domingo, 8 de janeiro de 2017

A bruxa está solta

(*) FRANCISCO ESPIRIDIÃO
A virada de ano foi prato cheio para supersticiosos. 2017 chegou carregado de maus fluidos. Na economia, as notícias não poderiam ser piores. Analistas gostariam de ter dormido no dia 31 de dezembro de 2016 e amanhecido só no dia 1º de janeiro de 2018. Acreditam que 2017 chegará ao ocaso com o PIB do País tangenciando zero.

A taxa de desemprego, num patamar dos 12% (12,1 milhões de desocupados), deve continuar subindo, de acordo com economistas ouvidos pelo portal de notícias Uol. "Temos uma incerteza política, uma incerteza econômica e agora também uma incerteza jurídica", afirma Otto Nogami, professor de economia do MBA Insper.

Em Mongaguá, litoral paulista, a passagem de ano foi um desastre. Em vez de espetáculo aprazível, tornou-se pesadelo àqueles que foram à festa de Réveillon na Praça Dudu Samba. Os fogos da queima, ao invés de subirem, partiram inapelavelmente em direção à população. Uma dezena de pessoas atendidas no Pronto Socorro Municipal. Falha técnica a ser apurada pelas autoridades competentes.

Ainda na noite de 31 para 1º, tocou o horror na cidade de Campinas, ABC paulista. Um cidadão mal resolvido, de 42 anos, usando uma pistola calibre 9 mm [dois carregadores] decidiu investir contra a própria família e quem mais estivesse por perto. A tragédia ocorreu durante a festa de comemoração da passagem de ano. 12 mortos e três feridos. Com a mesma arma, o tresloucado praticou suicídio, completando o emblemático número de mortos: 13.

Para deixar patente o espírito da ‘bruxa tá solta’, o pior ainda estava por vir. O Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, e a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), Boa Vista, deram o tom da tragédia anunciada.

Em Manaus, a rebelião teve início por volta das 16h do dia 1º e durou cerca de 17 horas, com um saldo de 60 presos decapitados e esquartejados. O espetáculo do horror repetiu-se em Boa Vista na noite de quinta para sexta-feira: 33 presos imolados com instintos da mais cruel perversidade.

O artigo 1º da Lei das Execuções Penais cita: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.” Grifo meu: “... proporcionar condições para a harmônica integração social...”. Utopia barata.

Ao ultrapassar o portal da ala em que, teoricamente, purgará suas culpas, o condenado dá adeus a qualquer esperança. Se escapar com vida, ingressa numa pós-graduação do crime. As facções Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC), ao se matarem, prestam um grande favor ao governo: cerca de 100 delinquentes ‘neutralizados’.”


Na quinta-feira (5), o presidente Michel Temer chamou o fato de ‘acidente pavoroso’. Esqueceu-se de admitir que ‘acidente’ mais ‘pavoroso’ foi o governo brasileiro ter perdido escandalosamente a guerra para o tráfico. Por ‘acidente’, Temer é o responsável, visto ser o presidente de plantão.

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