segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ainda há juízes em Berlim

Por Francisco Espiridião

Se hoje fosse levado a termo um plebiscito para estabelecer se Luis Inácio Lula da Silva merece continuar presidente da República indefinidamente, qual seria o resultado? Pelos níveis de popularidade que tem, não é difícil prever. Afinal, a pessoa do presidente está acima de tudo e de todos. Superior até mesmo ao seu partido, o PT, que acaba de ser reduzido a uma estrela sem brilho, sem importância alguma.

O episódio protagonizado pelo líder no Senado, Aloízio Mercadante, na semana passada, dá o tom da batida. Mercadante mostrou-se desolado pelo autoritarismo do Palácio do Planalto, quando da insidiosa engenharia para salvar da guilhotina o pescoço do defectível presidente do Senado, José Sarney.

Para levar a cabo essa missão, o PT desceu aos porões, misturando-se com a lama, imiscuindo-se com o que há de mais fétido na política, tal como já ocorrera em outras ocasiões. Só que, agora, a capitulação diante da pocilga ético-moral foi mais enfática.

Rebelado contra a idéia, Mercadante vestiu a camisa da insubmissão. Não aderiu ao modus faciendi diga-se, nada republicano, e foi enfático na negativa. Porém, viu sua luta tornar-se inglória. Os fatos deixaram-no desatordoado, completamente perdido.

Para ele, havia alternativa a abandonar o posto? Anunciou, então, que essa era a sua decisão. Em caráter irrevogável. Porém, como dizem por aí, tudo é relativo. E não deu outra. Bastou Lula aplicar-lhe uma descompostura e, como era de se esperar, o irrevogável tornou-se revogável.

O líder se viu obrigado a continuar no cargo, ainda que feito zumbi. Sem qualquer autoridade, escondido atrás do bigode, o senador petista vaga pelos corredores do Senado na desconfortável condição de líder que não lidera coisa nenhuma.

Mercadante subjugou-se às determinações de seu superior. O deus da política brasileira falou tá falado! Afinal, Lula é "o cara!". Aí, lembrei-me de outro deus da política - da Alemanha das décadas de 30 e 40 do século passado.

Antes do grande desfecho nazista, Adolf Hitler contava com popularidade interna batendo nas alturas e respeito e admiração no cenário internacional, mesmo entre lídimos defensores da democracia.

O professor de psicologia social do Instituto de Ciências Culturais da Universidade de Essen, Alemanha, Celso Miranda, chega a chamar de amor o que algumas pessoas sentiam por ele.

Outra característica marcante de Hitler foi o estabelecimento de partido único. Lula ainda não chegou lá, mas está perto. Aliciou partidos dos mais variados matizes. Hoje, esses partidos agem praticamente como se não houvesse qualquer fronteira entre eles. Qual a diferença ideológica, por exemplo, de um membro do PMDB para um do PT (resguardadas, é claro, as raras exceções)?

As agremiações partidárias que decidiram manter-se na trincheira dos opositores agem atabalhoadamente. Muitos de seus membros capitularam diante da sanha da corrupção. Por isso, fazem de conta que são oposição, mas, acuados, mostram-se leões rugindo como gatinhos.

À primeira vista, parece que o País caminha para a conflagração. Mas, não se enganem: ainda há juízes em Berlim. A imprensa, a espezinhada imprensa está atenta.

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