domingo, 9 de dezembro de 2007

A metamorfose

Por: Francisco Espiridião

Deu no Estadão Online “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quarta-feira, 5, um mea-culpa sobre a CPMF e disse ser uma ‘metamorfose ambulante’ e não ter medo de mudar de opinião”.

Quando navegava altaneiro nas águas da oposição, Lula era o mais ferrenho dos críticos da CPMF. Agora, no Governo, dá um ou mais dos nove dedos das mãos pela aprovação do tributo que, além de infernizar a vida de assalariados outros, tem a função maior de patrulhar quem movimenta grandes somas em contas bancárias.

Para justificar sua camaleônica capacidade de mudar de cor de acordo com a vegetação, digo, com as conveniências, o presidente invocou a música do místico Raul Seixas. Pior se a metamorfose a que se referiu fosse outra, a do alemão Franz Kafka.

Seria muito preocupante se um dia o presidente acordasse e se visse transformado num inseto (uma barata). Tal como o caixeiro viajante Gregor, que certo dia tinha hora para se levantar pela manhã para pegar um trem, quando descobre que suas pernas não conseguem sustentar-lhe o corpo. Seria intrigante o presidente perder o ânimo.

É claro que o vigor de Lula nos mostra exatamente o contrário. Enquanto Gregor é um filho submisso, que abdica de seu direito de viver a própria vida para dar sustentação à da família, Lula já disse diversas vezes que ama a vida que leva e que não está a fim de abdicar de nada nem coisa nenhuma.

A certeza disso está em que jamais rechaçou com veemência o terceiro mandato que muitos querem lhe impor, menos por gostarem de sua maneira ímpar de conduzir a República (res-publica), e mais porque assim estariam asseguradas as benesses dos “cumpanhêros” por mais quatro anos.

Mas, já que Lula se diz fisgado pela metamorfose, que pelo menos reflita no ocaso de Gregor, que, com sua morte, permitiu uma transformação generalizada na vida daqueles que o cercavam. Aliás, isso serve também para cada um de nós, que reflitamos em que podemos ser úteis ao nosso próximo.

E que não seja necessário o custo de nossa própria vida.

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