sábado, 1 de outubro de 2016

O INVISÍVEL PAPANGU

FRANCISCO ESPIRIDIÃO*
Já está virando piada de mau gosto. Semana passada, um dos presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), líder de facção criminosa, deu um ‘chapéu’ na segurança interna, passando dois dias dado como foragido.
Para quem não conhece o interior da PAMC, aquilo é um labirinto só. O poder público há muito perdeu o controle do portão principal das celas para dentro. Lá acontece de tudo. Festas regadas a muita bebida, comércio deliberado de entorpecentes, celulares e outros ilícitos, fatos soberbamente divulgados pela imprensa.
“Papa Angu”, como é conhecido o homicida Jorge Nascimento Lopes, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), era o quinto envolvido no “justiçamento” por esfaqueamento do também homicida Jairo Júlio de Moraes, o 'Cowboy', um dos líderes da facção Família do Norte (FDN). O crime ocorreu na manhã de sexta-feira (16).
“Foragido”, coisa nenhuma. Papa Angu não chegou a sair do presídio. A segurança externa, sob a responsabilidade da Polícia Militar, abortou o plano de fuga em massa previsto para ocorrer naquele mesmo dia – sexta-feira –, depois de despacharem Cowboy para o outro plano.
A direção do presídio tinha certeza de que ele permanecia enfurnado em alguma das muitas tocas e locas ali existentes. E haja busca. Enquanto a segurança procurava numa ala, os comparsas faziam o traslado de Papa Angu para outra.
A guerrinha de gato e rato irritou o secretário-adjunto de Justiça e Cidadania, Major Francisco, que deu o ultimato: ou os presos entregariam Papa Angu ou o tratamento seria endurecido de forma a deixá-los a pão e água. Uma das primeiras medidas seria a suspensão da visita dos familiares, algo sagrado para os internos.
Não demorou muito, o gato venceu a parada. Papa Angu foi entregue às autoridades pelos comparsas, ainda no domingo (18). Para não parecer feio à instituição Sejuc, foi repassado à imprensa que a segurança interna o havia localizado. Isso, porém, não é caso para grandes estresses. Entregou-se ou foi achado, o importante é que Papa Angu não passará batido por mais este crime.
Papa Angu não foi o primeiro a tornar-se invisível para a Polícia nos intestinos da PAMC. Em julho de 2013, o ex-detento Waldiney Alencar Souza tentava, num dia de visita, repassar aos ex-companheiros de cela um quilo de drogas, entre maconha e cocaína, 178 latas de cerveja e alicates para cortar arames farpados. Flagrado pela segurança interna, pulou para dentro do presídio e lá, escafedeu-se. Foi descoberto três dias depois.
O sumiço do líder de facção criminosa dentro da PAMC expõe o quanto o crime marcha à frente do Estado. Apenas uma pequena mostra. Muito mais rola nesse submundo, deixando ao desalento uma população que, para se proteger, recorre às grades em portas e janelas. Tremenda inversão de valores.
* Jornalista e escritor; e-mail fe.chagas@uol.com.br

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