Frei Betto
Orar é entrar em sintonia com Deus. Há muitas maneiras de fazê-lo, e não se pode dizer que esta é melhor que aquela. Há orações individuais ou coletivas, baseadas em fórmulas ou espontâneas, cantadas ou recitadas. Os salmos, por exemplo, são orações poéticas, das quais cerca de cem expressam lamentação e/ou denúncia, e cinqüenta, louvor.
Orar é entrar em relação de amor. Como ocorre entre um casal, há níveis de aprofundamento entre o fiel e Deus. Uns oram como o namorado que fala demais no ouvido da namorada. Como se Deus fosse surdo e burro.
Jesus sugeriu não multiplicar as palavras. Deus conhece os nossos anseios e necessidades. O próprio Jesus, narra o Evangelho, gostava de retirar-se para lugares ermos para entrar em oração. “Jesus foi para a montanha a fim de orar. E passou toda a noite em oração a Deus”.
Na oração, é preciso entregar-se a Deus. Deixar que ele ore em nós. Se temos resistência à oração é porque, muitas vezes, tememos a exigência de conversão que ela encerra. Parar diante de Deus é parar diante de si mesmo. Como num espelho, ao orar, vemos o nosso verdadeiro perfil — dobras do egoísmo realçadas, mágoas acumuladas, inveja entranhada, apegos enrijecidos.
Orar é deixar-se amar por Deus. É deixar o silêncio de Deus ressoar em nosso espírito. É permitir que ele faça morada em nós. Centrado em Deus, o orante descentra-se nos outros, e imprime à sua vida a felicidade de amar porque se sabe amado.
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