O trauma
vivido ontem, das 16h21 quando faltou energia na minha casa até seu
retorno às 23h22 (três apagões seguidos), confesso que perdi
completamente a vontade de escrever esta coluna, absolutamente
encolerizado com esses constantes blecautes. Mas não posso deixar de
manifestar minha indignação e meu juízo sobre esse drama vivido pela
população de Boa Vista em função do caótico problema energético que
consome a tranquilidade, tira o sono e causa uma verdadeira hidrofobia
nas pessoas.
O que está
acontecendo em Roraima é o resultado de uma crônica anunciada. Todos já
sabiam que os poucos mais e 100 megawatts adquiridos da Venezuela não
seriam suficientes para abastecer Roraima pelo resto da vida. Mas nenhum
proeminente foi capaz de prevê que a desgraça um dia viria. E veio.
Estamos vivendo hoje talvez os dias mais abstrusos de nossas vidas,
porque está certificado que o colapso total se dará em breve. É só uma
questão de dias porque a Venezuela, quebrada, vivendo uma catástrofe,
não consegue mais nos sustentar. E a construção de usinas térmicas que
foram anunciadas como a libertação temporária, não passam de uma grande
mentira.
Trinta anos
vivendo em Roraima jamais senti tanta insegurança, tanta dúvida, diante
das improbabilidades de que o saneio da questão energética virá nos
próximos dias, nos próximos meses, sei lá, daqui há anos. Pude sentir
ontem que o ódio é o cão raivoso que ataca o próprio dono. Me vejo em
Roraima dos anos 80 quando a falta de energia elétrica não causava
tantos transtornos, porque naquela época a resignação não atormentava as
pessoas, não produzia odiosidade. Porque não havia expectativa e nem
saídas, ou seja, o conformismo produzia calma suficiente na população,
porque diante de qualquer saída provável para o problema, havia a
certeza de que nada seria resolvido. E tudo se decidia com um pequeno
gerador de energia ou meia dúzia de velas.
O problema
da falta de energia em Roraima não é estrutural, é de vergonha mesmo.
Dinheiro existe, o que falta é comprometimento e vontade política. Os
proeminentes que dominam Roraima só se apercebem que os problemas são
reais quando pessoas são vitimadas. É como se estivessem regendo uma
fanfarra desafinada, porque desde a elevação a condição de Estado,
Roraima sofre o revés dos os grupos dominantes que agem em amparo aos
seus próprios desejos. Nunca, nessas duas décadas, houve coletividade,
aderência em torno de uma causa.
Os apagões
continuarão causando angustia e agonia em todos nós, porque não há um
projeto que possibilite uma matriz energética capaz de gerar energia
segura e confiável para Roraima nos próximos 3 anos. E a tão sonhada
linha de transmissão que viria de Manaus, interligando o Estado ao
sistema de distribuição nacional, através da Hidrelétrica de Tucuruí, no
Pará, não passa de uma quimera, de um devaneio, uma ilusão e nada mais.
Até que
emergiu um sonho em todos nós quando no ano passado partiu em direção a
Brasília um verdadeiro cortejo, que tinha de governador a síndico de
condomínio e numa entrada triunfal obteve respostas positivas para a
questão energética roraimense, levantando o entusiasmo em todos quando
foi dito que o “Linhão de Tucuruí” viria. Não veio. E apesar das
licenças, das anuências, e até da palavra da presidenta da República,
fomos achatados, derrotados por meia dúzia de índios. NÃO!!! O problema
não é estrutural. Os apagões que testemunhamos ontem são a confirmação
de que esse é apenas um problema de conjuntura. Se o problema fosse
mesmo estrutural teria tido apenas um único apagão.

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