terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Emprestado para sempre

Francisco Espiridião

Neste sábado, a Karen, a Marcela e a Charlie chegaram em casa com três filmes. Locados, acredito, na Scorpion, da Ataíde Teive. Um deles me chamou a atenção. O Perfume - História de um assassino. O mesmo título de um livro que li no fim da década de 1980. Do escritor alemão Patrick Süskind.

No início dos anos 1990, acho que em 91, emprestei essa obra não me lembro bem para quem. Para a jornalista Adriana Cruz, talvez. Na época, adolescente frívola, fazia a coluna social do Jornal de Roraima, do Nilton Oliveira. Funcionava ali, no início da Rua Penha Brasil, atrás da extinta Telaima, lembram?

Nunca mais vi a cor do danado. Emprestar livros, aliás, é mesmo um problema seriíssimo. Recebi de volta bem poucos dos que cheguei a emprestar. Mas, também, tomei emprestado alguns. Desses, muitos eu deixei de devolver.

Um deles foi O jornalista e o assassino - Uma questão de ética, de Janet Malcolm. O dono, o também jornalista Tarcilo Ayres, não pode me encontrar por aí que vai logo me cobrando.

- Cadê meu livro, rapaz!

Você ser cobrado no meio de gente é um negócio desconcertante. Quando se trata de dinheiro, então... Traz sempre sobre o inadimplente uma forte carga de culpa. Travestida de constrangimento. E se isso acontece quando você está com a namorada a tira-colo, então...

Deixar de devolver ao dono, principalmente quando se trata de livro, nem sempre significa falta de vontade de fazê-lo. Devolver o livro do Tarcilo, por exemplo, não foi, nem tem sido tarefa fácil. E veja que ele me emprestou O jornalista em 1993. Ou foi em 1994? Sei lá... Sei que a gente trabalhava junto, na Folha.

Certa vez, encasquetei que tinha que devolver o tal livro. Coloquei-o no carro. Rodei mais de um mês. E nada. Nem sinal do Tarcilo. Em se tratando dele, trabalho fixo é coisa de que não se tem notícia.

Precisei mandar o carro para o posto. Para lavar. Retirei o dito-cujo do porta-luvas. Podia, por esquecimento, ficar perdido no escritório do posto. Só que, depois de passado o banho, esqueci de devolvê-lo ao porta-luvas.

No dia seguinte, mal saio de casa e dou de cara com quem? Com o Tarcilo, é claro. Bem feito! Eu não tinha nada que fazer na Assembléia Legislativa.

- Não é possível! Passei um mês procurando esse cara. E ele me aparece logo agora! -, pensei.

Advinha qual foi o seu bom-dia...

Visitando a livraria Nobel, dia desses, encontrei O Perfume. Quando dei por mim estava digitando a senha do cartão. Não sei por que, mas tornava a comprar o mesmo livro. Lido tanto tempo atrás. Será que foi pela força da história ali relatada? Terrível, mas envolvente.

Bem, de qualquer forma, já que o assunto veio à tona, vou amarrar uma fitinha no braço esquerdo, para não esquecer. Quando sair de casa a próxima vez devo levar comigo O Jornalista. Vai que eu me encontre de novo com o Tarcilo...

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