Francisco Espiridião
Acabo de ler uma crônica sobre inventos geniais. Uma das 129 melhores, de Mário Prata, publicadas em livro pela Editora Planeta (2007). Então, lembrei de um dos vários episódios vividos pelo casal Pastor Josué e Irmã Isabel.
Os dois passaram três longos anos como missionários da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, na África. Cidade de Huambo, Angola. Contaram essa e tantas outras, durante a visita que lhes fizemos, em março de 2007.
Ao retornar ao Brasil, ficaram e permanecem morando em Recife (PE), terra natal de ambos. O pastor Josué é o líder da Igreja Batista de Ponte dos Carvalhos, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife.
Muita gente, por certo, ainda guarda ternas lembranças do casal em Boa Vista. Josué foi, por seis anos, pastor da Igreja Batista da Liberdade, ali na Avenida Mário Homem de Melo.
Tempo em que trabalhou, também, como psicólogo no Hospital Geral de Roraima (HGR). Deixou a Capital roraimense em 2001, para abraçar a missão evangelística naquele País africano.
Irmã Isabel contou-nos como era difícil a vida em terras angolanas. O País saíra recentemente de uma guerra civil. Não havia casa que não mostrasse as marcas da intolerância nas fachadas.
Algo parecido com as casas e cubículos de favelas outras do Rio de Janeiro. Pepinadas de balas por todos os lados.
O país viveu mergulhado nesse clima de terror – guerra civil – desde que alcançara a independência do jugo colonial português, em 1975, até o início de 2001, com a morte do líder da Unita, Jonas Savimbi.
Angola parou no tempo. A miséria, então, era algo dantesco. O pior é saber que toda essa situação é sem sentido. Angola é rico em petróleo, diamante, cobre, manganês, ferro, fosfato, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina.
A miséria é fruto da intolerância humana. E não é privilégio do País de José Eduardo dos Santos. A maioria dos países africanos vive situação idêntica. A guerra é o denominador comum.
Quando o casal chegou em Huambo, foi morar num prédio de apartamentos. Eram tidos como ricos. Vejam só! Missionários evangélicos, sustentados com ofertas dos irmãos. Imagine os ricos que eram.
E isso era levado a sério. Todos os vizinhos vinham buscar o que pudessem para comer. Gente que não mastigava nem um pão seco havia três dias. A missão era pregar que Jesus Cristo é a única esperança para o ser humano. Mas como dizer isso a quem está morrendo de fome?
A estratégia, então, foi dividir o que tinham. Não dá para comer, vendo alguém morrer de fome ao seu lado. Decidiram então fazer reuniões em casa. Logo após o encontro, serviam uma merenda reforçada. Muitos assistiam às palestras por saber que, ao final, iriam forrar o inadimplente estômago.
Numa dessas merendas, a irmã Isabel achou de servir uma vitamina. Não sei de quê. Vitamina, é claro, processada num liquidificador. Só que eles não conheciam o tal processador de alimentos sólidos. O nosso velho e conhecido liquidificador.
Trataram logo de dar-lhe um nome. Sugestivo e imponente: a “Máquina!”.
As crianças foram as que mais se deram bem. Todos os dias voltavam pedindo que “dona Branca” (lá, eles eram brancos) lhes preparasse uma merenda. Mas não qualquer merenda. A merenda feita na “Máquina!”. Coisa do outro Mundo!
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