domingo, 8 de janeiro de 2017

A PM de luto

(*) FRANCISCO ESPIRIDIÃO

A Polícia Militar voltar a sentir um gosto amargo na boca. Mais um de seus membros assassinado – o segundo neste ano. O caso ocorrido na tarde de terça-feira (15) se deu de forma rude, cruel e traiçoeira. Tiros desferidos pelas costas. Enquanto o PM dormia em uma rede na varanda da própria casa.
Arnaldo Alves de Sena, o A. Sena, havia passado a noite anterior em serviço numa das guaritas da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Aproveitava a sesta para recompor-se do estresse. Com certeza, jamais poderia prever o que iria acontecer.
O pior é que o crime se deu por encomenda. Tão logo o ato concretizado, fogos de artifício ribombam em ruas próximas ao local, assim como “festa de arromba” estoura no interior da PAMC. A suspeita inicial foi de que a morte teria sido encomendada de dentro do presídio.

O luto, no entanto, não é privilégio da PM roraimense, mas de todo o sistema de segurança do País. Do início do ano até o começo deste mês de novembro, o Rio de Janeiro registrou nada menos que 350 policiais baleados. 90 não resistiram. Do total, 326 eram policiais militares. Detalhe: 128 atingidos em áreas pacificadas.

Em São Paulo, no mesmo período, os números se assemelham. Foram 98 policiais mortos, sendo 88 PMs. Desse universo, apenas cinco foram mortos em serviço. A quase totalidade feneceu enquanto gozava de merecida folga, a exemplo de A. Sena. Estatísticas mostram que o Brasil tem um policial morto a cada 32 horas.

O outro lado da moeda é tão ou mais trágico ainda. Dados da Human Rights Watch mostram que, no ano passado, para cada policial assassinado no Rio de Janeiro, outras 25 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais. Em todo o país, a instituição garante que foram 645 pessoas mortas em ações envolvendo as polícias Civil e Militar.

Mas tem mesmo que ser assim? Onde o País vai parar seguindo nessa estrada mal pavimentada, com clima de guerra civil incrustado no inconsciente coletivo? Não é para menos. O número de mortes violentas no Brasil supera o de países em guerra declarada. Só em 2015, foram mortos violenta e intencionalmente 58.383 brasileiros.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado no dia 28 do mês passado, de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, foram 278.839 ocorrências de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial no Brasil. Na Síria, em guerra, em igual período foram registradas 256.124 mortes violentas, de acordo com o Observatório de Direitos Humanos daquele país.

Em síntese, essa guerra está a exigir um armistício. A permissividade da Constituição Cidadã precisa ser revista. A questão das drogas, patrocinadora da violência desenfreada, tem de ser enfrentada de maneira efetiva. Sem isso, não há solução à vista

Nenhum comentário: