MARINA GAZZONI E NAIANA OSCAR - O ESTADO DE S.PAULO
05 Abril 2016 | 05h 00
Sócio da Casas Bahia e dono de negócios nas áreas de
aviação e imobiliária, Klein defende saída de Dilma
O empresário Michael Klein,
filho do fundador da Casas Bahia e atualmente dono de negócios no segmento de
aviação, automóveis e imobiliário, diz já ter visto o Brasil em crises
econômicas piores. Ele admite, no entanto, que a incerteza política atrapalha o
País e atravanca o investimento das empresas, especialmente daquelas que
precisam de crédito. Para ele, seria melhor para o País que a presidente Dilma
Rousseff saísse do governo. “Como ela não tem maioria no Congresso, acho melhor
ela sair. Sem o apoio de deputados e senadores, nada é aprovado, e isso trava o
mercado como um todo”, afirmou.
Klein
diz que o impeachment não é golpe. “Quando ela assumiu esse cargo, sabia que
estaria sujeita a regras e que uma das penalidades poderia ser o impeachment.”
O empresário considera que o maior erro de Dilma foi “mentir” durante a campanha
para sua reeleição. “Ela disse que o País estava bem, que o preço da energia
estava assegurado e que o combustível não ia subir. E fez exatamente o
contrário. Ninguém gosta de ser enganado.” A seguir, trechos da entrevista.
Como o sr. vê essa confusão
toda na economia e na política?
Desde
que minha família veio para o Brasil, há mais de 60 anos, já passamos por
diversas crises, troca de moeda, confisco, tablita, greves, anos de PIB
negativo. Tivemos muitos altos e baixos. Eu, assim como outros empresários,
estou olhando o longo prazo. Não sou um investidor imediatista, que abre uma
empresa para ter lucro no primeiro ano. Por isso, o curto prazo me interessa
menos que o longo prazo.
Os economistas têm
classificado essa crise como a pior da história do País. O sr. diz que já viu
piores?
Não
que essa crise seja amena, mas, sim, acho que já passamos por situações piores.
Quando a inflação estava em patamares altíssimos, ela corroía o salário das
pessoas, que perdiam o poder de compra. Hoje, a inflação beira os 10% ao ano.
Podia ser menor? Claro que podia, mas não está em 70% ao mês. Não vou discutir
com economistas que têm uma série de dados sobre a situação econômica. Mas
posso falar do que estou fazendo. Acabei de abrir uma empresa (uma
concessionária Mercedes-Benz) e contratei 25 pessoas. Em dois anos, minha
empresa de táxi aéreo comprou 13 aeronaves para fazer fretamento de voos. Estou
investindo para ter um negócio funcionando quando o Brasil voltar a crescer.
O sr. parece bem otimista.
Qual sua perspectiva para a economia neste ano?
Imagino
que no segundo semestre as coisas já estejam mais claras na economia e na
política. Independentemente de a presidente (Dilma Rousseff) sair ou não, já
teremos ao menos uma ideia de quem vai ditar as novas regras do jogo e que
regras serão essas. Se ela ficar, terá de fazer alguma coisa. Se ela sair, quem
entrar no lugar vai ter de apresentar uma definição.
O sr. prefere que ela saia
ou que ela fique?
Como
ela não tem maioria no Congresso, acho melhor ela sair. Sem o apoio de
deputados e senadores nada é aprovado e isso trava o mercado como um todo.
O vice-presidente Michel
Temer tem condições de fazer essa amarração política?
Acho
que sim. Pelo que tenho visto, o Temer está tentando costurar o apoio de outros
partidos e fazer uma composição para seguir até 2018.
Como o sr. vê as
manifestações a favor do impeachment? O sr. participaria delas?
Mesmo
no anonimato, eu não iria. Muitas das pessoas que estão nas ruas pedindo a
saída da presidente votaram nela em 2014. Ela ganhou nas urnas para ficar
quatro anos.
Seria golpe, então?
Não,
não é golpe. Quando ela assumiu esse cargo, sabia que estaria sujeita a regras
e que uma das penalidades poderia ser o impeachment. Sou a favor de que a
Justiça determine se ela deve continuar ou não. O Supremo Tribunal Federal tem
de decidir se ela é culpada ou não por algum ato. Aí, automaticamente, o
Supremo decidindo, é o que deve valer. Isso está acima do Congresso. E por que
eu defendo tanto o Supremo? Porque se não for assim, qualquer congressista pode
negociar seu voto a favor ou contra por qualquer troca de cargo. Quem pode
tirar um presidente do cargo é o Supremo, que é uma força maior do que o
próprio presidente.
Qual foi o maior erro de
Dilma?
O
maior erro foi a mentira. Tem um ditado antigo de criança que diz que mentira
tem perna curta. Na campanha de reeleição, ela disse que o País estava bem, que
o preço da energia estava assegurado, que o combustível não ia subir. E não
cumpriu nada do que prometeu. Ninguém não gosta de ser enganado. Ela deveria
ter dito que a inflação iria subir no ano seguinte, porque ela ia ter de fazer
um ajuste no preço da energia, do combustível. Mas, se ela falasse a verdade,
certamente não se elegeria. Muita gente votou na Dilma achando que estava tudo bem,
que ia continuar trabalhando, colocando álcool ou gasolina no seu carro flex no
fim de semana, e não foi o que aconteceu.
Existe uma lição aí, não?
A
lição é essa. Entendo que o candidato não quer apresentar um dado catastrófico
sobre o que vai acontecer, mas ele precisa dar uma sinalização realista do que
é possível acontecer. Eu não sou político. Não sei se para ser político precisa
mentir ou omitir. O Collor também caiu porque mentiu. No discurso, ele disse
que não ia ter confisco da poupança. E o que fez? As pessoas se sentiram usadas
e por isso se revoltaram. Com toda razão. É melhor não prometer nada do que
prometer e não cumprir.
O que pode acontecer com o
País se a Dilma continuar?
Depende
se ela vai tomar as medidas necessárias para o País voltar a crescer ou, pelo
menos, parar de cair. A nota de crédito do Brasil piorou porque lá fora estão
vendo que tem alguma coisa errada. Nós temos, sim, que nos preocupar com o que
os bancos internacionais falam, com o que o FMI fala. E precisamos agir para mostrar
a eles que não estamos tão frágeis a ponto de dar um calote. O País não cresce
porque fez uma aposta em commodities, em matéria-prima, que não gera tanto
emprego. Agora, não consegue aumentar a exportação porque no mundo inteiro o
preço das commodities caiu.
Quais são as medidas mais
urgentes para colocar o País nos eixos?
O
caminho é gerar emprego na indústria e no comércio. É preciso garantir uma
estabilidade para que as pessoas tenham confiança para consumir. Ultrapassar 10
milhões de desempregados é algo muito negativo para o País. Além disso, os
sindicatos estão mais preocupados em pedir reajuste do que em manter a
estabilidade para os empregados. Tem gente sobrando na indústria, a
produtividade é negativa e os sindicatos querem reajuste.
Como a crise está afetando o
varejo?
O
varejo sofre com o desemprego. Por enquanto, continuamos vendendo a prazo e
oferecendo cartão de crédito para o pessoal. Em época de dificuldade, o varejo
amplia o prazo para aumentar a venda. Se o desemprego crescer até o fim do ano,
haverá inadimplência e a situação vai piorar.
Mas já tem muita empresa
fechando loja e pedindo recuperação judicial.
Quem
dependia de recurso bancário e não estava capitalizado, de fato, teve mais
dificuldade, porque os bancos fecharam as linhas de crédito. Quem investiu e
não consegue retorno do capital, vai acabar sofrendo mais.
Que medidas fariam o
empresário voltar a contratar?
Redução
de impostos. A parte fiscal é a que mais pesa no preço do produto. Precisamos
de redução de IPI, de ICMS, alguma coisa para que pudesse manter o incentivo ao
setor produtivo. Mas se você reduz imposto de um lado, tem de subir em outro.
Bem ou mal, uma coisa que pode ser feita é voltar com a CPMF. Eu entendo que
ela é um mal necessário. Não é que eu seja a favor, mas é melhor do que onerar
o setor produtivo.
Sob críticas, o governo já
tem buscado novas ações de estímulo ao crédito, mas não há demanda para isso.
Não
tem demanda porque as pessoas estão com receio de perder o emprego lá na
frente. O caminho certo seria fazer algo para as indústrias gerarem emprego e
estabilidade.
O economista Marcos Lisboa
costuma dizer os empresários brasileiros também têm sua parcela de culpa na
crise econômica. O sr. concorda?
Eu
posso dizer que sou isento de responsabilidade, porque eu nunca pedi nada para
o governo. Eu, particularmente, não sei nem qual é endereço do BNDES. O
empresário que estava acostumado a receber as benesses do governo, a taxas de
juro reduzidas, esse é responsável também. Mas quem não pediu nada, não pode
ser responsabilizado pela crise, porque ele não contribuiu para aumentar o déficit
da Previdência ou alguma coisa nesse sentido.
Por que o sr. nunca recorreu ao
BNDES?
É
crédito barato, mas você tem de devolver esse dinheiro. Que seja o juro mais
baixo, um dia você vai ter de pagar.
Hoje é um luxo estar nessa
posição de não depender e não ter feito negócio com governo?
Eu,
minhas empresas e a própria Casas Bahia nunca vendemos um liquidificador para o
governo. Há 60 anos recebemos ofícios de prefeituras, com as promoções da Casas
Bahia anunciadas no jornal, dizendo que querem comprar algum produto. Nunca
respondemos. Meu pai dizia que construiu a Casas Bahia para vender para a Dona
Maria. Uma empresa de varejo que vai trabalhar para o consumidor não pode
misturar as coisas e fazer negócios com o governo.
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