sábado, 29 de dezembro de 2007

O prazer de escrever

Francisco Espiridião

Rubem Braga, um dos maiores cronistas que este País já viu, disse certa vez que “escrever é uma profissão como outra qualquer”. Para ele, podia ser. Afinal, tratava-se de ninguém menos que o mestre das letras. Já para mim, a pior das atividades humanas.

Escrever é um momento cruciante. É como ter um filho. Carregar um feto nove meses no ventre é árdua missão. Nobre, mas árdua. O momento do parto, então, mais crítico ainda.

Assim que esse momento passa, no entanto, é só felicidade. Dizem as mulheres que quando tomam o filho nos braços, esquecem todo o sofrimento. E deve ser verdade.

Quem não já viu uma mãe à frente, puxando um pelo braço, o mais velho carregando o mais novo, outro na barriga e, para completar, mais um no pensamento? Assim é o processo de gestação que culmina com o dar à luz um texto. Processo doloroso. Mas quando se conclui, quão prazeroso é!

Escrever. Atividade cruciante. E paradoxalmente, tão gratificante! Longe de ser masoquista, acho todo esse processo muito doloroso, sim. Mas, como eu amo fazê-lo! Sou viciado em ficar horas a fio sozinho. Não. Eu e o computador.

De preferência à noite, quando a Eliana não vem mais puxar papo. Querendo conversar sobre o filho da amiga que ficou reprovado no concurso da Guarda Municipal. E eu, para ser cortês, embora não ouvindo palavra, respondo laconicamente: hum-hum!

Aliás, ela já disse não entender qual a graça dessa arte. Ficar tão calado por tanto tempo. A arte da vagabundagem, para muitos. Especialmente num País onde o diploma universitário só serve para livrar o detentor de se promiscuir com os não-letrados numa infecta cela de delegacia de subúrbio. Ou como requisito para inscrição em concurso público.

Escrever à noite tem outra vantagem. Depois das dez, o Francisco já não está mais por perto, pedindo com a voz mais doce do mundo:

- Vô, eu quero ver tamanduá!

Quando isso ocorre, largo tudo o que estou escrevendo e abro o Google Imagem. Passamos, juntos, horas tão prazerosas quanto. Lá, tem tamanduá para todos os gostos. Mas nunca fica só no tamanduá. Depois do bicho que come formiga, vem outro, mais outro e tantos outros mais.

Falando sério, não sei o que dá mais prazer: se escrever ou investir tempo para estar com o Francisco.

Ih! Sei sim. Ler a Palavra de Deus. Ela é mais doce que o destilar dos favos. Nela, encontro a força de que preciso. Até para continuar escrevendo.

PS: aí na foto, o Francisco e a mãe dele, a Ethiane.

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