Francisco Espiridião
Verdadeiro teatro dos horrores. Nada menos que 196. Esse foi o número de mortos em acidentes de trânsito nas estradas federais do País no período de sexta-feira (21) a quarta (26). Um absurdo.
Apenas três a menos que o registrado no maior acidente de que se tem notícia na história da aviação brasileira. Ocorrido em 11 de julho passado, o desastre com o vôo 3054 da TAM chocou o País de Norte a Sul, produzindo nada menos que 199 mortos.
Estatísticas mostram que o feriadão de Natal foi o mais violento do ano. Os 2.561 acidentes produziram, além dos mortos, mais 1.870 feridos, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Essa marca supera inclusive os números registrados durante o período do Carnaval, época em que a ingestão de álcool costuma passar dos limites.
Mais absurdo ainda é o fato de um número tão sugestivo – quase duas centenas de pessoas executadas sem dó nem piedade – não ter despertado na sociedade tupiniquim uma única atitude de revolta. Nenhuma desarvorada greve de fome. Ninguém invadiu o Congresso a machadadas. Lembram do Bruno Maranhão e Cia. Ltda.?
A análise que se trata aqui tem como objeto vidas humanas. Porém, mais parece tratar-se de seres inanimados. De material meramente perecível. Descartável. Interessante que, friamente, joga-se a culpa pelos acidentes no aumento considerável do número de carros trafegando pelas estradas nacionais. Parte por conta da perene crise aérea.
Argumentos fajutos, que não se sustentam. Basta olhar a qualidade das vias de tráfego país afora. A maioria sem acostamento. Sem pontos de refúgio para uma emergência qualquer. À menor perda de atenção, está pronto o cardápio, com presuntos para todos os gostos. E os buracos, então, verdadeiros assassinos silenciosos.
O jornal Folha de Boa Vista trouxe como manchete só nesse mês de dezembro o sugestivo número de dez pessoas mortas em acidentes de trânsito. Todos ocorridos na BR-174. A maioria, no trajeto entre Boa Vista e Pacaraima.
Um dos fatores que podem contribuir para a diminuição das mortes nas estradas é, sem dúvida, a educação para o trânsito. Segundo a ONG Contas Abertas, mais de R$ 160 milhões foram destinados este ano para o Fundo Nacional de Segurança e Educação do Trânsito (Funset).
Desse total, R$ 95,5 milhões estão em reserva de contingência – não podem ser tocados. Dos R$ 64,5 milhões restantes, só R$ 24 milhões (37%) foram aplicados até 10 de outubro - nos dez primeiros meses do ano.
Pior ainda: no levantamento feito pela ONG, constata-se que nenhum centavo foi aplicado em 2007 na melhoria da fiscalização de trânsito pelos órgãos do sistema nem no fomento de projetos destinados à redução de acidentes.
Até quando a sociedade vai assistir inerte à ceifa desvairada de vidas de seus entes queridos? Até quando vai se permitir que se morra nas curvas das estradas federais – por imprudência, imperícia ou negligência –, e não se tome qualquer atitude mais drástica?
Não é fácil compartilhar a dor das famílias que sofreram perdas brutais de seus entes queridos. Vidas banalizadas. Até quando as pessoas vão continuar sendo tratadas como “coisas”, absolutamente descartáveis?
PS. Condolências à família do irmão e amigo Valdenir Bentes.
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