Francisco Espiridião
Quem não ouviu ainda a expressão "menino criado com avó"? Geralmente, diz-se de indivíduo egocêntrico. Que só enxerga o próprio umbigo. Cresceu cronológica e fisicamente. Mas continua menino no raciocínio. Fazendo coisas próprias de menino.
A ciência não confirma de todo esse axioma. Há crianças criadas, e muito bem, pelos avós. São crianças centradas. Firmadas nos mais sadios conceitos de relacionamento com o outro. Sabem reconhecer que seu direito termina quando começa o do coleguinha.
A prática mostra - aqui também nada tem de científico - que o amor exacerbado aos interesses próprios em detrimento aos dos próximos aflora com maior freqüência no filho único. Acostumado, naturalmente, a ter tudo o que deseja. E na hora que deseja.
Isso, quase sempre, é caráter mal forjado a partir do sentimento de culpa dos pais, que, por um motivo ou por outro, negaram ao filho o direito de desfrutar da companhia sadia de um irmãozinho. Ou irmãzinha.
Filho único, o Francisco, no alto dos seus três aninhos, já começa a aprender que o mundo não existe apenas para lhe servir. Como avô, de vez em quando, ainda que sem querer, me pego envolvido por essa teia, fazendo-lhe as vontades.
Partindo de mim, vovô coruja todo, isso não chega a ser nenhuma novidade. Com a avó, no entanto, a história é outra. Gosta muito dele, mas na hora do sério é sério mesmo. Como se dizia antigamente, com ela a volta é seca. Trata o menino à moda antiga.
Todas as suas atitudes apontam para a austeridade. Ama muito, e, por isso mesmo, quer ver o menino crescer da mesma maneira como viu as filhas. Com ela, não tem esse negócio de amarrar a cara e dar uma de netinho querido. Trata-o assim, sem grandes privilégios.
Nesses momentos, esforço-me, em vão, em argumentar que nós não somos os pais. Que a tarefa de ser chatos recai melhor sobre os pais e não sobre os avós. Avós, acredito, devem ser vistos como velhinhos camaradas, simpáticos. Essa é, enfim, a imagem clássica. Eliana discorda.
Domingo desses, saíamos da igreja. O Francisco preferiu vir em nosso carro e não no da mãe. Não lembro sobre o que conversávamos ao longo do percurso, quando ele saiu-se com essa:
- Vovó, vai procurar a tua turma!
O tempo fechou para ele. Acredito que naquele momento ele riscou aquelas expressões de seu vocabulário. Pelo menos não o vi mais repeti-las.
Não preciso dizer que me dói muito ver a mãe ensiná-lo. Da forma mais tradicional que se conhece. Chinelo na mão. Ao mesmo tempo, porém, reconheço ser a fórmula mais acertada. Ele sofre agora, para não sofrermos nós mais tarde.
É a lei.
Um comentário:
Negão gostei do material, parabéns pela inciativa, agora tira aquele negócio do perfil de "deproma"....J.Pavani blog http://roraimatennis.blogspot.com/
007pavani@gmail.co.
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