segunda-feira, 7 de setembro de 2009

De recalcitração e tautologias

Por FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)

Conversei dia desses com um professor, amigo de longas datas. Um dos cabeças da greve. Confesso que, após dar-lhe ouvidos, sua argumentação só me fez solidificar o entendimento de que o movimento é uma canoa furada, posto basear-se em tautologias. A idéia nítida é que os mestres se vestiram da obstinação desmedida.

Enquanto o Governo acena para a clara impossibilidade de atender suas pretensões, arguindo o momento delicado por que passa não só a economia do Estado, mas a do País e, indo mais longe, a do Mundo, os sindicalistas dão provas soberbas de que o único motor da paralisação chama-se aumento salarial. E num volume fora da realidade.

Meu amigo tentou convencer-me de que a legitimidade da greve se sustenta no fato de o Governo haver gasto recursos estratosféricos com coisas de menor importância. Citou, entre tantos exemplos, que, usando recursos da educação, o Governo gastou milhões de reais na construção da Praça do Canarinho, na Avenida Ville Roy.

Se há problemas, existe também um elenco de instrumentos e instituições várias com capacidade para aplicar o remédio eficaz. O Ministério Público, a OAB e a Justiça existem para resolver problemas do gênero. Como entidade constituída da sociedade civil, o Sinter poderia exercer a legítima função de denunciar, como, aliás, cabe aos cidadãos organizados fazer, mas não partir para as vias de fato.

Parece, enfim, que o Sinter decidiu executar justiça com as próprias mãos. Usar tais argumentos como forma de pressionar o Governo, soa estranho. Não estou dizendo que seja, mas parece chantagem. Nas democracias, procedimentos tais são dignos da reprovação e desprezo de toda a sociedade.

Sei, não é politicamente correto ir contra uma greve. Mas, considerando que há muito eu desprezo isso, nessa eu estou fora. Para mim, os professores deviam pensar alto. Há mais que um pelotão de alunos a amargar dias de dificuldades extremas diante da paralisação das aulas.

Quanto mais tempo recrudescer o movimento, mais atraso significará para a entrada das férias de fim de ano. Ninguém duvida que a situação da educação seja crítica. Para que, então, piorá-la ainda mais?

Um comentário:

Ibernon disse...

Olá Espiridião,
Sou um assíduo leitor da FonteBrasil.com.br, na verdade o que me fascina neste site são os artigos publicados pelos nobres intelectuais, certamente cheios de boas intenções e que visam o bem social. É bom saber que existem pessoas que sinceramente falam a favor do bem coletivo, não possuem discursos tendenciosos e não estão a favor ou a serviço do poder político que temporalmente domina em Roraima.
Quanto à greve dos professores, quero discordar de alguns pontos levantados em seu artigo. O “amigo de longas datas” a que você se refere e que o classifica como “um dos cabeças da greve” se for verdade, ele é um membro sindical legitimamente eleito pelos professores para representar o SINTER. Numa greve, quem é eleito para representar os trabalhadores junto ao patrão é chamado de Membro do Comando de Greve, então, esse seu amigo é um membro de nosso comando de greve. Deploro a expressão “um dos cabeças” usada por você,esse termo é próprio para pessoas que vivem na marginalidade. Até onde sabemos, a lei no Brasil garante o direito de greve para os trabalhadores civis e nenhum impedimento judicial existe na greve dos professores em Roraima.
O nobre intelectual usa dois pesos e duas medidas. Um discurso conciliador no artigo publicado com o tema “Um nó a ser desatado” que reconhece meia culpa na greve dos PMs e chama a atenção para a necessidade da desmilitarização, onde corrigiria a injustiça constitucional que impede greve no meio militar. Contudo, não fala dos prejuízos causados pelos grevistas da brilhosa polícia militar a sociedade roraimense e ao Brasil. A exemplo, do aumento da criminalidade, homicídios, assaltos, tiros em portas de estabelecimentos comerciais, etc. E um outro discurso cheio de expressões pejorativas e claramente direcionadas que na essência nega os sérios problemas da educação em Roraima onde os órgãos públicos e os intelectuais fazem vista grossa. Se a greve existe é porque “o elenco de instrumentos e instituições” listadas por você foi incapaz de “aplicar o remédio eficaz” “para resolver problemas do gênero”.
Você fala de chantagem. Contudo, quero lhe dizer que chantagem é ver o governo usar os meios de comunicação para forçar os professores a retornar ao trabalho, publicando mentiras sobre a realidade da educação em Roraima. As precárias condições de trabalho dos professores chegou a um nível intolerável. Quem tem filhos nas escolas estaduais principalmente da periferia e do interior do estado sabem o que estou falando. Enquanto cidadão, pai e professor, não posso me posicionar contra um movimento que luta pela melhoria da educação. “Existe um jargão que diz: Contra fatos, não existem argumentos” quem se posiciona contra a greve dos professores é “digno da reprovação e desprezo de toda a sociedade”.
Não tenha dúvida de que “os professores estão pensando alto”, eles querem ver melhoras reais nos investimentos da educação em Roraima. Ou, será que é melhor deixa como está para ver como é que ficar?
isibernon@gmail.com