segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A saúde sob o tapete

Por Francisco Espiridião

Entre 2005 e 2009, o país perdeu 3,9% dos estabelecimentos de saúde com internação. Isso significa tão-somente a bagatela de 280 oportunidades a menos para o brasileiro de conseguir uma internação digna para tratamento de suas agruras na área da saúde, setor que, aliás, já não andava e nem anda tão bem das pernas assim.

Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a perda ocorreu no setor privado, enquanto que, no público – hospitais e postos de saúde –, houve um incremento da ordem de 4,1%.

Trocando em números, na rede particular, foram eliminadas 392 unidades, ao mesmo tempo em que, no público, houve um aumento de 112 unidades. Nessa brincadeira, sumiram na fumaça 11.214 leitos.

Salvo engano, isso seria motivo para minuciosa análise que ainda não consegui visualizar. Não sei se por condescendência com os estratosféricos níveis do moribundo governo Lula, cuja aprovação bate nas nuvens, ou por não ser, de fato, pertinente.

No popular, a iniciativa privada visa o lucro, pouco importando o segmento em questão. Se estabelecimentos destinados à internação de doentes fecham sistematicamente as portas é porque perderam a capacidade de gerar lucros expressivos que lhes justifiquem a perenidade.

E se, por conseguinte, o setor não gera os dividendos esperados é porque não existe um segmento social nele interessado. É aí que se vislumbra o calcanhar de Aquiles.

Duas grandes questões saltam aos olhos. A primeira: será que o serviço prestado pelo setor público está mesmo ali, na ilharga do seu congênere oferecido pelos países do Primeiro-Mundo? Se é verdade – o que não parece – teríamos todos de dar a mão à palmatória, reconhecendo que o presidente Lula da Silva é mesmo “O cara!”.
A segunda, que parece a mais plausível, e, por isso mesmo a causa maior de desconfiança nos níveis de aprovação do governo, é que a população no geral, e em particular a classe média, perdeu poder aquisitivo a ponto de se desfazer do plano de saúde que lhe permitia buscar internação digna em estabelecimentos da rede privada de saúde.
Enquanto a discussão dormita sob o tapete, prossigamos navegando nesse mar agitado de nossas vicissitudes cotidianas, fingindo que ninguém neste país morre em macas improvisadas nos malcheirosos corredores de hospitais, onde falta de tudo, do médico até o mais simples medicamento.

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