As mesmas “autoridades” vão continuar
Por MÁRCIO ACCIOLY
Ao se falar em gargalo no sistema aéreo brasileiro, é necessário tomar consciência de que o país já possui vários desses gargalos em diversas áreas. O que se faz é tão somente sedimentar as condições para o surgimento de um milagreiro.
Mais cedo ou mais tarde, ele surgirá: seja no molde de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, ou de Edir Macedo, comandante da Igreja Universal (com grande intimidade com o Criador), ou ainda no de Fernandinho Beira-Mar, com vários admiradores e seguidores ocupando espaços nos três poderes da República.
A ressonância da crise no setor aéreo só está sendo possível porque atinge às classes médias. Imprensada entre o favorecimento às elites (na entrega das riquezas nacionais a bancos e financistas), e a distribuição de bolsas-esmolas que concentra forte apoio eleitoral da mundiça, elas estão sendo, agora, literalmente dizimadas.
Mas quem quiser ter visão exata do que é o Brasil, compareça aos seus prontos-socorros. Ou às suas escolas de ensino fundamental. Converse com professores lotados na rede escolar do interior do país. Vá a rincões desabastecidos, onde milhões e milhões, na trilha de exemplo presidencial, jamais abriram um livro.
Verifique as estradas, nas quais o número de mortos, por conta dos buracos, falhas, ausência de sinalização, corrupção e negligência, coloca o Brasil em primeiro lugar mundial, imbatível. Na olimpíada de matança, não há quem nos surrupie o bastão de comando.
Sem esquecer que o país se encontra num estado de guerra civil ainda não declarado. As classes médias alienadas e preconceituosas preferem fazer chiste, pilhéria, embora não consigam mais circular em nenhuma de suas principais capitais sem correr o risco de ser assaltado e/ou morto.
Em Pernambuco, os médicos do serviço público estadual estão pedindo reajuste salarial que o Estado informa não ter condições de conceder. Um profissional de tal categoria, que passa a maior parte de sua vida se especializando e estudando, chega a atender 100 pessoas num plantão de 12 horas, ganhando dois mil e 161 reais mensais.
Parece estar se aproximando o instante de explosão sem limites. Qualquer dia desses a estrutura podre irá se desmontar. Que fazer? O sistema de saúde, que o presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP) afirmou estar perto da total perfeição, vive clima de indizível desastre.
E onde estão as ferrovias que há alguns anos conduziam milhares de passageiros pela Rede Ferroviária Federal? E as providências para o setor elétrico, cujo próximo apagão já tem data e hora marcadas?
Vivemos num país de faz-de-conta, onde a prédica é convincente e dignificante, mas a prática é a mesma observada num bordel. Temos juízes vendendo sentenças, pilhados, mas não punidos. Parlamentares vendendo a alma ao demônio, gozando imunidade ampla e irrestrita.
Temos “autoridades” flagradas em desvios de recursos públicos, que são remetidas a foro especial com a certeza absoluta de que escaparão sãs e salvas. A história do Brasil é livro aberto de desmazelo e patifaria.
Os mesmos personagens se repetem ad aeternum, impingindo a segurança da indecência irrestrita. Diante da necessidade de respostas a tão graves problemas, quem comparece? Os suspeitos de sempre, envolvidos em desonrosos procedimentos.
Não há como traçar cenário alvissareiro, quando se tem a impressão de ser caça. Estamos cercados de predadores. Insensíveis abutres que nos enxergam como carniça.
Márcio Accioly é Jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário