Francisco Espiridião
Quando fui lavar a louça do café da manhã de hoje - e a remanescente do jantar de ontem -, notei que a esponja estava um tanto caída. Joguei-a fora e fui à despensa pegar uma nova.
Ao ter a dita nas mãos, veio-me um questionamento que só passa pela cabeça de quem não tem o que fazer: por que a esponja vem em invólucro de plástico? Ih, pior ainda. Por que a própria esponja tem de ser de plástico?
Olhei em redor. Vários objetos de plástico. Tudo é de plástico. Até o banquinho que uso para ficar em condição cômoda enquanto arrumo as coisas no armário da despensa é de plástico. Tudo descartável.
E as cadeiras, quem diria, todas de plástico. Como tenho massa corporal um tanto avantajada (não me chamem de gordo!), de vez em quando uma perde as pernas. E eu, é claro, me estatelo no chão.
Tudo culpa de “Sir” Alexandre Pakers, o inglês que iniciou os estudos com o nitrato de celulosa, um tipo de resina que ganhou o nome de "Parkesina", ainda na segunda metade do século XIX (que delícia é o Google!).
O plástico, tal como hoje conhecemos, só vai se popularizar a partir dos anos 60 do século passado. Na minha infância - e lá se vão mais de 10 anos -, a novidade não era chamada de plástico. Tinha o nome pomposo de “matéria plástica”.
– De que é feito isso aí, menino?
– De matéria plástica.
E eram raros os objetos confeccionados em matéria plástica. Se alguém dissesse que um carro continha matéria plástica em seus componentes era o fim do mundo.
– Como pode? Isso não é verdade!
Pode sim. Hoje, não é mais conveniente falar em lataria de carros. E sim, em “plasticaria”. (Sim, eu sei que essa palavra não existe como substantivo, mas me dou o direito de criar o neologismo. Magri não criou o “imexível”?).
Naquele tempo, os carros eram feitos de chapas de ferro. Taí o J. Pavanni, que não me deixa mentir. Calma! O Pavanni não tem a mesma idade que eu. É um garotão. É que ele é dono de uma relíquia que é ferro puro. O invejável Jipão Willys, do tempo da guerra. Dinheiro grande e vivo nas mãos.
Antes, era comum passar em nossa porta um mascate comprando “cascos” vazios. Explico: garrafas de refrigerante, cerveja etc. Tudo de vidro. As verdes eram mais caras. Hoje, imperam as garrafas Pet, que se não forem usadas pelo pessoal do Projeto Crescer, vão ficar entulhadas em algum canto do Planeta, prejudicando o meio ambiente. Ou seria o ambiente por inteiro?
É... O mundo se modernizou. A exemplo de nossos relacionamentos, tornou-se de plástico. Descartável. Até o casamento, imagine! A idéia de separação é item imprescindível no enxoval da noiva. E do noivo (ih, já disse isso em outra crônica).
Não é de se admirar que, mesmo criando o celular para encurtar distâncias, o ser humano esteja cada vez mais distante um do outro. Hoje ninguém mais tem tempo para ouvir o outro. Ao encetar uma conversa, vem logo a pergunta, ainda que de forma tácita:
– Quanto é que eu levo nisso?
É o resultado da vida de plástico. O importante é o aqui, o agora. Não dá mais para perder tempo com essa história de espírito. Mas o pior não está no aqui, no agora. Lá na frente existe uma curva. E as lágrimas serão cruéis.
Vida de plástico, ora bolas...
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