Por NEURACI SOARES
Um documento publicado pelo Vaticano, na semana passada, afirmando que a Igreja Católica é, sempre foi e será a única igreja de Cristo está gerando uma grande discussão em todo o mundo. Em Roraima, onde a Igreja Católica tem um trabalho ecumênico tradicional, em especial com a Igreja Luterana, o bispo Roque Paloschi alegou que prefere não se posicionar antes de receber um documento oficial de Roma.
Segundo parte do texto do documento do Vaticano, “Cristo constituiu sobre a terra uma única igreja e instituiu-a como grupo visível e comunidade espiritual, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá”.
Na seqüência, o documento destaca que “esta igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele”.
Mas a posição do Papa Bento XVI não é unanimidade nem mesmo na igreja que ele governa. Em Roraima, a Igreja Católica busca uma convivência harmônica e até mesmo cooperativa com a Igreja Evangélica, a exemplo, a realização da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que acontece todos os anos antes do período da Quaresma.
Até mesmo a programação da Rádio Católica de Roraima, FM Monte Roraima, abre espaço para programas evangélicos da Igreja Luterana. Sobre a declaração do Papa Bento XVI, a comunidade evangélica do Estado é unânime em afirmar que ele foi no mínimo infeliz com a afirmação. Segundo os pastores, essa visão retroage a história da Igreja Católica.
O pastor presidente da Igreja Batista Missionária de Roraima, Clodoaldo Vieira, disse que as declarações contidas no documento publicado pelo Vaticano não passam pelo crivo das Sagradas Escrituras, já que não existe nenhum texto bíblico que apresente uma religião como única.
“Acredito que o Papa Bento XVI foi no mínimo infeliz com sua declaração e não passa de religiosidade a visão que ele apresenta. Imagino que ele ou outro líder da Igreja Católica em nome dele [Papa] irá pedir desculpas por essa declaração, como já aconteceu em tempos passados em relação à influência desta igreja na 2ª Guerra Mundial e o período da Inquisição”, destacou o pastor Clodoaldo.
O pastor da Assembléia de Deus, Rosival Soares, disse que o Papa quando se levanta frente ao mundo declarando que a religião Católica é a religião de Deus declara insegurança frente ao crescimento dos evangélicos que adentram os professos católicos.
“O Papa é infeliz quando afirma que Lutero e seus seguidores estão doentes. Esta enfermidade já foi sarada quando do rompimento com as práticas idólatras dantes vividas sob a orientação papal. Há uma intenção muito clara por parte do Vaticano em criar uma animosidade entre católicos e evangélicos que convivem em paz e respeito mútuo”, destacou o pastor Rosival.
O líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus, pastor Adriano Donizete, também afirma ser infeliz a declaração do Papa, destacando que não está escrito na Bíblia que a Palavra de Deus pertence a uma única igreja.
“Vemos essa atitude como um ato de desespero, mas isso não nos preocupa. Até porque cremos que no céu não existe placa com nome de igreja [denominações]. A nossa única preocupação é com relação aos extremistas que podem utilizar uma declaração dessa como base para criar embates mundo afora”, enfatizou o pastor Donizete.
Folha de Boa Vista, online, de hoje
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