(Artigo publicado originalmente no blog de Ricardo Noblat, edição desta sexta-feira santa)
Por:Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Hoje, em Áquila, é o enterro coletivo de crianças, jovens, mulheres, homens, velhos e velhas.
A missa, nesta Sexta-Feira Santa, será rezada ao ar-livre, na Academia de Polícia de Áquila. Não há igrejas em pé, ou em condições, nem em Áquila, nem naquela região.
Não vou comentar sobre a dor da perda terrível para a Itália.
Vidas!
Nada mais importante.
Mas a Humanidade perdeu muito também ao perder os tesouros criados pela mão do homem naquela região.
Passada a solidariedade para com os italianos, a Humanidade continuará gastando rios e rios de dinheiro em buscas absolutamente desnecessárias para o estágio de evolução em que estamos.
Não sabemos, não conhecemos, a cura para um sem número de doenças.
Não sabemos, não conhecemos, como matar a fome de todos os homens.
Não sabemos, não conhecemos, como estabelecer a paz definitiva entre os povos.
Não sabemos, não conhecemos, como fazer do ser humano um homem e não um animal dantesco como os estupradores e os assassinos que matam a três por dois.
Não sabemos, não conhecemos, como acabar com a ganância e a cobiça.
Não sabemos e não conhecemos, como poupar a Mãe Terra, aquela que nos dá de beber e de comer.
Mas sabemos ir à Lua. Já até levamos turistas!
Conhecemos o mapa de Marte.
Apertamos, se o poder for nosso, um botão aqui, que explode um país do outro lado do mundo.
Pegamos um telefoninho pequenininho e telefonamos para Vladivistock para falar com nosso amigo que foi passear por aquelas bandas.
Vemos na hora, no minuto mesmo, o show daquela loura esquisita em Hong Kong.
Podemos andar em trens a 400 km por hora.
Movimentamos dinheiro do Japão para Tramanduateí em instantes.
Somos capazes de tirar uma Catedral daqui e levar para ali.
Compramos, basta ter dinheiro no bolso, morangos portugueses, cerejas argentinas, sal do mar Báltico, ervas frescas vindas da Provence, batatas peruanas, ovas dos peixes mais estranhos, azeites das mais variadas procedências, arenque finlandês fresco, como se não houvesse amanhã.
Leio os jornais do mundo inteiro sem sair da minha cadeira.
Encomendo, pelo telefone, um automóvel, e pago com um cartão de plástico.
Interajo com os programas de TV: não gosto daquele personagem, acabo com a raça dele, e ponho outro no lugar.
Somos moderníssimos, tecnologicamente avançadíssimos, nossos pais, se nos vissem hoje, não iam acreditar! Parecemos personagens de Jules Verne, de H.G.Wells, somos a própria ficção científica tornada realidade.
Mas não sabemos, não conhecemos, como prever um terremoto.
Não entendo nada de geologia. Absolutamente nada. Mas tenho uma enorme curiosidade: se o Homem concentrasse todo o esforço e o dinheiro que gasta em viagens espaciais, armamentos, guerras, e tudo o mais que ele acha imprescindível para ser um homem moderno e feliz, será que ele ao menos não conseguiria prever terremotos a tempo das pessoas saírem de sua cidade?
Olho os mapas da Califórnia, do Japão, da Itália, áreas de risco real assinaladas e fico apavorada.
Como pode o Homem não conhecer e dominar a terra onde vive há bilhões de anos e querer dominar o espaço?
Deixando aqui gente com fome, doente, com medo, sem teto, sem água, sem luz, ao relento?
Desculpem, hoje não está dando para escrever. Não costumo me deixar levar pelo pessimismo, sou uma pessoa que ama a vida, acordo feliz de me ver ainda por aqui. Mas hoje, não está dando. Cumpro as obrigações, mas o coração não está aqui.
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