quinta-feira, 26 de julho de 2007

Artigo

SOLUÇÕES DE SEMPRE

Márcio Accioly

Na cerimônia de posse do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS), o presidente Dom Luiz Inácio fez revelação digna do conselheiro Acácio: “-Não é segredo para ninguém que temos uma crise no setor aéreo”. Não fosse sua excelência e poucos tomariam conhecimento de tão excepcional fenômeno.

Claro que o desconhecimento de tal crise era generalizado. Fosse por conta da inércia do então ministro da Defesa, Waldir Pires, “O Lento”, ou por conta de solenidade acontecida um dia depois do acidente da TAM (ceifando a vida de umas 200 pessoas), quando a Aeronáutica condecorou dois dirigentes da Anac.

Por sinal, um dos dirigentes da Anac, seu presidente, Milton Zuanazzi, foi “contemplado”, inclusive, com comentário demolidor do presidente da ANDEP – Associação Nacional em Defesa dos Passageiros em Transporte Aéreo -, Cláudio Candiota Filho, que disse o seguinte:
“-O presidente da Anac não sabe a diferença entre um avião e uma galinha.”

Zuanazzi, que está no cargo por obra e graça da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, de quem é amigo, apenas se delicia nas mordomias de modelo adotado desde que os portugueses passaram por aqui, em 1500, e resolveram instituir um Estado com a vinda de D. João VI (1807), no qual a corrupção é o maior sustentáculo.

Ainda bem que o presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP) colocou o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim na Defesa. Ex-presidente do STF – Supremo Tribunal Federal (2004-06), sua excelência é conhecido pela rigidez de suas decisões e pela ênfase na ordem constitucional.

Há alguns meses, declarou ter inserido na Constituição artigos que não foram votados pelo plenário, mas que teriam de constar na nossa Carta Magna. Indicado pelo então presidente, FHC (1995-2003), para o Supremo, era chamado de “líder do governo no STF”, evidentemente por inveja ou despeito de adversários.

Foi ele quem impediu a quebra dos sigilos do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Dom Luiz Inácio. Por conta disso, ficamos sem saber como Okamotto pagou as contas do presidente da República, em denúncia não apurada pela CPI dos Bingos.

Quando diplomado pelo TSE, no ano de 2002, o presidente da República chorou igual a bezerro desmamado, abraçado ao ministro Jobim que, à época, era presidente daquele Tribunal. Foi tudo muito emocionante.

De maneira que da mesma forma que foi apontado como defensor de FHC, “O Entreguista”, viu-se também acusado de favorecer Dom Luiz Inácio.

Tudo isso porque tomou decisões polêmicas. Como aquela em que concedeu liminar, em 2005, impedindo “a abertura de processo contra seis petistas no Conselho de Ética da Câmara”, no auge da crise do mensalão.

Mas o que nos deixou mais tranqüilos foram as declarações da ministra Marta “Relaxa e Goza” Suplicy (Turismo). Ela garantiu que “o presidente mudou muito, além do ministro”. E aproveitou para assegurar “não ter responsabilidade sobre a crise aérea”, pois “não está na esfera” do seu Ministério.

O que temos observado é que ainda se procura saber quem são os responsáveis pela atual crise aérea, agora descoberta, pois a grande maioria de nossas “autoridades” tem negado qualquer vínculo com a questão nos seus pronunciamentos.

É incrível a capacidade de se furtar (epa!), ou de se esquivar aos deveres, exibida pelos nossos dirigentes, mesmo desfrutando de todas as benesses dos cargos públicos.

E-mail: accioly@tba.com.br

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