Por FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)
Um ano e meio de namoro com a ideia e igual período de gestação. Depois disso, mais um ano de hibernação (vá lá entender um negócio desses!). Enfim, o parto. Digam-se tudo, menos que o nascituro tenha-se utilizado de subterfúgios para vir ao mundo. Parto prematuro, então, nem pensar.
Mesmo assim, parece que todo esse tempo não significou razão suficiente para moldar-lhe à perfeição. Aliás, está longe de ser um som de Tim Maia. Definitivamente, faltou-lhe algo. Na melhor das hipóteses, um dos dez dedos dos pés. Quem sabe, o mindinho do pé direito. Não, do esquerdo, é melhor.
Não sejamos, no entanto, tão perfeccionistas assim. Um detalhe tão pequeno é lá para se considerar um grande defeito? Lula não tem o mindinho da mão esquerda (ou seria da direita?) e é presidente da República. Picou a mula em meio à labuta diária num torno qualquer do ABC paulista.
O importante, porém, é que nasceu o nascituro. Verdadeiro ser nabukowiskizado, como diria Aldous Huxley. Fecundado, o ovo original gerou 150 indivíduos. Todos iguaizinhos. Apesar de pretensiosamente se considerarem alfas, têm também lá seus defeitos. Cada pequena aberração genética, cada erro de construção, vem repetido no mesmo lugar em cada um dos 150 espécimes. É mole?!
Já descobriram do que essa enfadonha crônica trata, não? É. É mesmo de Histórias de Redação – Vinte anos de jornalismo na Terra de Makunaima, um relato – o mais fiel possível, na minha visão, que, se classificada de vesga, eu não terei como rebater a crítica – dos fatos por mim vividos entre os anos de 1985 e 2005 nas redações de impressos por onde passei.
Quantas reminiscências! Quantos colegas de batalha irão se identificar ao ler o texto. Mas um mea culpa faço aqui. De coração aberto. Um dos dedos mindinhos citados acima por se fazerem ausentes, toma corpo na indesculpável grosseria que a falha memória me pregara.
Sempre que encontrava minha amiga pelos corredores da Assembleia Legislativa, dizia-lhe, despretensiosamente, mas com muito carinho, que ela era parte ativa nos escritos. Afinal, ela não poderia ficar de fora do relato. Foi aguerrida companheira de tantas lutas. Umas até inglórias, nos idos de 1991, no Jornal de Roraima.
Quantas recordações importantes! Mesmo assim, ela passou batida nos escritos. Falha imperdoável, repito. Ela era personagem chave para o fechamento dos relatos sobre aquele periódico. Sem ela, a história do JR fica faltando um pedaço. Um grande pedaço. Não só o dedo mindinho, mas todos os membros superiores e inferiores.
É, amiga, a falha ocorreu. Involuntariamente, mas ocorreu. E por mais que eu queira te fazer justiça agora, infelizmente, não tem como. Dizer que na minha cabeça você estava no importante capítulo sobre o JR, é pouco. Não vai mudar a dura realidade.
Mesmo assim, quero mais uma vez te pedir perdão. Se não aceitares, joga-me na parede, me pisa todo, que é o que eu mereço. Só não topo ficarmos de relações cortadas. Isso seria, para mim, insuportável. Clemência!
(*) Jornalista, autor de “Histórias de Redação...”, Maxter, recém saído do forno, pequena tiragem, venda pessoal pelo e-mail fe.chagas@uol.com.br ou fones (95) 9113-7367 e 3623-6520.
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