O GLOBO
Rabiscado por uma moradora do Complexo do Alemão e depositado numa caixinha de fósforo, os versos de um samba imortalizado pela Imperatriz Leopoldinense — escola de samba da região — que pede por liberdade se tornou realidade ontem num dos maiores conjuntos de favelas do Rio.
Depois de pelo menos 30 anos de domínio do tráfico, a polícia do Rio, com tropas das Forças Armadas, levou pouco mais de uma hora para chegar ao alto do maciço.
Foram momentos de intensa expectativa. Mas, logo, um dos momentos mais marcantes e emocionantes dos últimos dias de ataques de terror, e contra-ataques das forças de segurança, seria presenciado: a Bandeira do Brasil tremulava soberana sobre uma laje, uma imagem que já entrou para a história da cidade.
— O Alemão era o coração do mal — disse, no fim do dia, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, traduzindo em poucas palavras o significado da vitória.
Ao contrário do que se temia, o banho de sangue não aconteceu. Os 2.600 homens do Estado "varreram tudo o que estava pela frente" como prometido na véspera, depois de 24 horas de um ultimato em que se aguardou a rendição dos bandidos entrincheirados, sem ferir um inocente sequer. A operação foi exemplar.
Nas contas das baixas, três mortos, apenas do lado dos bandidos. No início da manhã, houve confrontos. Mas, em seguida, os policiais teriam pleno domínio da região de mais difícil acesso, conhecida como Areal. Ali, já se dava como certo o sucesso da missão que alguns achavam ser impossível.
À medida em que os policiais progrediam morro acima, o mito de que no Alemão estava a quadrilha mais temida do Comando Vermelho rolava morro abaixo.
Centenas de bandidos que fugiram para lá, depois das incursões na Vila Cruzeiro, na Penha, deram nova demonstração de que jogavam para a plateia ao exibir fuzis e fazer sinais ameaçadores do bunker. Cara a cara com os policiais, o comportamento mudou muito. Como ratos, chegaram a tentar fugir pelo esgoto.
Prova de que a aparente valentia não resistiu à pressão foi a prisão do traficante Elizeu Felício de Souza, conhecido como Zeu.
Condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes e foragido da Justiça, ele estava visivelmente abatido ao ser detido. Um detalhe não passou despercebido: ele tinha urinado nas calças.
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