Por Francisco Espiridião (*)
Não há dúvida que a carta do apóstolo Paulo endereçada primeiro aos Filipenses deve ter como destinatários também os crentes dos dias atuais. As recomendações ali existentes são de primordial importância para a nossa caminhada cristã nesses dias maus. A carta é dotada de uma característica importante, que é a exortação à alegria. Alegria que advém não de uma razão qualquer, mas do fato de estarmos no Senhor.
A trajetória do apóstolo de Tarso mostra que ele não estava – nem podia estar – alheio aos problemas que nos afligem cotidianamente. Depois de impor tribulações as mais diversas aos cristãos em nome de um zelo extremado à lei mosaica, que defendia até as últimas conseqüências, depois de ter o encontro pessoal com Cristo, no caminho de Damasco, Paulo sentiu na carne as mesmas vicissitudes. Se há alguém que fora atribulado ao extremo, com razões mil para viver triste, esse alguém era o apóstolo Paulo. Mas, em Cristo, ele aprendeu a tirar de letra as dificuldades da vida (Fp. 4.12-13).
E quando falava em alegria, não se referia apenas a uma situação de gozo durante os períodos de bonança. Essa alegria, quando tudo vai bem, é fácil de ser expressa. Vários momentos de tormento pessoal mostram que o apóstolo era verdadeiro ao exortar que se esteja alegre sempre, não importando as circunstâncias.
Um desses momentos está no capítulo 16 de Atos dos Apóstolos. Lucas registra em sua carta histórica que Paulo e Silas foram lançados na cadeia depois de surrados por ordem dos magistrados judeus. Tudo por terem ousado contrariar os interesses financeiros das pessoas que exploravam uma menina que tinha um espírito adivinhador.
Na masmorra, mesmo com as costas ardendo em razão dos açoites, ao invés de desapontados com toda a situação, eles se achavam orando e cantando hinos a Deus, enquanto os outros presos ouviam. Nem mesmo os castigos físicos a eles impostos, de forma injustificada, foram motivo suficiente para lhes tirar a vontade de louvar e glorificar a Deus.
Logo no primeiro versículo do capítulo quatro da carta aos Filipenses, Paulo nos recomenda expressamente que devemos permanecer firmes no Senhor. Estar firme no Senhor é a principal razão para sermos contagiados com essa alegria (Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.).
Pode o mundo estar caindo sobre nossas cabeças, porém, se estivermos firmes no Senhor, teremos a certeza que Ele nos protegerá segundo a sua vontade. E, assim, nada poderá tirar o regozijo de nossos corações.
O profeta Habacuque sabia bem do que o apóstolo Paulo falava: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (3.17-18).
Essa certeza, no entanto, não deve ficar restrita a nós mesmos. Deve ser conhecida de todos os homens. Na vida cristã não há lugar para servo oculto, como pretendia Nicodemos, que era um dos principais dos judeus e fariseu convicto (João 3). No versículo 5 o apóstolo nos exorta que a nossa moderação deve ser conhecida de todos os homens. E dá a razão para isso: “Perto está o Senhor”. O Senhor tudo vê, tudo sabe. Não dá para escamotearmos nossas atitudes.
Já no versículo 6, Paulo recomenda que não andemos ansiosos por coisa alguma. Nada deve nos tirar o sono. Os nossos anseios e dificuldades devem ser conhecidos diante de Deus, por meio de nossas orações diárias, com ações de graças. O mesmo recomenda o apóstolo Pedro em sua primeira carta: “Lançando sobre Ele (Jesus) toda a vossa ansiedade, pois Ele tem cuidado de vós” (5.7).
Para terminar, que a paz de Deus seja uma constante em nossos corações, pois é ela quem promove em nós a alegria verdadeira. Ela faz com que estejamos sempre vislumbrando tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama (4.8). Assim, não permitiremos que nenhuma raiz de amargura brote em nossos corações, e que todo o nosso ser seja verdadeiramente para o louvor da Sua Glória.
Que possamos tornar o estribilho do Hino 403 do Cantor Cristão uma verdade eterna em nossas vidas: “Eu alegre vou em sua luz/ pois agora Cristo me conduz/ desde que me achou da morte me livrou/ sigo sempre alegre, Cristo me salvou”.
(*) Jornalista, membro da Igreja Batista da Liberdade – Boa Vista - RR; e-mail: fe.chagas@uol.com.br
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