Por Leonardo Souza e Fernando Rodrigues, na Folha Online
O jornalista Amaury Ribeiro Jr. não estava a serviço do diário “Estado de Minas” quando encomendou e, segundo a Polícia Federal, pagou pela violação dos dados fiscais de parentes e pessoas próximas ao candidato José Serra (PSDB), segundo cruzamento de informações obtidas pela Folha com a investigação.
Amaury fez parte do “grupo de inteligência” da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT). Conforme a Folha revelou em junho, os dados fiscais sigilosos dos tucanos foram parar num dossiê que circulou entre pessoas do comitê dilmista. Em depoimento à PF, o despachante paulista Dirceu Garcia admitiu que recebeu R$ 12 mil em dinheiro vivo das mãos de Amaury para comprar as declarações de renda das pessoas próximas a Serra.
De acordo com registros trabalhistas, Amaury foi contratado pelo “Estado de Minas” em setembro de 2006. No dia 25 de setembro de 2009 saiu em férias por um período que iria até 14 de outubro. No dia 15 do mesmo mês, quando teria de voltar ao trabalho, pediu demissão e deixou o jornal, sem aviso prévio.
De acordo com o depoimento do despachante Garcia, Amaury lhe encomendou os documentos fiscais dos tucanos no final de setembro. No dia 8 de outubro, Amaury saiu de Brasília e foi a São Paulo buscar a papelada. O pagamento foi feito em dinheiro vivo no banheiro do bar Dona Onça, na avenida Ipiranga. Ou seja, quando encomendou e desembolsou o dinheiro pelo serviço, Amaury não estava a serviço de “Estado de Minas”, apesar de no papel manter vínculo com a empresa.
Segundo a Folha apurou com pessoas envolvidas na investigação, o jornal bancou formalmente as viagens de Amaury até agosto de 2009. Em outubro, suas passagens de avião foram pagas em dinheiro vivo. Em entrevista coletiva ontem, a PF havia divulgado apenas que Amaury mantinha vínculo empregatício com “Estado de Minas”, sem informar que estava em férias quando houve o pagamento pela compra dos documentos. A PF também havia informado que os deslocamentos do jornalista tinham sido pagos pelo diário mineiro, mas sem mencionar datas.
Em depoimento à PF, Amaury confirmou que conhecia o despachante Garcia e que teria lhe encomendado buscas em juntas comerciais, mas não de documentos sigilosos. Desconversou também sobre a forma de pagamento pelos serviços. O jornalista também afirmou que iniciou seu trabalho de investigação contra Serra e aliados quando era funcionário do jornal “Estado de Minas”, para “proteger” o ex-governador tucano Aécio Neves, que à época disputava internamente no PSDB a candidatura à Presidência.
Aécio Neves e PSDB divulgaram notas ontem pelas quais negaram envolvimento com o episódio. A campanha de Dilma usou a ligação de Amaury com o jornal mineiro, próximo politicamente de Aécio, para tentar afastar o envolvimento do PT com o caso.
Comentário de Reinaldo Azevedo
A PF jogou informações no ventilador para tentar confundir a opinião pública em vez de explicar o que aconteceu. Por quê? Porque o objetivo era tirar o PT do foco, como Lula anunciou que aconteceria, ainda que com outras palavras, e transformar esta esdrúxula figura — o ex-jornalista Amaury, atual funcionário do moralista Edir Macedo — num problema “tucano”.
De todas as tramóias do governo Lula para NÃO investigar um malfeito, esta foi, sem dúvida, a mais indecente, a mais indecorosa. Nas outras, sempre se notou a tentativa de tirar o corpo fora, de garantir a impunidade, com acusações genéricas: “Todo mundo faz; todo mundo é assim”. Desta feita, a coisa é diferente: decidiu-se culpar a vítima mesmo. Sem medo de ser feliz — e sem vergonha, como é do feitio da turma.
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