sexta-feira, 7 de março de 2014

Novos velhos tempos



Francisco Espiridião

Apesar de o Congresso Nacional ter comemorado na terça-feira (25), efetivamente é hoje o dia maior do Plano Real. Era uma segunda-feira, vinte anos atrás, quando o Jornal do Brasil estampou em manchete de duas linhas: “Governo cria URV, dá abono para funcionalismo e pune especuladores”. 

O plano vinha sendo alinhavado havia alguns meses, desde que Fernando Henrique Cardoso assumira o Ministério da Fazenda, sob o comando de Itamar Franco, presidente. O desfecho se deu no domingo, dia 27, quando o mineiro convocou ao Palácio do Planalto seu ministério, e permaneceu trancado com a “moçada” por oito longas horas.

O resultado foi a publicação, no dia seguinte, da Media Provisória (MP) 434. Os preceitos da dita-cuja criavam a Unidade Real de Valor (URV), uma moeda virtual que tinha o peso de 1 dólar, ou 647,50 cruzeiros reais no dia do lançamento, e exatos 2.750 cruzeiros reais na data da implantação do Real. 

O seleto grupo liderado por FHC era formado por Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Winston Fritsch. Um timaço! Depois de brigas e reconciliações, costuraram aquele que viria, de fato, quebrar todos os paradigmas da economia nacional, jogando no lixo a cultura da hiperinflação, tão arraigada no seio da sociedade. 

Além de dar estabilidade econômica ao país, com uma moeda forte, o Real, que entraria em circulação no dia 1 de julho daquele mesmo ano (1994), os ditames da MP creditavam a FHC a missão de desindexar os contratos, renegociar a dívida externa, manter preços e salários livres, salário mínimo reajustado anualmente (em 1994 ele era de R$ 70), além da aceleração do processo de privatização.

Ao ser lançada, valendo a partir de 1º de março daquele ano, a URV causava uma bagunça generalizada na cabeça de quem muito pouco entendia de economia. O principal dos confundidos com a novidade, confesso, era eu. E olha que demorou para eu entender os meandros da coisa.

Naqueles dias, lembro-me, mandei lavar o carro em um posto. Achando ruim, paguei o que me cobraram. Poucos dias depois, descobri que a dor no bolso tinha sobejas razões. O dono do lava-jato, não sei se pela conturbação do momento ou por aproveitar a deixa, havia me metido a mão em algo parecido com oito vezes mais que o valor de mercado.

Ainda quis voltar lá e pedir, pedir não, exigir o ressarcimento do que paguei a mais. Mas aí, pensei melhor. “Ele vai me chamar de mané”. Seria passar o recibo na minha idiotice. Desisti, é claro.

Mas isso são águas passadas. Queria aqui chamar a atenção para outra face da questão. Não é que o PT, o impoluto Partido dos Trabalhadores, já naquela ocasião, voltara-se contra o plano, chamando-o de “engodo eleitoral”?

Tentou de todas as formas descontruir aquele “gol de placa” desenhado por FHC e seus pupilos. Além de ter votado contra o Plano, o PT ainda chegou a ingressar com Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.

O STF jamais chegou a julgar a tresloucada ação. Mas... Mas se tivesse, quem garante que eu estaria aqui falando dessas e de outras “cositas” menos interessantes?

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