Édio Lopes (Transcrito do Fontebrasil, 12/4/2008)
Chegou o momento em que a Nação brasileira não pode mais continuar protelando, empurrando com a barriga, a situação das nossas Forças Armadas.
A profissão militar tem características marcantes de singularidade, diferindo-se das demais carreiras de Estado em vários aspectos fundamentais que merecem maiores esclarecimentos junto à opinião pública.
Os deveres, as responsabilidades, os riscos e a total disponibilidade que a profissão exige não se restringem apenas à estrutura hierárquica a que está diretamente ligada, mas envolvem campo muito mais amplo do poder social.
Ser militar inclui sacrifícios pessoais: abdicação, desprendimento, dedicação exclusiva ao trabalho, disponibilidade integral de 24 horas seguidas em escala de serviço, plantão, prontidão, entre outras particularidades. Tudo isso sem direito a compensação material ou financeira de qualquer natureza, como forma de atenuar os inúmeros serviços extraordinários, as incontáveis missões cívicas e sociais, as atividades normais de defesa e segurança nacional.
Somam-se a isso as transferências de localidade que podem ocorrer a qualquer tempo e para qualquer área do território brasileiro, sacrificando toda a vida familiar no tocante ao emprego do cônjuge, à educação dos filhos, aos compromissos contratuais, entre outras razões.
Por esses e outros tantos motivos, ser militar não é simplesmente ter emprego. É estar condicionado, é estar regido por valores e deveres muito mais inerentes e limitadores do que os de qualquer outra carreira profissional.
Hoje, a família militar brasileira trabalha por mera vocação profissional e por puro sentimento patriótico. O achatamento salarial vem provocando sérios problemas no efetivo das Forças Armadas, a ponto de o pedido de baixas ter atingido índice alarmante, jamais visto em toda a história militar brasileira.
O Diário Oficial da União publica diariamente os pedidos de baixa dos militares que vão em busca de melhores salários, resultando por ano na média de até 235 oficiais e de 768 graduados, que saem da carreira via concurso público, a fim de obter a justa valorização e o reconhecimento profissional em outras áreas de trabalho.
Para efeito de comparação salarial e de comprovação da discrepância nos diversos níveis de remuneração, a título de esclarecimento, basta citar alguns exemplos: a remuneração bruta de um Coronel do Exército Brasileiro não ultrapassa os 9 mil e 700 reais; mas um Coronel da Polícia Militar do Distrito Federal percebe 17 mil e 500 reais. Este Coronel não ganha muito. Aquele, o oficial do Exército Brasileiro, é que percebe vencimento aviltante, insultante até, pela importância do serviço que presta a este País.
Faço outras comparações: um Capitão do Exército Brasileiro recebe a aviltante soma de 5 mil e 800 reais, enquanto um Capitão do Corpo de Bombeiros Militar do DF recebe 12 mil e 190 reais; um Primeiro-Sargento da Aeronáutica recebe 3 mil e 500 reais por mês, enquanto um Primeiro-Sargento da Polícia Militar do DF recebe mais do que o dobro. Pior ainda é a comparação do que recebe um Soldado da PM - 4 mil e 700 reais - com o que recebe um Tenente da Marinha - 4 mil e 50 reais.
Esses números nos levam a afirmar a necessidade de promover debate para corrigir a esdrúxula situação que a Nação brasileira impôs às nossas Forças Armadas.
O comandante Militar da Amazônia, que tem sobre os seus ombros a responsabilidade de zelar pela soberania de dois terços deste imenso País; que tem a responsabilidade de vigiar, 24 horas por dia, mais de 11 mil quilômetros de fronteira, recebe dois terços do salário de um Delegado da Polícia Federal.
Esta situação não pode mais perdurar, sob pena de contribuirmos para que os nossos bravos militares, para que os soldados que fazem a defesa do nosso País comecem a desanimar e a procurar outras atividades que melhor os remunerem.
Sem dúvida, é desestimulante e inviável a atual situação, embora se compreenda o motivo do alto índice de desistência da carreira pelos nossos militares. Esta situação atípica e constrangedora vem provocando desgastes aflitivos no meio da família militar, gerando problemas de ordem social e moral.
As academias militares (Escola Naval, AMAN e AFA) e as demais escolas de formação de profissionais que suprem o efetivo das Forças Armadas enfrentam dificuldades de seleção e de recrutamento para atrair candidatos para os cursos que oferecem.
Por oportuno, torna-se necessário e urgente promover diálogo sério e responsável entre as instituições envolvidas - Presidência da República, Ministério do Planejamento, Ministério da Defesa e, com especial importância, Congresso Nacional - , para que se resolva em caráter definitivo esta angustiante situação, evitando a perda de força de trabalho qualificada e criando mais estímulo para o recrutamento de bons profissionais em futuros concursos públicos.
Para resolver o problema remuneratório das nossas Forças Armadas, é necessário ter coragem. A Câmara dos Deputados deve chamar para si a responsabilidade de corrigir a distorção que vem campeando nas últimas décadas.
Nunca é demais falar do alto grau de sucateamento das Forças Armadas brasileiras. Em companhia de outros deputados, acompanhei o General Augusto Heleno Pereira, Comandante Militar da Amazônia, em visita de 3 dias a pelotões da longínqua região de fronteira do Brasil com a Colômbia e com o Peru. Vimos ali o profissionalismo, o patriotismo e até o heroísmo dos nossos militares. Mas não podemos exigir que defendam as nossas fronteiras com fuzis de mais de 40 anos! Não é possível para a nossa Força Aérea ficar com a moral em alta usando aviões tão ultrapassados!
Basta dizer aos brasileiros que aviões Sukhoi foram recentemente adquiridos pelo Presidente Hugo Chávez, da Venezuela. No caso de conflito com um país que disponha desses aviões modernos, não seria demais afirmar que os aviões da Força Aérea Brasileira, tão antiquados e tão sucateados, sequer levantariam do solo.
Uma nação sem poder de dissuasão fatalmente estará fadada ao fracasso como pátria livre, próspera e soberana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário