Por Francisco Espiridião
Ainda
que o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros não cite textualmente, existe
uma diferença fundamental entre o jornalista e o assessor de imprensa. O
jornalismo, por sua essência, é crítico. Bicho solto. Não aceita cabresto. O
compromisso firmado é com a própria consciência. Poucos são os
que conseguem isso, haja vista muitos serem os entraves naturais nesse mundo
hipócrita e dissimulado em que vivemos.
Já
a assessoria de imprensa, esta mantém compromisso com o órgão a que se propõe apoiar.
Não se quer aqui dizer que o jornalismo seja altruísta e a assessoria de
imprensa, subserviente. Cada um destes segmentos - jornalismo ou assessoria -
tem, com a maior clareza, os percalços da estrada a que se propõe percorrer.
Seja ela esburacada ou devidamente pavimentada.
Vale ressaltar que tanto uma como a outra são
atividades dignas. Uma não desmerece a outra, apesar de, como água e óleo, não se misturarem.
O
jornalismo tem como escopo uma visão ampla da sociedade e para ela deve dar a
última gota de sangue, deve ir às últimas consequências. O jornalismo, de fato,
tem como principal mote a independência editorial. Esta deve estar à frente de
todo o processo de criação. Enfim, o jornalismo é um órgão fiscalizador das
instituições públicas.
Já a assessoria de imprensa abraça um projeto
restrito ao perímetro que lhe cabe, ou seja, sua ação é previamente delimitada
e tem um objetivo específico: vender da melhor maneira possível a imagem da
instituição à qual o profissional está atrelado.
No caso da assessoria de imprensa, cabe como uma luva a máxima de Rubens Ricúpero: "Eu não tenho escrúpulos.
Eu acho que é isso mesmo: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente
esconde". Se nessa máxima há algo que precisa ser corrigido, trata-se da
primeira. Não há nenhuma falta de escrúpulo em adotar uma lógica factual, aquela
que diz que não se deve lavar roupa suja em público.
É isso mesmo. Na assessoria de imprensa, o que é bom a gente fatura e o
que é ruim a gente guarda para nós. Sempre com a responsabilidade de buscarmos
uma saída para que essa, digamos, discrepância não permaneça escondida por
muito tempo. Até porque não há nada que possa permanecer escondido por toda a
vida. Um dia aflora.
Querer
misturar alhos com bugalhos deságua em confusão. Não se pode querer fazer
jornalismo na assessoria de imprensa. O patrão te manda embora na primeira
investida. A recíproca é verdadeira. Tratar o jornalismo como se fosse
assessoria de imprensa é o atalho mais rápido para uma demissão de verde e
amarelo.
Quando
se consegue fazer assessoria de imprensa nas páginas de um veículo de imprensa,
este perde-se no labirinto da irrelevância, deixando de servir à sociedade e passando
a ser mais um folhetim de qualquer coisa, de uma ideologia ignota ou quereres outros
que não o da sociedade à qual o veículo pretende servir. Vira piegas. Não
dá!
Interessante
é que a gênese de ambos - assessoria de imprensa e jornalismo - está no curso
de Comunicação Social. E, para completar a ambiguidade e salpicar mais
discórdia nesse molho indigesto, não existe nem mesmo uma definição, tal como
ocorre com a profissão de relações públicas: Comunicação Social com Habilitação
em Relações Públicas.
No
caso dos irmãos gêmeos porém não univitelinos - jornalismo e assessoria de
imprensa -, nem essa ressalva existe. Ambos são filhos do mesmo curso de
Comunicação Social e, para complicar mais ainda, segue o tal do "com Habilitação
em Jornalismo". Daí a confusão a nos cozinhar os miolos e dar um nó górdio
nas nossas cabeças.
Eu
prefiro dizer que quando ponho os pés no batente da instituição onde presto
serviços como assessor de imprensa, deixo o jornalista que habita em mim do
lado de fora. E não se tome aí por uma questão condenável de dupla
personalidade, mas sim, de um caso de sabedoria que me leva a pôr cada coisa em
seu lugar. Ignorar isso é mediocridade.
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