Informações oriundas do Ministério da Defesa e publicadas em órgãos de imprensa asseguram que 200 mil militares brasileiros estão sendo empregados no mutirão de combate ao mosquito Aedes aegypti. Uma verdadeira guerra e para os que têm conhecimento do número de militares das Forças Armadas, esse efetivo anunciado é surpreendente.
Nesse emprego, válido em seu mérito, a quantidade de militares empenhados causa real preocupação. É sinal de que nossas fronteiras e organizações militares estão desguarnecidas, nossos navios estão atracados ou à deriva e os nossos aviões, sem tripulação para a condução de nossas autoridades para ouvirem suas bases.
As Forças Armadas, no período da Nova República, têm sido empregadas constantemente em “ações complementares”, com o objetivo de dar apoio à população não só em calamidades de toda ordem, mas também em ações de caráter social, a substituírem órgãos que não têm capacidade ou competência para conduzir com eficácia tais operações. O Exército, aliás, adota o lema “Braço Forte - Mão Amiga”, está representando o apoio à população brasileira.
Nos governos petistas esse emprego é de crescimento constante, parecendo não medirem consequências. “Chamem o Exército” é um mote a ecoar nos corredores de Brasília e até mesmo no Palácio do Planalto. Talvez ele represente fielmente o que já foi dito por um de seus líderes: “É uma mão de obra barata, nada questiona nem entra em greve”. Sem dúvida, uma visão de sindicalistas.
Essa “guerra ao mosquito” representa também uma tentativa do governo central de atingir um grau mínimo de credibilidade. Efetivos expressivos das Forças Armadas – a instituição de maior credibilidade no País –, o noticiário intenso da mídia televisiva e a presença de autoridades do primeiro escalão governamental nas grandes capitais são fatos que assinalam uma jogada de marketing.
Para renomados infectologistas e pesquisadores do vírus, não será o empenho dos militares que vai atenuar a gravidade da epidemia. Asseguram não só que a “guerra ao mosquito” poderá desmoralizar as Forças Armadas, como também que os elevados recursos empenhados seriam mais bem aplicados em pesquisas ou no aparelhamento de hospitais e postos médicos.
É preciso deixar claro que essa ação deve ser temporária, sob pena de as Forças se tornarem uma estatal com garantia de ineficiência, como as demais. Claro que não se pode negar nem desconhecer que essa é uma ação meritória. Outras “ações complementares” já influenciam as missões constitucionais das Forças Armadas.
É tempo de relembrar com ênfase o escritor do Império Romano do século IV, Publius Vegetius: “Si vis pacem, parabellum”! (“Se queres a paz, prepara-te para a guerra!”). Portanto, seguindo essa máxima, a ação militar deve ser temporária, sob pena de as Forças Armadas se tornarem uma ‘Zicabrás’...
*O autor é general de Exército R/1 e foi chefe do Estado-maior do Ministério da Defesa.
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