(*) Francisco Espiridião
Atendendo a um pedido, daqueles que não se pode resistir, pedido de filha caçula, fui ao Hemocentro de Roraima. Primeiro, para saber se eu poderia ainda continuar na minha condição de doador. Atitude “simples” que, segundo o Ministério da Saúde, salva vidas.
A dúvida recaía na minha condição atual. Ganhei um apelido sugestivo há cerca de quatro anos. Um pouco mais. Ou seria muito mais? Sei lá... Sei que ali ganhei um pré-nome. Passaram a chamar-me hipertenso. O Espiridião? Ah, sim, o hipertenso!
E nessa nova condição, não tinha certeza se poderia doar o meu sangue sem que pudesse estar transmitindo o gens à humanidade. Muito solícita, a atendente me pediu que eu provasse que eu era mesmo o Espiridião. Não sei por que tanta desconfiança. Mas tudo bem.
Passei-lhe a minha identidade. A da Fenaj (é chique). Ela começou a preencher uma ficha virtual (no computador). Lá pelo meio do inquérito a que ela me submetia, caí na besteira de lhe perguntar, inocenteente, se não havia problema em um hipertenso doar sangue.
Aí, a coisa mudou.
– Antes de nós continuarmos a preencher sua ficha, entre ali, naquela primeira porta, à esquerda.
Fui ao corredor. A primeira à esquerda era a sala de “Triagem”.
Entrei. Duas enfermeiras vestidas a rigor. De branco:
– Quero medir a pressão para saber se posso doar.
– Cadê sua ficha?
– Que ficha, minha senhora! A mulher lá fora me disse que para não perder tempo, eu viesse logo aqui para saber se podia ou não!
Aceitou minha argumentação. Sento-me na cadeira, estiro o braço gordo. A bombinha enchendo a braçadeira. Começa o processo.
A segunda enfermeira, que, acho, estava ali só de enxerida – sabe como é, o peru do jogo? –, pergunta meio que alarmada:
– O que é isso aí?
– Nada não. Só uma coceirinha besta. Feriu um pouquinho, mas não é nada não.
– Não pode! Com coceira não pode! A sua pressão até que está boa. Catorze por oito. Mas com coceira não dá. Isso é micose, e já deve estar impregnada no seu sangue. Pode sair.
Saí. Triste por não poder atender ao pedido inalienável da Fábia (O+).
Mais triste ainda por saber que uma coceira pode mudar o mundo. Já pensou se ela descobre aquela frieira que cultivo há mais de trinta?
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