quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tá tudo dominado!

Por Francisco Espiridião

É inegável que o Brasil vive dias de preocupação extrema. Maracutaias as mais vis há muito rasgaram todos os invólucros possíveis e, exuberantes, surfam altaneiras nas ondas da permissividade, da tolerância. De desobediência civil – caso da greve dos professores em Roraima, declarada ilegal enquanto os líderes e demais seguidores não estão nem aí para a decisão – à falta de compostura – escândalos do Senado, por exemplo –, tudo é válido.

Se houvesse uma ampla, geral e irrestrita abertura das cadeias, pondo ladrões, assassinos, estupradores, contrabandistas, pedófilos e afins em liberdade, ninguém ia nem reparar. Muitos desses, por pura questão de sorte, estão aí, livres, leves, soltos, sem que ninguém os incomode. Posam nos gabinetes, de paletó e gravata, em atitude própria de autoridade constituída.

Na minha adolescência, nos anos 70 do século passado, a gente aprendia que devia se espelhar nos vultos históricos do passado e nos homens em evidência naquele momento. Tal ensinamento hoje não tem qualquer sentido. Está totalmente “démodé”.

Espelhar-se, afinal, em quem, hoje? No presidente com 80% de aprovação popular, que fala abertamente na TV a máxima chula “sifú”, referindo-se ao fato de os cidadãos se darem mal em determinado momento? No presidente do Congresso, que ditou ou pelo menos concordou com uma longa rede de atos espúrios, chamados de “secretos”? Ou, em um impoluto desembargador que vende sentenças?

Como espelhar-se em parlamentares – não importa a esfera – que mudam de ideologia com a mesma desenvoltura que trocam de camisa, não tendo qualquer firmeza doutrinária quando o assunto é ética? Aliás, a ética que esses lídimos cidadãos conhecem não é outra que não a do “farinha pouca, o meu pirão primeiro”.

Tudo passa em brancas nuvens. Ninguém se manifesta. Até ensaiaram algum tempo atrás um movimento denominado “Cansei”, que buscava envolver a sociedade num brado de “basta!” às atrocidades a corroer como câncer a moral e os bons costumes dos brasileiros. Mas, tudo em vão. Não se chegou a lugar algum.

De efetivo, aos moldes dos “caras-pintadas” da era Collor, nada. O brasileiro perdeu a capacidade de indignação. Entramos “numas” de que “não tem jeito”, “é tudo assim mesmo”. Enquanto isso, os que detêm o poder – salvo raríssimas exceções – agem abertamente, não mais na calada da noite, metendo a mão no Erário, confundindo o público com o privado, transformando tudo numa grande “casa de tolerância”.

A continuar assim, não demora muito e terão razão aqueles que pregam aos quatro ventos que “Tá dominado, tá tudo dominado!”.

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