui aprovado em 17º lugar. Não assumi o cargo em razão de outros impedimentos. Um deles é já estar aposentado - na esfera federal.

Quando se trata de incompetência, não há porque negá-la. Existe, sim, na Comunicação do Governo, assim como também em qualquer área de atuação humana. Isso, porém, não autorização a generalização.

Portanto, devagar com o andor!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Calote deslavado

Não é por nada não, mas a cada dia me convenço de que se este governo Lula acertou em manter a política tucana na área econômica, erra por demais em outras, a exemplo da ética, da decência e da moral.

Para manter a popularidade - algo em torno dos 80% de aprovação -, não se dá por rogado em acochar ainda mais o cinto das Prefeituras Brasil afora, principalmente das pequenas, como a de Boa Vista.

Ao conceder isenções fiscais para carros, linha branca etc., encolheu em 18% o montante do repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

Caloteiro, sim, esse governo Lula. Sequer lembra que prometeu repor as perdas iniciais. O prejuízo nos cofres municipais aumenta mês a mês.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

''Bico'' oficial para os PMs

Editorial do Jornal Estado de S. Paulo, edição impressa de 10/08/2009

O prefeito Gilberto Kassab enviou à Câmara Municipal um projeto de lei que cria gratificações para agentes da Polícia Militar (PM) que trabalhem em batalhões lotados na cidade de São Paulo. A gratificação de até 100% do salário-referência de cerca de R$ 1.800,00 será aplicada às patentes de coronel, tenente-coronel, major, capitão, 1º e 2º tenentes. Subtenentes, sargentos, cabos e soldados poderão receber gratificações de até 70% do salário-referência.

A ideia do prefeito Kassab, certamente carregada de boas intenções, é tanto estimular os policiais militares do Estado a prestar serviços de segurança ao Município, em suas horas de folga, como eliminar a prática dos "bicos", que é o que eles ganham - por sinal ilegalmente - prestando serviço a particulares, em estabelecimentos como lojas, supermercados, padarias, restaurantes, bares, condomínios, etc. Diga-se, antes de mais nada, que isso significaria substituir o "bico" privado pelo "bico" legalizado, mantendo todos os sérios inconvenientes - para não dizer riscos - de um PM trabalhar em seus necessários dias de descanso, tão mais necessários por tratar-se de uma atividade profissional demasiadamente estressante.

Segundo pesquisa de 2007, da Associação de Cabos e Soldados, 80% dos 70 mil praças do Estado - ou 56 mil PMs - faziam serviços extras para complementar o salário. Detectou-se que na capital havia três vezes mais policiais fazendo "bico" do que exercendo o patrulhamento das ruas. O dado é, sem dúvida, impressionante, ao revelar que, em razão da remuneração que recebem, os PMs paulistas já se acostumaram a contar com esse tipo de ganho "extra". Mas o mais óbvio não seria o governo do Estado propiciar uma remuneração mais justa e adequada aos PMs, consentânea com os esforços e riscos da atividade de segurança pública? E será que o hábito de receber bônus dos municípios não acostumará os agentes da PM a só canalizarem seus esforços para os municípios que os concederem?

Há outro inconveniente, porém, que decerto suplanta os já mencionados: trata-se dos servidores da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que já ameaçam abandonar determinadas funções de fiscalização se também não forem beneficiados com essas gratificações. E compreende-se perfeitamente sua animosidade, visto que a força paulistana não mais tem por função apenas a proteção dos próprios municipais ou prestação de segurança a monumentos e equipamentos específicos do Município. Com o salário-base de R$ 837, os 6.500 GCMs argumentam que não têm aumento real há 12 anos, e ainda passaram a acumular a função de combater os camelôs e fazer a abordagem dos moradores de rua, desde que um decreto do prefeito Kassab, de novembro de 2007, determinou que a GCM também deve atuar no combate ao comércio informal.

"Essa proposta foi um tapa na cara de todo guarda (municipal) que passou a acumular o combate ao camelô e a abordagem dos moradores de rua. Qualquer guarda que ficou sabendo hoje da proposta do prefeito ficou abatido. Por isso somos contra essa gratificação do servidor estadual. A Prefeitura já conta com uma polícia própria", observou Clóvis Roberto Pereira, diretor do SindGuardas. Não era de esperar, mesmo, que uma categoria profissional se conformasse em deixar de ganhar o que outra recebe, desempenhando as mesmas funções - e, no caso, correndo os mesmos riscos.

O prefeito tem razão em pretender que a corporação da Polícia Militar de São Paulo se motive, especialmente, em exercer suas funções na cidade de São Paulo, cuja complexidade, no campo da segurança pública, está a exigir forte empenho e entrosamento estreito entre Estado e Município, em operações conjuntas de policiamento e em tudo o mais que possa contribuir para melhorar a segurança dos cidadãos paulistanos, num espaço urbano conturbado pela violência. Sempre haverá a possibilidade de convênios entre instituições estaduais e municipais, no campo da segurança pública - assim como em tantos outros. Que haja, na busca desses caminhos, mais criatividade do que a mera criação de um "bico" para a polícia paulista.

sábado, 8 de agosto de 2009

Princípios da dominação pela propaganda

Artigo publicado originalmente no Alerta Total – www.alertatotal.net, edição de 6 de agosto

Por Maria Lucia Barbosa

Durante quatro eleições presidenciais o PT tentou elevar ao cargo máximo da República o pernambucano Lula da Silva. Por que só na quarta eleição conseguiu? Por que finalmente o ex-sindicalista foi considerado carismático, gênio da raça, “luz do mundo”?

A resposta é simples: porque nas três eleições perdidas a propaganda do PT era fraquíssima. Só quando Duda Mendonça entrou em cena foi que as coisas mudaram. O eleitorado cativo de 30% foi ampliado e eleitores antes avessos ao discurso incendiário do líder sindical se rederam à barba aparada, ao terno Armani, ao discurso conciliador que nada tinha mais a ver com o prometido e nebuloso socialismo petista que, diga-se de passagem, nunca foi esclarecido.

Na propaganda da quarta eleição e, sobretudo, na manutenção do poder petista, o marqueteiro real colocou em prática alguns princípios que ilustrarei com uns poucos exemplos para melhor compreensão das técnicas empregadas.

1 – Simplificação ou inimigo único – É importante ter um símbolo e transformar o adversário em um único inimigo. Os símbolos tem se sucedido: Fome Zero, pré-sal, PAC. O adversário é a “elite”, apesar de Lula e companheiros serem hoje a elite do poder, econômica e política. Faz tempo que o PT largou o macacão e veste Armani. Mas para efeitos externos, elite é inimiga e coisa ruim e o presidente da República um pobre operário.

2– Método de Contagio – Imprescindível reunir vários adversários numa só categoria. Por isso se fala em “oposição” que não deixam o coitado do Lula governar. A realidade mostra que não existe oposição para valer ao governo petista. Tudo está comprado, cooptado, dominado.

3– Transposição – Carregar sobre os adversários os próprios erros e responder ataque por ataque faz parte da dominação, é importante. Assim, os outros são corruptos, imorais, inimigos da pátria. O PT é o único partido ético e sabe reagir ao menor esbarrão. Truculência é antiga lição aprendida em sindicatos e dá medo.

4– Exagerar e Desfigurar – Quem já não ouviu que o impeachment de Lula da Silva, a defenestração de Sarney, a CPI da Petrobrás põem em perigo a governabilidade? Mais uma mentira em que se acredita piamente

5– Vulgarização – Pela boca de Lula o discurso é adaptado ao nível dos menos instruídos. O PT sabe que a capacidade receptiva da massa é limitada, que o povo tem grande facilidade em esquecer e um mínimo de esforço mental, que uma mentira repetida vira verdade e que quanto maior a mentira mais o povo nela acredita.

6– Orquestração – Repetir um numero reduzido de idéias é importante. Para isso se cria um bordão: “nunca antes nesse país”, que vem acompanhado das realizações que só Lula fez desde o descobrimento do Brasil, algo que converge sempre para o culto da personalidade do presidente,

7– Renovação – Informações e argumentos devem seguir ritmo rápido de modo que quando o adversário criticar o público já está interessado em outro fato. Isso tem acontecido, inclusive, com a sucessão de escândalos de corrupção do governo, de tal forma vertiginosa que quando surge um o outro já está esquecido.

8 - Verossimilhança – Outro princípio que se baseia na construção de argumentos a partir de fontes diversas, através de informações fragmentárias. Exemplo: para ajudar o compañero e presidente do Paraguai, o bispo célebre por sua incontinência sexual, Lula da Silva romperá o Tratado de Itaipu onerando mais ainda os brasileiros pelo uso da eletricidade. Nesse caso, Celso Amorim justifica o injustificável com um malabarismo verbal ao dizer que o Tratado restringe a comercialização de energia a “entes” dos dois países – Eletrobrás e Ande – “mas não diz que é cada um em seu país”. Estranhas explicações também foram dadas nos casos da Bolívia, Venezuela, Argentina, quando interesses do Brasil foram sacrificados em nome do projeto de poder de Lula da Silva na América Latina.

9– Silenciação – As questões para as quais não se tem argumentos devem ser encobertas e dissimuladas com a ajuda dos meios de comunicação. Exemplo: enquanto pessoas morrem em corredores de hospitais Lula da Silva diz diante de câmaras e microfones que a Saúde brasileira está perto da perfeição.

10 – Transfusão – É necessário criar um complexo de ódios que possam arraigar-se em atitudes primitivas. Lula e seu governo têm, com êxito, estimulado o ódio de negros contra brancos, de pobres contra ricos. A culpa de tudo é dos “brancos de olhos azuis”.

11 – Unanimidade – Muitos devem ser convencidos de que pensam como todo mundo, de modo a criar a falsa impressão de unanimidade. Isso é visto claramente nas pesquisas de opinião, quando Lula da Silva aparece com altos índices de aprovação.

Estes “Princípios de dominação pela Propaganda”, publicados em 24/06/2009 no Ex-Blog de Cesar Maia, não foram elaborados por Duda Mendonça ou qualquer outro marqueteiro do PT, mas por Joseph Goebbels, chefe de propaganda de Hitler. E se na adiantada Alemanha o Holocausto foi aceito com naturalidade, por que Mahmoud Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel e nega o Holocausto, não pode ser recebido de braços abertos por Lula da Silva, tão afeito aos déspotas mundiais? Como dizia Boris Casoy: “ Tá tudo dominado”.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.