segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Escolas de samba sim, pois cultura não pode morrer!

Por Jacildo Bezerra (*)

(Leia primeiro, comento abaixo, em azul)

Como de costume estava eu vagando pelas páginas do Fontebrasil e me deparei com um artigo do ilustre amigo Francisco Esperidião que tecia comentários sobre o repasse feito as Escolas de Samba de Boa Vista pelo Paço Municipal. Segundo ele, em dois anos da administração da ex-prefeita Teresa Jucá (95 e 96) não houve carnaval de rua e nem por isso as pessoas foram ao suicídio coletivo.

Beleza de comentário, porém sem fundamento, pois corrobora o pensamento de muitas pessoas que hoje são contra a cultura que se desenvolve, ou se engatinha a passos lentos em Roraima dado a gestores governamentais com esse pensamento.

Vale ressaltar que os recursos para as Escolas de Samba feito pela Prefeitura de Boa Vista foi o mesmo do ano passado, em função justamente da redução do repasse do FPM, fonte maior de recursos da Prefeitura. No mais frise-se que esses valores são garantidos no orçamento municipal, aprovado na Câmara de Vereadores, tudo limpo e às claras.

Da mesma forma como na época de carnaval surgem os pseudo-defensores da boa e reta aplicação dos recursos públicos, com a velha ladainha:”Ah, mas se aplicasse na educação, na saúde, seria melhor!”. Mas esses setores também não tem seus recursos garantidos em lei? Tem sim senhor agora se não são aplicados e os serviços oferecidos não são de primeira, não é culpa das escolas de samba, das quadrilhas, dos grupos folclóricos, que são manifestações da cultura popular de nosso povo, trazidas e/ou criadas e mantidas há séculos na tradição de nossa gente.

Enquanto vivemos uma mudança de mentalidade em nível nacional com a implementação em todo o país do Sistema Nacional de Cultura, que entre outras ações prevê a criação dos Fundos de Desenvolvimento Cultural nos estados, com a garantia em lei de 1,5% do orçamento na área cultura; onde a sociedade civil se aglutina em tono da Segunda Conferência Nacional de Cultural, que acontece em março em Brasília, a cultura de Roraima urge e clama por pessoas que a defenda e apóie.

Há dez anos trabalhando com Escola de samba em Boa Vista sei da luta e das dificuldades com que as mesmas (ou a agremiação que defendo – Império Roraimense) enfrentam para se manterem unidas e fortes, mesmo sem o apoio devido por parte do poder público, que não se resumiria somente a recursos financeiros, mas também a estrutura física adequada (barracões próprios) e apoio. Cada centímetro de tecido, cola, lantejoula, paetê custam caro, e muitos desses materiais vem de fora, e as dezenas de pessoas que trabalham com alegoria, fantasias, prestando serviços são profissionais e precisam ser remunerados. E quem disse que as escolas não se preparam financeiramente para o carnaval. A Império Roraimense mantém desde novembro artistas vindo de Manaus e Parintins trabalhando, e o repasse da Prefeitura e do Governo saíram ou saem quando? Antes de mais nada, um bom articulista quando vai falar de um assunto é bom ter conhecimento de causa, e se não tiver busca falar com quem sabe.
Jacildo Bezerra é Relações Públicas da Escola de Samba Império Roraimense

Comento
 
O artigo acima, de Jacildo Bezerra, é uma resposta a minha crônica publicada neste blog e no Fontebrasil no dia 4 deste mês, com o título "Ô Dúvida Cruel!".

Acho que o amigo e jornalista Relações Públicas da Escola de Samba Império Roraimense não entendeu bem a minha proposta.


Em momento algum eu critico a aplicação de recursos na cultura local. Muito menos sou contra o gosto tupiniquim pelo Carnaval.


Acho mesmo que cada um faz o que quer da sua vida, apesar de, também, me achar no direito de mostrar que Jesus é o caminho, a verdade, e a vida. Confesso que não gostaria que alguém fosse contra a minha preferência pelos cultos em minha igreja. Daí...


Daí que o que eu questionei na minha crônica, ilustre amigo Jacildo, foi o fato de a Prefeitura estar em situação crítica, amargando perdas estratosféricas de recursos, e, ao mesmo tempo, abrir mão de valores tão expressivos para que a festa se realize.


Quando argui a questão da administração, é porque aprendi, ainda pequeno, filho de singelo guarda territorial, que essa palavrinha - administração - implica em definição de prioridades.


Eu não posso pensar em comemorar meu aniversário com "uma festa de arromba" ou oferecendo um lauto jantar para 500 talheres, se ganho salário mínimo. Vai faltar o leite dos bruguelinhos.


Não, amigo, não usei do farisaísmo típico de Judas, o Iscariotes, que criticou Jesus por aceitar ter os pés lavados com o caríssimo bálsamo da mulher pecadora.


Longe de mim ser um dos "pseudo-defensores (sic) (pseudodefensor, pela nova ortografia) da boa e reta aplicação dos recursos públicos”.


Creio, tão-somente, que a cultura pode esperar. Já o ser humano desprovido de recursos para remédios que, por ventura, venham a faltar nos postos de saúde municipais, não.


Portanto, caríssimo amigo, é só uma questão de bom senso.

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