FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)
Rápida passagem pela Feira do Produtor, no bairro São
Vicente, foi suficiente para eu começar a pensar num problema que aflige um
bilhão de pessoas no mundo: a fome. Abacaxis inteiros, só porque apresentam
aspectos de terem sido batidos durante o transporte, são descartados, jogados
em contêineres de lixo, assim como tantas outras espécies de frutas
aproveitáveis.
É algo brutal ver tanto desperdício de alimentos.
Desolador ver tanta comida jogada no lixo, enquanto há tanta gente com ‘insegurança
alimentar’, o pior eufemismo para fome. De acordo com a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no mundo são aproximadamente
870 milhões de pessoas que sofrem de subnutrição.
Não estou falando de algo distante, como o leste e
sul do Continente Africano, onde crianças sofrem de desnutrição aguda grave, definida como fome extrema. Imagens de crianças
etíopes só coro e osso correm o mundo, suscitando pena nos mais variados
segmentos sociais. A situação também é considerada de extrema gravidade
na América Latina, especialmente na Bolívia, na Guatemala e no Haiti. Porém, nenhuma ação efetiva capaz de mitigar
o problema.
Quando
presenciei o exacerbado desperdício de comida na Feira do Produtor, veio-me à
mente as índias venezuelanas fardadas a pedirem esmolas nos semáforos de Boa
Vista. Pensei em quantas crianças que habitam o entorno da capital que sobrevivem
com a barriga nas costas. Enquanto isso, centenas de quilos de alimentos vão
aos tonéis de lixo. Frutas com um percentual acima de 80% de
aproveitamento.
Como eu sei disso? É claro que eu não estou nas casas
das pessoas para conhecer tais detalhes, mas há um indicativo que não falha: o
Cernutri, Centro de Recuperação Nutricional Infantil, da Prefeitura de Boa
Vista. De janeiro a setembro deste ano, prestou 15.249 atendimentos, de acordo
com matéria publicada na imprensa.
A unidade, localizada na avenida Ataíde Teive,
Liberdade, oferece tratamento de reabilitação por meio do regime de
semi-internação. Em outubro passado completou 26 anos prestando atendimento a
crianças desnutridas da capital.
Parceria com o Sesi-RR permite ao Cernutri obter maiores
conhecimentos sobre como manipular alimentos, bem como aproveitar todo o
potencial que os diversos gêneros oferecem, antes de serem descartados. Por
meio do curso Cozinha Brasil, os conhecimentos são repassados às mães que
buscam no centro refúgio para o infortúnio dos filhos.
Amanhã se inicia um novo ano. Período em que a gente
traça metas e metas. Promessas que não serão cumpridas, sabe-se. No momento do
planejamento, que tal pensarmos nas criancinhas – sejam elas da África ou da
periferia de Boa Vista – que não têm com que se alimentar?
Não sei como, mas cada um de nós é responsável. Pôr
no prato só aquilo que vamos comer, sem desperdício, já seria um bom começo.
Feliz e próspero Ano Novo!
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