sábado, 17 de setembro de 2016

O triste fim de Lula

FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)
Confesso um deslize imperdoável: votei no Lula para o primeiro mandato, em 2002. Tão envolvido que estava, votei nos dois turnos, o que é pior. Mas a ‘noiva’ não conseguiu manter-se fiel nem mesmo durante a lua de mel. O enlevo durou menos de três meses. A partir daí, já me via escrevendo cobras e lagartos sobre o dia a dia da Presidência petista. O que escrevia – publicado no extinto jornal BrasilNorte e no site Fontebrasil – demonstrava minha desilusão com aquilo que nutria como, digamos, uma sutil esperança.
Em 2004, publiquei coletânea desses artigos jornalísticos em forma de livro. Título presunçoso: “Até Quando? Estripulias de um governo equivocado”. O equivocado era, na verdade, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, até então festejado por gregos e troianos. Só não convencia a mim. Um dos episódios foi o quebra-quebra promovido pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) no Congresso, em junho de 2003. E quem disse que o ato dos trogloditas incomodou o governo?
O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse, logo após esse ato de 2003, que não havia, por parte do governo, leniência ou excesso de repressão em relação aos movimentos sociais. “O governo não está sendo leniente. A questão social não é uma questão de polícia. Essa é uma ideia dos anos 30. Não vamos agir assim, por mais que se tente tirar proveito da situação.” Veja-se que o objeto em evidência era o quebra-quebra feito pelos “cumpanhêros”, no Congresso. Há ‘ene’ casos, mas deixemos esses pra lá.
Quando lancei o “Até Quando”, fui alvo de críticas de todos os lados. Colegas jornalistas chegaram a me hostilizar: “Como você começa a jogar pedras num governo que ainda nem sequer começou?” Isso foi em 2004. Em 2005, Lula fez cocô na sala. Veio à tona o “Mensalão”, um esquema de compra de parlamentares em busca de apoio para o governo. Tudo com dinheiro desviado do contribuinte.
Em 2006, a oposição ainda não havia aprendido a ser oposição. Apesar de ter sido a vida inteira acochados pelo PT – esse sim, sabia fazer oposição –, PSDB e PFL (hoje DEM) tiveram tudo naquele momento para despachar Lula para as ‘cucuias’. Mas não o fizeram. Preferiram esperar que Lula ‘sangrasse’ até as eleições, quando sofreria uma derrota acachapante. Quilométrico engano.
Aquilo só serviu para mostrar que o brasileiro é farinha do mesmo saco. Tais os políticos, quais quem os elege. A “Jararaca” – assim Lula se disse ser – conseguiu recobrar o fôlego e venceu as eleições daquele ano quase que com os pés nas costas. Já em 2010 elegeu um poste – Dilma presidente – e em 2012, outro poste – Fernando Haddad, na prefeitura de São Paulo.
Quem pensou que o “Mensalão” era coisa do outro mundo, precisou esperar para ver o “Petrolão”. Valores infinitamente maiores foram surrupiados dos cofres da Petrobras, deixando a empresa a pão e água. Getúlio Vargas criou o bordão “A Petrobras é nossa”. Ao chegar ao poder, o PT tomou o bordão para si e fez o escarcéu que fez.
Mas, como cita a Bíblia, no Evangelho de Lucas, capítulo 12, versículo 2: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”, a coisa aflorou. E, como disse o presidente Collor de Mello, em 1990, foi “nitroglicerina pura” [sobre o namoro dos ministros Zélia Cardoso de Melo e Bernardo Cabral].
Nesta quarta-feira (14 de setembro), o Poderoso Chefão, melhor, a ‘Jararaca’ perdeu os dentes e foi desmascarada de vez. O Ministério Público Federal junto à Operação Lava Jato convenceu-se de que ele, Lula, era nada menos que o ‘cabeça’ que comandava pessoalmente todo o esquema de corrupção na estatal do petróleo. Sem ele, nada do que foi roubado seria. Triste fim de um partido sectário. Triste fim de Lula.
(*) Jornalista e escritor

Nenhum comentário: