Francisco Espiridião
Cerca de um mês atrás entrei “numas” de não mais escrever artigos criticando o governo. O mesmo governo equivocado a que me referi no livro que lancei em 2004, com referência aos primeiros 12 meses da gestão passada. Referendada, com louvor, pelas eleições de 2006.
Mas, analisando direitinho, entendi ser muita covardia minha dispor desse espaço e nele não me referir ao que se passa neste Brasil de todos nós. Não. Definitivamente, não tenho o direito de assistir a tudo de camarote. Achando que se está bom para mim tudo o mais vá para o inferno (plágio sem graça da música de Roberto).
Acho que muita gente não percebeu. Os jornais, principalmente os de Boa Vista – mas isso ocorreu em todo o País – fizeram-se de morto, enquanto o governo deu de presente de Papai Noel aos consumidores um aumento – que passou batido – no preço da gasolina.
Agora, leio, com grande desprazer, que a festejada decisão do governo de não aumentar impostos para compensar sua incompetência junto ao Senado – leia-se CPMF derrubada – era tudo de mentirinha. Tudo caô, como dizem os jovens.
Gente, é uma desfaçatez, para não dizer coisa mais grave, o que se viu no primeiro dia útil do ano. O ministro Guido Mantega foi à TV falar alto e bom tom que o compromisso de não aumentar impostos valia apenas para os últimos dias de dezembro.
Em outra época, quando a palavra de um homem valia o preço da sua honra, esse Guido e, principalmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estariam no pau-de-arara. Faz tempo. Não que eu seja adepto de qualquer forma de tortura. Longe de mim tais pensamentos. Mas em certos casos ela parece necessária. E como parece!
Lembram que o presidente Lula foi enfático em desmentir o ministro, dias após a derrota sofrida no Senado?
– Nada de aumento de impostos para compensar a CPMF –, dizia o fanfarrão, desmentindo o ministro que, de tão lívido, mais parecia um zumbi. Não sabia onde enfiar a cara.
Agora, a lambança é outra:
– O presidente Lula disse que não mexeria na área tributária em 2007 e de fato não o fez.
Estamos fazendo em 2008 e, portanto, está dentro daquilo que foi estabelecido –, atira o ministro sobre o povo brasileiro, como se estivesse atirando na Geni. Com a convicção de quem fez grande investimento na compra de óleo de peroba.
Então tá. Façamos de conta que tudo foi esclarecido. E, de quebra, vamos acreditar que o País está melhor. Afinal, toda a mídia comprometida diz isso. A toda hora.
Acreditemos que o Governo criou os milhões de novos empregos que prometera, ao invés de mandar a fiscalização regularizar a ferro e fogo a situação dos trabalhadores em atividade – mas sem carteira assinada. Ou seja, nenhum emprego novo foi criado, mas façamos de conta que sim.
Vamos acreditar que a vida dos brasileiros melhorou. Que os trabalhadores tiveram aumentos reais de salário. Que os servidores públicos terão o que lhes cabe de direito. Que as Forças Armadas continuam bem armadas. Que a Saúde não está na UTI. Que a Educação continua educando. Que isso, que aquilo, que aquilo outro...
Façamos de conta, ora, pois! Assim, quem sabe, viveremos melhor. E que tudo mais vá para o inferno. Ora, pois!
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